Mystic Blood (Em Revisão)

I: Bagagens incertas são seu novo começo

"Yesterday

All my troubles seemed so far away

Now it looks as though they're here to stay

Oh, I believe in yesterday".

— Yesterday, The Beatles.

— E então eu apaguei.

Continuei, sentindo o peso de cada palavra. Minha terapeuta, Dra. Elisa, me observava atentamente, seus olhos perscrutando os meus, como se tentasse ler cada pensamento que eu lutava para esconder.

Ela assentiu, incentivando-me a continuar. 

 — E o que aconteceu depois que você acordou?

Respirei fundo, tentando reunir os fragmentos daquela noite.

— Quando acordei, estava tudo escuro. Eu... eu não sabia onde estava. Só conseguia ouvir o som da minha própria respiração e... e o bater do meu coração — as palavras saíam trêmulas, refletindo a confusão que ainda habitava em mim.

— Você se lembra de como se sentiu naquele momento? — ela perguntou, sua caneta pausando sobre o bloco de notas.

— Assustada — admiti.

Dra. Elisa me deu um sorriso encorajador — Isso é ótimo, Rory. É importante reconhecer e aceitar todos os seus sentimentos. Eles são a chave para entender o seu caminho.

Ela estava certa.

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Respiro fundo, o ar frio da manhã preenche meus pulmões e traz um arrepio que percorre minha espinha. Estou de pé na frente do abrigo para jovens, uma mala velha ao meu lado, contendo tudo o que me restou. O céu está cinzento, as nuvens pesadas prometem chuva, e sinto uma gota fria deslizar pela minha bochecha, confundindo-se com as lágrimas que lutam para escapar.

O táxi para minha nova vida em Athens está atrasado. Os carros passando pela rua molhada criam um ritmo constante, mas meus ouvidos focam no silêncio que me aguarda. Não há despedidas calorosas, apenas olhares simpáticos dos funcionários e um aceno distante de outros jovens que, como eu, esperam por algo mais.

Finalmente, o táxi chega. O motorista, um homem de meia-idade com olhos gentis, ajuda-me com a mala e diz algo sobre o trânsito, mas suas palavras soam distantes. Estou focada na sensação do tecido do banco sob minhas mãos, na textura desgastada que conta histórias de incontáveis viagens e despedidas.

Conforme nos afastamos, observo o abrigo diminuir no espelho retrovisor, e uma sensação de liberdade misturada com medo se instala em meu peito.

A viagem é longa, e vejo a paisagem mudar pela janela. Campos dão lugar a florestas densas, e a chuva começa a cair com mais força, as gotas batendo no vidro em um ritmo hipnótico. Meus pensamentos vagam para o tio que nunca conheci, o homem que agora é minha única família. Quem é ele? Será que ele entenderá quem sou... ou o que eu sou?

Quando finalmente chegamos, o sol começa a romper as nuvens, lançando feixes de luz sobre a cidade de Athens. É mais bonita do que eu imaginava, com suas torres antigas e ruas de paralelepípedos que parecem sussurrar histórias. O táxi para em frente a uma casa vitoriana, com janelas altas e uma porta de madeira maciça. É aqui que começa o próximo capítulo da minha vida.