Capítulo XIII

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Enquanto a minha mãe tratou da Rita eu fui tomar um banho e colocar a minha bicicleta no carro.

Rita esperava por mim na entrada da cozinha.  A minha mãe tinha preparado um sumo e bolo e ela estava a comer.

Raffaela estava sentada na mesa da cozinha e resmungava com a mãe.

- Estás a ver?  Quando é que o Rodolffo deixou de passar o sábado connosco?  Foi só aparecer esta pirralha para tudo mudar.  Miúda feia e insuportável.

Dizia estas anormalidades olhando para a criança e Rita que de parva não tem nada olhava olhos nos olhos para ela.

- Estás a olhar para onde, feia?

- Raffaela,  estás a ser má e sem noção.   É só uma criança.

Laurinha veio ter com Rita e levou-a para fora.

- Não ligues.  Ela só está chateada.

- Comigo?  Eu não fiz nada. - Os olhos de Rita estavam brilhantes.  Ela tentava conter as lágrimas e Laurinha colocou-a no colo e encostou-a ao peito.

- Tio, quero ir embora, disse ela quando Rodolffo chegou.

- Mãe, porque é que ela está a chorar?

- Deixa.  Já passa.

- A mãe da Bárbara diz que sou feia e insuportável, disse Rita.

- Dá um beijo na vó Laurinha e vamos passear os dois.

- Mãe, controla a tua filha ou eu mudo-me daqui.  Nunca mais eu ficarei no mesmo espaço que ela.

- Tem calma filho.  Adeus Ritinha.

Coloquei a Rita no carro e fomos embora.  Levei-a a almoçar à Praia das maçãs, visitámos a Ericeira e por fim fomos ao Sobreiro visitar a mini aldeia.

Eu só queria que ela esquecesse o que tinha acontecido lá em casa e ela parecia-me muito feliz.

Passámos por Mafra, ela ainda não entende a grandiosidade dos monumentos,  mas achou o convento muito lindo por fora.

- E quantas pessoas moram aqui?  Isto é mesmo grande.

Demos a volta ao contrário e fomos  ver as grandes ondas da praia do Guincho, mas estava muito vento e não saímos do carro.

Como já se fazia tarde fizemos o caminho de regresso a Cascais sempre à beira mar.

Passei na fábrica da Bete, mas já não estava ninguém.   Encomendei o jantar num restaurante perto da casa dela e fomos embora.

Tinha acabado de tomar banho quando os dois chegaram.
Rita vinha eufórica e começou logo a contar onde foi e o que fez.

Eu escutava tudo e felizmente não mencionou o episódio lá de casa.  Esse quero ser eu a contar.

Juliette olhava para mim como que a perguntar,  porquê esse passeio. Não era para ficar na quinta?

Eu fiz sinal que depois contava e elas continuavam a falar.
Rita contava tudo atabalhoado. Não sabia dizer os nomes das terras onde passou e eu ia ajudando a construir a história.

Saí para ir buscar o jantar e confesso que tive medo de as deixar sós e Juliette perguntar alguma coisa.

Não foi preciso perguntar.  Assim que eu saí, Rita disse à mãe.

- Não quero mais ir com o tio a casa dele.

- Porquê filha?  Não gostaste do passeio?

- Do passeio gostei muito.  Da Bárbara e da vó Laurinha também,  mas a mãe da Bárbara disse que eu sou feia e insuportável e eu chorei.

- Tu não és feia, meu amor.  Nem insuportável.   Ela é que deve ser.
O Tio fez o quê?

- O tio levou-me a passear.

- A mãe depois fala com o tio.  Tu gostaste do teu dia, não foi?  Isso é que é importante.

- Gostei muito.  Se o tio ficasse connosco é que era bom, mas depois eu não via o Ciclone.

Voltei com o jantar e pela cara da Juliette calculei logo que a filha tinha comentado algo sobre o assunto.

- Qualquer coisa que ela tenha contado eu quero conversar contigo a sós, está bem?

- Está.  Vamos lá jantar.

Depois da tormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora