Capítulo XIV

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- Vamos lá conversar sobre o que aconteceu hoje, lembrando que um elemento da família não espelha a família inteira.

- Não gostei do que a Rita me contou e ela ainda pediu para não ir mais contigo.

- Sério que ela pediu isso?
Eu tive uma discussão com a Raffaela.   A Rita não ouviu porque estava na piscina com a Bárbara.

Não sei porque é que a Raffaela está de pé atrás contigo.  Diz ela que é por causa de um vizinho teu, amigo do marido dela.

Discutimos porque ela tem ciúmes da minha relação com a Rita.   Nem o marido tem assim com a filha, palavras dela e porque eu também não tenho.

Eu expliquei que a Bárbara quando criança não esteve perto de mim por eu morar em Lisboa.

Disse à minha mãe que não íamos ficar para o almoço e pedi para ela dar banho na Rita enquanto eu também tomava.

Quando voltei encontrei a Rita no colo da minha mãe a chorar e disse que foi a minha irmã que lhe chamou feia.

- E insuportável, e pirralha.

- Isso.  Saí dali com ela e passámos a tarde a passear.  Foi isso.

- A tua irmã tomou as dores do marido só porque eu não admito falta de respeito aqui no prédio.   É um chegar de homens e mulheres até altas horas com gritaria e música alta.  Deixa que da próxima a coisa vai piar fininho.

- Não quero que te machuques.  Pode haver alguém mais agressivo.

- Não me metem medo, mas se eu fosse a tua irmã em vez de tomar as dores do marido vinha ver o que ele faz naquelas noites.

- Eu não entendo a Raffaela.   Já disse à minha mãe que não fico lá quando ela estiver, mas eu não quero que este incidente cause problemas entre nós.

- Eu sei separar as àguas.

- Eu não vou voltar hoje.  Posso dormir aqui?
Trouxe a minha bicicleta para amanhã irmos dar uma volta, mas depois lembrei-me.  Onde deixas a Rita?

- Com a Bete.  Ela fica sempre a brincar com os filhos dela.  Podes dormir cá, sim.

- Obrigado, minha protectora.

- Mas estou fula da vida.  Ninguém mexe com a minha filha.
Para ela pedir para não ir mais contigo é porque está muito magoada.

- Vamos fazê-la esquecer o assunto.

- Ela esquece, mas eu não.
Não conheço os teus pais, então amanhã à tarde é um bom dia para me levares lá.

- Outro dia, Juliette.

- Não.   Amanhã ou nunca.  Eu não deixo nada para depois.  Almoçamos e vamos, sem mimimis.

- Eu não quero aborrecer a minha mãe.

- Nem eu.  Descansa que eu vou ser bem educada.

Eu fiquei bastante apreensivo.  Não conheço assim tão bem a Juliette para saber com o que posso contar.  Eu não quero brigas entre a minha família, mas não tiro a razão dela de querer enfrentar quem magoou a filha.  O pior é o que isso pode causar na minha mãe.
De certeza vai querer defender a filha e ficar contra nós.

Fomos dormir.  O clima estava tenso e apesar dos muitos beijinhos e carinhos não houve abertura para outra coisa.

Depois da tormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora