Capítulo IV

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Eu cheguei da minha voltinha matinal.  Andar de bicicleta era um dos momentos em que eu me esquecia de todas as coisas que me atormentavam.

Umas vezes eu saía com a bicicleta de montanha e outras com a de estrada.   Hoje fui dar a volta à região saloia. Malveira, Mafra, Torres Vedras, Ericeira  e por aí.

Almocei e depois peguei no carro para ir tomar um café à baía de Cascais.   O dia estava bonito e convidava a uma esplanada de praia.

Entrei na estrada Sintra/Cascais e pouco tempo depois avisto a placa Cabo da Roca, Lagoa Azul.

Imediatamente a imagem de Rita apareceu na minha frente e lembrei-me da nossa conversa.

Era domingo à tarde.  Talvez tivesse sorte delas estarem a fazer pic-nic.  Virei à direita e entrei na estrada da serra.
Estacionei e fiz o resto do percurso a pé até à lagoa.  Olhei em redor e não vi ninguém, mas ali não era o local mais indicado para estender uma toalha de pic-nic.
Subi um pouco mais e numa zona mais desprovida de arbustos, um local limpo, várias famílias conviviam.

Já estava com vontade de regressar quando ouço ao longe um "Tio Rodolffo ".

Olhei para onde vinha o grito e vejo-a vir a correr na minha direcção.  Segurei-a no colo e já a mãe vinha aflita atrás dela.

Fui até ela com a Rita pendurada no meu pescoço e a cara dela não era de satisfeita.

- Rita!  Não voltes a fugir de mim assim.

- Desculpa mãe, mas eu vi o tio e ele já ia embora.

- Desculpe.  Não queria causar esta situação.   Estava de passagem e lembrei-me que a Rita disse-me que vinham sempre aqui.

- Só fiquei assustada quando ela correu.

- Tio, vem para ao pé de nós.

- Não quero atrapalhar o vosso descanso.

- Não atrapalha.  Se não vier vou ter que aguentar esta pestinha a semana inteira.

- Tio, a mãe não quer que eu vá andar no Ciclone.

- Não foi isso que eu disse, Rita!

- Porque é que não quer?

- Não quero é incomodar.  Se eu deixar ela torna-se abusada e quer ir sempre.  Eu levo-a várias vezes ao hipódromo.

- Mas eu gosto do Ciclone.

- Está a ver?  Só o viu uma vez.  Os outros cavalos ela não se apegou assim.

- Mas podem ir sempre que quiserem.  A quinta não fica tão longe daqui.

- Eu conheço a quinta.  Só de passagem, nunca lá entrei.

- Está a ver?  Agora pode entrar e ver e a Rita anda no Ciclone.

- Talvez um dia.

- Dizes sempre talvez um dia e depois nunca vais.

- Ritinha, não sejas ingrata.  A mãe está sempre a fazer-te a vontade.  Agora mesmo estou aqui para te fazer a vontade.  Por mim estava em casa a descansar.

- A Rita diz que gosta de bicicleta.

- Sim.  Pratico cicloturismo amador, mas só sábado quando não tenho trabalho e domingo de manhã.

- Eu também.   Como nunca nos encontrámos?

- Não aconteceu.

- Eu muitas vezes venho para a serra.  A estrada tem muito trânsito.

- Na serra eu tenho medo de cair e ninguém me ajudar, mas uma vez ou outra também venho.

- Vamos combinar uma volta por aí os dois ou tem algum grupo?

- Não.  Geralmente ando sózinha.

- Desculpe, ainda nem perguntei o seu nome.

- Juliette.   O seu sei que é Rodolffo.   A Rita não cansa de falar em si.

- Espero que bem.

- É Tio Rodolffo e Ciclone o dia inteiro.

Rita estava na beira da lagoa a atirar pão aos patos.

- Cuidado, Rita!  Não te aproximes muito.

A tarde estava tão agradável.  Corria uma brisa que tornava o ar menos quente.  As copas dos pinheiros protegiam-nos do sol e o silêncio era quebrado pelo barulho das várias crianças ao redor.

Eu conversava com Juliette que não tirava os olhos da filha e dei-me conta de que há muito tempo não tinha uma tarde tão agradável.

Depois da tormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora