III: Feliz aniversário!

36 3 0
                                    


"What if you weren't alone, there were kids in the car?

What if you were remote, no one knows where you are?

If you'd changed anything would you not have survived?

You're alive, you're alive, you're alive".


— The 30th, Billie Eilish.



Acordo com a sensação de um dia especial. A luz do sol se infiltra pelas cortinas, banhando o quarto em tons dourados. Hoje é meu aniversário de 16 anos, mas algo parece diferente, como se estivesse flutuando entre sonho e realidade.

Levanto-me e me aproximo do espelho. Meu reflexo me mostra uma jovem de olhos brilhantes, cabelos desalinhados pelo sono. Visto uma blusa azul-celeste e uma saia rodada que escolhi com carinho para este dia. Desço as escadas, e o cheiro de bolo de chocolate recém assado me guia até a cozinha.

— Feliz aniversário, minha querida Rory! — exclama meu pai, com seus cabelos grisalhos e olhos que sempre parecem sorrir. Ele me envolve em um abraço que me faz sentir como se nada pudesse dar errado no mundo.

— Parabéns, maninha! — diz meu irmão mais velho, com aquele seu jeito brincalhão, bagunçando ainda mais meu cabelo.

— Ah, deixe-a em paz, você sabe que ela odeia quando você faz isso — repreende minha mãe com um sorriso indulgente.

Minha avó está lá também, sentada em sua cadeira de balanço, o rosto marcado pelo tempo, mas os olhos ainda tão vivos quanto sempre. Ela me dá um sorriso caloroso e acena para que eu me aproxime.

— Feliz aniversário, minha pequena flor — ela diz, sua voz suave como uma melodia antiga.

— Obrigada, vovó. Sinto-me tão grata por estar aqui com todos vocês — respondo, sentindo uma onda de amor.

Sentamos à mesa repleta de delícias: panquecas, frutas frescas e, claro, o bolo que ainda solta fumaça. A conversa flui fácil, repleta de risadas e lembranças. Meu pai conta histórias de quando eu era pequena, meu irmão faz piadas que nos fazem gargalhar, e minha avó compartilha suas palavras de sabedoria.

— Lembra daquela vez que Rory tentou subir na árvore e ficou presa? — Meu irmão começa, e todos rimos com a lembrança.

— Eu estava tentando resgatar aquele gatinho! — defendo-me, e minha mãe me lança um olhar cheio de ternura.

— Sempre a heroína, nossa Rory — ela diz, e eu posso sentir o orgulho em sua voz.

Depois do café, minha mãe me entrega um pacote embrulhado com esmero. Desfaço o laço e encontro um livro antigo, com capa de couro e páginas que parecem sussurrar segredos. O título diz "Reino Esquecido", e sinto um arrepio de excitação ao folhear as páginas.

— É uma história sobre um reino que se perdeu no tempo — minha mãe explica, seus olhos brilhando com um conhecimento não dito.

— Parece mágico — digo, maravilhada com o presente.

— E é — ela confirma. - Talvez haja mais verdade nessas páginas do que imaginamos.

O dia passa em um borrão de cores e sons. Rimos, brincamos e celebramos, mas, como todos os sonhos, ele começa a desvanecer.



━━━━━━◇◆◇━━━━━━



Acordo abruptamente, mas não é no conforto do meu quarto de infância. O coração ainda pulsando com as emoções do sonho. É madrugada, cerca de 4 da manhã, e a casa do meu tio em Athens está envolta em silêncio. A escuridão é quase palpável, mas é a tristeza que me envolve mais fortemente. O sonho... não era apenas um sonho, era uma lembrança, uma lembrança do meu último aniversário de 16 anos, antes do incêndio que levou tudo.

Lágrimas ameaçam cair enquanto me sento na cama, a realidade do presente colidindo com a doçura daquela memória. Olho para o criado-mudo ao lado da cama, onde repousa o livro que minha mãe me deu, agora com as bordas chamuscadas e a capa parcialmente queimada. É tudo o que restou, o único sobrevivente de um passado que não posso mais tocar.

Pego o livro com mãos trêmulas, abrindo-o com cuidado para não danificar suas páginas frágeis. Cada palavra, cada frase, é um eco da voz da minha mãe. É um conforto e uma tortura, tudo em um.

Ouço uma batida leve na porta.

— Rory, você está bem? — A voz suave do meu tio me alcança através da escuridão, preocupada.

— Sim, tio — respondo, minha voz embargada. - Apenas um sonho, um bom sonho.

— Quer falar sobre isso? — ele pergunta, abrindo a porta e sentando-se na beirada da minha cama.

— Era meu aniversário... todos estavam lá. O bolo, as risadas, o amor... — As palavras saem em um sussurro.

— Parece ter sido um belo sonho — ele diz, colocando uma mão reconfortante no meu ombro.

— Era mais do que isso. Era real, até que... — Minha voz falha, as lembranças do incêndio invadindo minha mente.

— Eu sei, querida. Eu sei — ele responde, entendendo a dor não dita.

Mystic Blood (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora