Capítulo XVIII

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Segunda feira.

Juliette chegou ao escritório e verificou o trabalho do dia.  Como não tinha nenhuma reunião marcada resolveu sair e ir tratar de um assunto que não lhe sai do pensamento desde ontem.

Deslocou-se à esquadra da PSP, cujo comandante era seu conhecido e pediu para ser recebida.

O comandante Costa logo a recebeu no seu gabinete.

- Bom dia doutora.   Tão cedo?  O que a trás por cá.

- Hoje venho não como advogada, mas como uma simples cidadã.

- Então diga.  Aceita um café?

- Se não for incómodo.

O comandante dirigiu-se à máquina e trouxe dois cafés.

Juliette explicou tintim por tintim ao que vinha e o comandante tomava notas.

Ao fim de algum tempo ela levantou-se para ir embora.

- Obrigada comandante pelo seu tempo.

- Disponha sempre doutora.

Voltei ao escritório  e segui com o meu dia normal.

Rodolffo ligou à hora de jantar para falar com a Rita e eu pedi para ele me ligar mais tarde quando eu já estivesse livre de tarefas.

- Mãe, porque o tio não veio hoje?  Agora são namorados.

- Mas os namorados não ficam todos os dias na casa das namoradas.
Só os casados é que ficam juntos na mesma casa.

- Ai é?  Só os casados?  Eu quero ligar ao tio, posso?

- Mas falaste agora mesmo com ele.

- Mas eu quero dizer uma coisa que eu não disse.

Juliette fez a ligação.

- Aconteceu alguma coisa para estares a ligar?

- Não.  A Rita diz que tem uma coisa que não disse.
Vou-lhe passar.

- Diz minha filha.

- Filha?  Ó tio.  Eu quero que tu durmas sempre aqui.  A mãe diz que só os casados dormem sempre na mesma casa, então tu e a mãe têem que ser casados.

- RITA!!!

- O que foi, mãe.  Tu disseste.

- Desculpa, Rodolffo.   Esta miúda está muito abusada.  Depois conversamos que eu preciso falar com ela.

- Deixa só eu dar-lhe tchau.

- Ritinha, amanhã vou aí e conversamos está bem?

- Tá.  Agora já sei que vou levar bronca da mãe.

- Diz à mãe que eu disse para não dar bronca. Tchau.

- Rita, não podes dizer essas coisas.  Isso são assuntos de adultos.

- Oh mãe.   Eu sou pequena,  mas um dia o tio dorme aqui, no outro dia não,  hoje não veio, amanhã diz que vem.  Ele chamou-me filha, eu tenho uma vó e não tenho pai.  Isso é muito confuso.

- Tu querias que ele ficasse sempre connosco?

- Queria.  E eu queria outra coisa, mas tu vais brigar comigo.

- Não vou não.  Vem cá para o meu colo e diz-me o que querias.

- Queria que o tio fosse o meu pai.  Na escola todos os meninos têem pai menos eu e o Artur.

Juliette apertou a filha contra o peito e deixou cair duas lágrimas.

- Mas tens uma mãe que te ama muito.  Agora vamos dormir que está na hora.

Juliette deitou a Rita e foi para o seu quarto.  Deitou-se e logo chegou a chamada de Rodolffo.

- Oi, amor.  Como está a Rita?

- Toda confusa.  Porque não tem pai, tu és tio, a tua mãe é vó, um dia dormes cá outro não.   Tadinha da minha menina.

- Queria estar aí para lhe dar um aconchego.  Eu disse-lhe que ia amanhã.

- Vem amanhã e depois, e depois.  Também já estou com saudades.

- Posso?  Eu queria tanto, mas não queria apressar as coisas por isso não pedi.

- Se lixe se não der certo.  É tentando que sabemos.

- Amanhã vou convidar a Raffaela para almoçar comigo.   Queres ir também?

- Prefiro que conversem os dois sózinhos.  Outro dia vamos os três.

- Então tá.  Vai dormir que é tarde.  Um beijo grande.

- Para ti também.  Desliga.

- Desliga tu primeiro.

Desliguei e fiquei abraçada à almofada que ainda tinha o cheiro dele.

Depois da tormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora