Capítulo XIX

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Minha irmã chegou para almoçar comigo.

O dia estava muito quente e o que me chamou a atenção foi o facto dela estar a usar uma blusa de mangas.  Resolvi não questionar e ver o andar da conversa.

- Mana, eu sei que se passa algo contigo.  Eu e os pais estamos aqui para te ajudar,  mas precisamos saber o que se passa.

- Eu não quero preocupar ninguém e se o Vítor sabe que eu vos disse alguma coisa, é bem pior.

- E como te vamos ajudar se não nos contas?  Ele é agressivo contigo?

- Até ontem eram só palavras, mas ontem ameaçou bater-me.

- Ameaçou ou bateu mesmo?  Porquê essa blusa num dia tão quente?

- Ele segurou os meus braços com força e machucou.

- Mostra.

Raffaela arregaçou as mangas um pouco e os braços tinham nódoas negras.

- Eu mato esse canalha.

- Rodolffo eu não quero que ninguém se intrometa.  Ele ameaça todo o mundo.  A ti, aos pais e agora até à Rita e Juliette.

- E vais deixar assim mesmo.  Larga desse animal.  Desde quando isso acontece?

- Há menos de um ano.  Tu sabes que eu não trabalho porque ele não quis e sempre que eu peço dinheiro ele grita e xinga que não é banco.  Diz que os negócios não andam bem e não tem dinheiro.

- Tu e a Bárbara estão a passar necessidades?

- Não faltou comida ainda, mas tem outras coisas que eu não consigo comprar.
Desconfio que ele gasta o dinheiro todo e anda por caminhos ruins.

Quando chega a casa vem sempre com um cheiro esquisito.  Eu acho que ele começou a consumir droga.  Por vezes parece alucinado.

- A Bárbara assiste a isso?

- Eu tento esconder dela, mas eu acho que ela já percebeu.

- Sai de casa.  Vai ficar lá nos pais com a Bárbara.

- Tenho medo da reacção dele.

- Faz uma denúncia.  Pede ajuda às autoridades.

- Tu sabes que no bar ele conhece todo o mundo.  Eu não confio nas autoridades.

- Alguma vez ele te violentou?

- Quando ele chega alucinado e quer sexo eu recuso, mas depois cedo com medo dele.

- Eu vou apresentar queixa dele.

- Não faças isso, Rodolffo.  Eu não quero ninguém machucado por minha causa.

- Eu vou,  irmã, mas tens que me prometer que não a vais retirar.

- Eu vou Rodolffo.  Eu quero resolver o assunto sem interferência de ninguém.

- Como vais resolver o assunto?

- Hei-de arranjar uma maneira.
E tu e a Juliette como estão?

- Hoje mudo-me para casa dela.  Não só porque quero muito, mas porque mora lá perto aquele amigo do Vítor e eu não vejo boa coisa a vir dali.

- Eu acho que foi desde que eles se conheceram que as coisas desandaram.

- Tu achas que o Vítor vai a casa dele fazer o quê?

- No início ele só ia às sextas feiras antes do bar abrir.  Agora eu acho que vai também durante a semana.  Um dia destes deixou escapar.
Desconfio que o fulano lá é que lhe fornece a droga e ele comercializa no bar.  Não sei, é só uma suposição.

- O tráfico dizem que gera muito dinheiro, como ele diz que não tem?

- Não sei.  Eu nem tenho acesso à nossa conta bancária.

- Ai mana!  No que te tornaste.

Estivemos à conversa mais um pouco, mas ela tinha que ir embora pois se ele acordasse ela deveria estar em casa.  Ela só podia sair de manhã até meio da tarde que era quando ele dormia.

Dei-lhe algum dinheiro que ela não queria aceitar e partiu.

Depois da tormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora