Enquanto a minha mãe tratou da Rita eu fui tomar um banho e colocar a minha bicicleta no carro.
Rita esperava por mim na entrada da cozinha. A minha mãe tinha preparado um sumo e bolo e ela estava a comer.
Raffaela estava sentada na mesa da cozinha e resmungava com a mãe.
- Estás a ver? Quando é que o Rodolffo deixou de passar o sábado connosco? Foi só aparecer esta pirralha para tudo mudar. Miúda feia e insuportável.
Dizia estas anormalidades olhando para a criança e Rita que de parva não tem nada olhava olhos nos olhos para ela.
- Estás a olhar para onde, feia?
- Raffaela, estás a ser má e sem noção. É só uma criança.
Laurinha veio ter com Rita e levou-a para fora.
- Não ligues. Ela só está chateada.
- Comigo? Eu não fiz nada. - Os olhos de Rita estavam brilhantes. Ela tentava conter as lágrimas e Laurinha colocou-a no colo e encostou-a ao peito.
- Tio, quero ir embora, disse ela quando Rodolffo chegou.
- Mãe, porque é que ela está a chorar?
- Deixa. Já passa.
- A mãe da Bárbara diz que sou feia e insuportável, disse Rita.
- Dá um beijo na vó Laurinha e vamos passear os dois.
- Mãe, controla a tua filha ou eu mudo-me daqui. Nunca mais eu ficarei no mesmo espaço que ela.
- Tem calma filho. Adeus Ritinha.
Coloquei a Rita no carro e fomos embora. Levei-a a almoçar à Praia das maçãs, visitámos a Ericeira e por fim fomos ao Sobreiro visitar a mini aldeia.
Eu só queria que ela esquecesse o que tinha acontecido lá em casa e ela parecia-me muito feliz.
Passámos por Mafra, ela ainda não entende a grandiosidade dos monumentos, mas achou o convento muito lindo por fora.
- E quantas pessoas moram aqui? Isto é mesmo grande.
Demos a volta ao contrário e fomos ver as grandes ondas da praia do Guincho, mas estava muito vento e não saímos do carro.
Como já se fazia tarde fizemos o caminho de regresso a Cascais sempre à beira mar.
Passei na fábrica da Bete, mas já não estava ninguém. Encomendei o jantar num restaurante perto da casa dela e fomos embora.
Tinha acabado de tomar banho quando os dois chegaram.
Rita vinha eufórica e começou logo a contar onde foi e o que fez.Eu escutava tudo e felizmente não mencionou o episódio lá de casa. Esse quero ser eu a contar.
Juliette olhava para mim como que a perguntar, porquê esse passeio. Não era para ficar na quinta?
Eu fiz sinal que depois contava e elas continuavam a falar.
Rita contava tudo atabalhoado. Não sabia dizer os nomes das terras onde passou e eu ia ajudando a construir a história.Saí para ir buscar o jantar e confesso que tive medo de as deixar sós e Juliette perguntar alguma coisa.
Não foi preciso perguntar. Assim que eu saí, Rita disse à mãe.
- Não quero mais ir com o tio a casa dele.
- Porquê filha? Não gostaste do passeio?
- Do passeio gostei muito. Da Bárbara e da vó Laurinha também, mas a mãe da Bárbara disse que eu sou feia e insuportável e eu chorei.
- Tu não és feia, meu amor. Nem insuportável. Ela é que deve ser.
O Tio fez o quê?- O tio levou-me a passear.
- A mãe depois fala com o tio. Tu gostaste do teu dia, não foi? Isso é que é importante.
- Gostei muito. Se o tio ficasse connosco é que era bom, mas depois eu não via o Ciclone.
Voltei com o jantar e pela cara da Juliette calculei logo que a filha tinha comentado algo sobre o assunto.
- Qualquer coisa que ela tenha contado eu quero conversar contigo a sós, está bem?
- Está. Vamos lá jantar.
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Depois da tormenta
Fanfiction...onde houver escuridão, que se faça luz, onde houver ódio, que renasça o amor...