XXI: Lucas

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"All I am is a man

I want the world in my hands

I hate the beach, but I stand

In California, with my toes in the sand".


- Sweater Weather, The Neighbourhood.



Estava encostado na parede de tijolos atrás do palco na praça, o cigarro queimando entre os dedos. A cada tragada, a fumaça se mistura ao ar fresco do fim da tarde. Vestia minha jaqueta de couro preta, uma camiseta igualmente da mesma cor com minhas botas robustas, completando meu look habitual. Foi então que avistei um táxi passar, uma garota ruiva dentro. Seguia em direção à Elmwood Pl . Estranho, mas não dei muita atenção. Havia coisas mais importantes para focar.

Então, meu celular vibrou no bolso da jaqueta. Uma mensagem de texto vinda de Clain.

- "Venha beber Venī." - Claro, porque não podia simplesmente ter uma noite tranquila.

Guardei o celular no bolso e traguei profundamente o cigarro, saboreando o gosto amargo antes de soltá-lo no ar. Joguei a bituca no chão, esmagando-a com a bota, e me dirigi ao Caffè Mozzafiato, um ponto de encontro conhecido para aqueles que transitam entre os mundos.

Entrei no café, o som da campainha sobre a porta anunciando minha chegada. O lugar era acolhedor, com o cheiro de café recém-moído misturado ao aroma de livros antigos, porém, cheio, como sempre.

- Um copo de Venī, por favor - pedi, minha voz firme, mas calma.

Conhecendo o código, ele me entregou um copo de whisky sem dizer uma palavra. Bebi o whisky num gole só, o líquido queimando minha garganta de forma agradável.

Coloquei o copo de volta no balcão com um som oco e me dirigi ao banheiro. Certifiquei-me de que estava sozinho, então repeti a palavra "Venī". O espelho à minha frente começou a brilhar suavemente e, em seguida, atravessei para o outro lado.

Ao emergir do outro lado do véu, e eu estava de volta ao mundo oculto, uma imitação idêntica ao mundo humano, exceto por um detalhe crucial: criaturas sobrenaturais andam livremente. Eu já estava acostumado com isso. O mundo do outro lado do véu é uma réplica exata do mundo humano, atualizando-se constantemente para refletir o urbanismo e a arquitetura da dimensão principal. Esse equilíbrio entre os dois mundos era mantido com precisão há séculos.

Eu sabia que estava aqui por um motivo. A mensagem não havia sido enviada por acaso.

Caminhei pelas ruas, com o cigarro pendendo dos meus lábios, me aproximei de um beco conhecido. Ponto de encontro para alguns da minha espécie. Foi quando avistei Clain. Era impossível não notar um cara daquele tamanho - pele negra, cavanhaque bem aparado, uma presença que faria qualquer um pensar duas vezes antes de se meter com ele. Com seus quase dois metros de altura, ele parecia mais uma muralha do que um homem.

- Lucas, - ele disse, entregando-me um bilhete sem qualquer cerimônia.

- "O sino tocou" - dizia a mensagem.

Revirei os olhos, amassando o bilhete sem pressa. Ele se auto incendiou e virou cinzas antes de tocar o chão. Feitiço.

- Ele está esperando por você, - disse Clain, sua voz reverberando no beco.

Mystic Blood (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora