Capítulo V

69 11 7
                                    

Convidei Juliette para lanchar na praia da Duquesa em Cascais.   A princípio ela não quis aceitar, mas Rita fez o seu trabalho.

- Vamos, mãe.  Eu quero caracóis.

- Caracóis?  Tu gostas de caracóis?

- Eu adoro, tio Rodolffo.

- Então vamos comer caracóis.   Pode ser Juliette?

- Eu posso lá negar alguma coisa a esta pestinha?  Vamos lá aos caracóis.

Segui no meu carro atrás delas e finalmente chegámos à praia que estava cheia como habitualmente.

Ocupamos uma mesa da esplanada e  pedimos os famosos caracóis e alguns outros petiscos.

Ocupamos uma mesa da esplanada e  pedimos os famosos caracóis e alguns outros petiscos

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Os olhos de Rita brilhavam a olhar para a travessa dos pequenos moluscos.  A travessa ficou por conta dela e olhem lá que ela não teve grande dificuldade em devorá-los.

- Não sei a quem sai, disse Juliette enquanto observava a filha.

- Não gosta?

- Gosto, mas não é dos meus petiscos favoritos.  Prefiro uma salada de polvo.

- Eu também gosto de polvo.  De caracóis também.

- Deliciosos diz Rita.  Mãe, pedes pãozinho torrado e manteiga?
E ice tea de manga, por favor.

Ficámos ali por umas boas três horas.
Rita depois de comer foi até à areia que ficava a escassos metros da esplanada e nós ficámos a prosear sobre o nosso trabalho.

Rodolffo contou que era proprietário de uma imobiliária ali na vila. Juliette advogada num gabinete de advocacia.  Ambos conheciam os locais de trabalho um do outro mas por um acaso nunca se encontraram.

- E os bolos, onde ficam?

- Eu ajudo a Bete por ser minha amiga, mas porque também me dá jeito uma renda extra.  Sou sózinha com a Rita e as despesas são muitas.  Para lhe proporcionar uma vida dentro dos padrões que eu acho que ela deve ter, eu preciso desse extra. Além disso eu adoro a pastelaria.

- E o pai da Rita, não cumpre com as obrigações?

- Desapareceu assim que soube da gravidez.  Não quero vê-lo nem pintado.

- Mas a Juliette como advogada sabe que pode exigir que ele assuma as suas obrigações.

- Sei, mas não quero.  Para todos os efeitos ela não tem pai.  Para ela o pai morreu.

Mudei o rumo da conversa, pois  entendi que era um assunto não muito agradável para ela.

- Mãe, eu quero ir até à beira da  àgua.

- Ah, Rita!  Não me apetece nada sujar os pés de areia.

- Anda que o tio vai contigo.   Olhei para Juliette e encolhi os ombros.
- Estou de ténis, não entra areia.

Juliette ficou a observá-los de mão dada em direcção à àgua.
Por momentos teve pena pela filha não ter tido um pai.  Como seria diferente se ele a tivesse assumido e  não desaparecido.

Pegou no telemóvel e não resistiu.  Com eles de costas, tirou uma foto e instintivamente colocou-a como tela de bloqueio.

Há muito não tinha uma tarde de domingo tão agradável.  Desde que o pai da sua filha se foi embora nunca mais teve qualquer relacionamento.   Vivia exclusivamente para Rita e para o trabalho e hoje sentiu a falta que lhe fez uma boa conversa.

Não sabia nada da vida dele, mas hoje isso não interessava.  Eles só conversaram e se ele quisesse ela repetiria.

O que eu estou para aqui a imaginar,  pensou para si.  Ele é só uma pessoa simpática que quis agradar a uma criança.  Deve ter montes de raparigas atrás dele ou talvez seja casado.  Não chegamos a abordar o assunto.

Eles regressaram igualmente de mão dada e eu disse que estava na hora de irmos embora.

Trocámos os números de telefone, despedimo-nos, claro que Rita já tinha uma certa intimidade e abraçou-o.  Eu dei-lhe um beijo na face como faço com qualquer conhecido e lá fomos, cada um para seu carro.

Depois da tormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora