XVI: Um dia por vez

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"Do I feel too much?

Tell me, do I feel too much?".


— Please Don't Go, Abbey Glover.



O som insistente de batidas na porta me arranca do abismo dos sonhos. Meus olhos se abrem com relutância, e por um momento, a luz do quarto parece se fundir com as sombras dos meus pensamentos. A luz do amanhecer se infiltra pelas frestas da janela, lançando um brilho dourado sobre as paredes.

— Rory! Você está atrasada para a escola! — A voz do meu tio, abafada pela madeira da porta, carrega uma mistura de preocupação e pressa.

Eu me sento na cama, o coração ainda pesado com o peso das revelações da noite passada. Respiro fundo, tentando afastar a névoa do sono e a ansiedade que se entrelaça em meu peito. O ar frio da manhã acaricia minha pele, e eu me encolho sob as cobertas por mais um segundo, desejando poder me esconder do mundo e de suas expectativas.

Só mais cinco minutinhos...

Mas o tempo é um luxo que não posso me dar. Com um suspiro resignado, eu me levanto, sentindo o chão frio sob meus pés descalços. O quarto está em desordem, um reflexo do caos da minha mente — roupas espalhadas, livros abertos com suas espinhas quebradas, e papéis com anotações rabiscadas em uma caligrafia apressada.

— Rory, vamos lá! Você não quer chegar atrasada! — Tio Benjamin grita de trás da porta.

— Estou indo, tio! — Minha voz sai mais áspera do que pretendia, a irritação de ser acordada tão abruptamente misturada com a gratidão por ter alguém que se importa.

Eu me arrasto até o armário, escolhendo uma roupa ao acaso. Cada movimento é mecânico, minha mente ainda presa nas páginas do livro dos Lancasters e nos nomes que ele guarda. Enquanto me visto, o reflexo no espelho me mostra uma garota que parece a mesma de sempre, mas que se sente transformada por dentro.

Como posso ir para a escola e fingir que sou uma estudante normal depois de tudo?

O som de uma mensagem chegando no meu celular quebra o silêncio do quarto. É Lucas, perguntando se estou bem. Digito uma resposta rápida, assegurando que estou, embora parte de mim queira contar-lhe tudo sobre a noite passada.

— "Tudo bem, nos vemos na escola".

Eu pego minha mochila, assegurando-me de que o livro de Emily está seguro dentro dela. Com um último olhar para o quarto, eu saio, fechando a porta atrás de mim e deixando para trás a quietude da noite para enfrentar o barulho do dia que me espera. Hoje é apenas mais um dia. Mas sei que nada será como antes.

Descendo as escadas, o cheiro do café recém-coado me atinge, um lembrete reconfortante da rotina matinal. Tio Benjamin está na cozinha, a expressão preocupada suavizando quando ele me vê.

— Aí está você! Pensei que teria que subir novamente.

— Desculpe, tio. — Minha voz ainda carrega o peso do sono.

Ele me passa uma caneca de café, e eu sinto o calor se espalhar pelas minhas mãos. O primeiro gole é amargo e revigorante, trazendo um pouco mais de clareza para os meus pensamentos.

Como posso me concentrar em aulas e deveres de casa quando há um mundo inteiro de seres sobrenaturais por aí?

— Você tem certeza de que está bem? Você parece... diferente. — Ele ergue a sobrancelha esquerda.

Mystic Blood (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora