IV: Um rosto familiar, mas nem tanto

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"I'm just looking out the window and it's cold outside

There are two boys yelling behind me and I'm terrified

Counting trees as they pass me by

And I'm trying not to look across the aisle".


— Wheels On The Bus, Melanie Martinez.



A luz da manhã invade meu quarto, um lembrete suave de que é hora de começar um novo dia. Meu segundo dia na escola de Athens. Ainda estou me acostumando com a ideia de ser a nova garota, a estudante que todos olham com uma mistura de curiosidade e compaixão. Hoje, decido que vou mudar isso. Hoje, serei apenas Rory.

Visto minha camiseta favorita, fina de cetim, e uma calça jeans flere que já moldou ao formato do meu corpo. No espelho, dou um sorriso de encorajamento para a garota que me encara de volta. Ela parece pronta. Seus cabelos ruivos caem em ondas suaves sobre os ombros, e seus olhos azuis brilham com determinação.

O caminho até a escola é tranquilo, e eu me perco nos meus pensamentos. Pensamentos sobre minha família, sobre o incêndio... balanço a cabeça, tentando afastar essas memórias. Já faz um ano, mas às vezes parece que foi ontem. Hoje, decido focar em possibilidades, em novos começos.

Quando chego, a escola está agitada. Grupos de alunos se reúnem, conversando sobre o que fizeram na noite anterior ou sobre as tarefas que esqueceram de fazer.

— Cara, você viu o jogo ontem? — pergunta um garoto, animado, enquanto seus amigos assentem com entusiasmo.

— Claro! Foi incrível! O gol no último minuto... — responde o outro, e eles riem, dando soquinhos no ar como se revivessem a cena.

Eu passo por eles, uma observadora silenciosa, até chegar à minha sala.

A primeira aula do dia é história, e o Sr. Thomas, nosso professor, já está posicionado na frente da turma. Ele é um homem de meia-idade, com uma barba por fazer, cabelos grisalhos e um entusiasmo quase contagiante.

— Bom dia, classe! Hoje vamos embarcar numa jornada pelas civilizações antigas. Alguém aí já pensou em como seria viver naquela época? — Ele sorri, com os olhos azuis brilhando de expectativa.

A turma murmura, e uma aluna no fundo responde, com um sorriso irônico:

— Só se eu pudesse ser uma rainha egípcia!

O Sr. Thomas ri, animado.

— Ah, claro! E quem não gostaria? Imagine governar uma civilização, tomar decisões sobre guerra e paz... ou, quem sabe, desvendar mistérios que o tempo levou. — Ele faz uma pausa e olha para a turma. — Sabiam que muitas dessas civilizações nos deixaram enigmas que até hoje ninguém conseguiu decifrar?

Eu me inclino para frente, interessada.

— Professor, você acha que lugares pequenos, como Athens, também têm mistérios? — pergunto, a curiosidade falando mais alto.

Ele me lança um olhar atento, como se apreciasse a pergunta.

— Ótima questão, Rory. — Ele sorri. — Todos os lugares têm histórias, até os menores. E, quem sabe, alguns segredos também. Afinal, a história é feita de pessoas, e elas sempre deixam algo para trás... talvez até na nossa própria cidade.

Mystic Blood (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora