"And I was running far away
Would I run off the world someday?".
— Runaway, AURORA.
— Odeio torresmo.
— Como você pode odiar uma coisa tão boa quanto torresmo feito na hora? — Esther me olha com espanto enquanto fala. Aparentemente, ela é apaixonada por essa gordura frita, com textura duvidosa, cheia de colesterol.
— Essa textura me faz querer vomitar — digo isso enquanto chacoalho um pedaço de torresmo com a ponta dos dedos.
— Você faz aula de gastronomia, mas tem nojo da maioria dos alimentos, isso é muito contraditório, Senhorita Petterson. — Uma voz masculina grave cospe essas palavras em mim. Sr. Smith. George Smith. Meu professor de gastronomia. Bem atrás de mim, em pé, com um semblante sério, que provavelmente remete a deboches.
Me assusto ligeiramente com a voz atrás de mim. E logo me contorço na minha cadeira para me virar para trás.
Péssima ideia. Deveria ter ignorado.
— Gosto de aprender coisas novas, professor. — Falo já olhando para o rosto dele. Pele branca, cabelo ralo, quase careca. Postura defensiva com braços cruzados. E um suéter que provavelmente foi tricotado pela mãe dele. O típico homem amargurado americano.
— Desse jeito, não vai apegar coisa alguma. — Ele descruza os braços logo após falar isso e caminha em direção à mesa dele, em frente ao quadro branco. Uma cara de desdém repugnante.
Sigo-o com a cabeça enquanto ele anda até a frente da sala. Sinto minha mente dar um nó. E sem mais nem menos, palavras saem da minha boca em um som de murmúrio meramente audível:
— E, desse jeito, você vai continuar com a mamãezinha. — Percebo pelo canto do olho alguns alunos, que estão mais próximos nas mesas, a arregalarem os olhos.
Ele se vira para trás abruptamente — O que você disse? — Os olhos dele parecem sair do rosto.
— Eu disse que você deve ter uma bela cozinha. Me refiro... na sua casa — Meio tremulas essas palavras. Talvez eu devesse ter ficado quieta. Mas agora não tem como retroceder. Apenas espero que ele acredite.
Paredes brancas, meio amareladas, com uma boa estrutura arquitetônica que restou do século passado. Aqui estou eu, sentada em uma cadeira de madeira pouco confortável da detenção. Isso mesmo. Detenção.
Eu deveria ter ficado calada.
— Senhorita Rory Marie Petterson. — A secretaria da diretoria me chama do outro lado da sala. — O diretor está te esperando. — Diz isso apontando para a porta ao lado do balcão onde ela está.
Caminho pelo corredor, o som dos meus passos ressoando no silêncio. Ao chegar à porta do diretor, bato levemente.
— Entre — a voz do diretor me convida para o interior do seu santuário de regras e disciplina.
O escritório é um retrato de ordem, cada diploma, cada livro, cada caneta em seu devido lugar. Ele me observa por cima dos óculos, um olhar que tenta decifrar minha alma.
— Senhor, eu... — êxito, buscando as palavras certas. — Eu me arrependo do que disse. Foi inapropriado.
Ele me analisa, seus olhos como dois faróis em uma noite sem lua.
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Mystic Blood (Em Revisão)
FantasiEstá afim de uma aventura alucinante cheia de mistério, romance um toque de sobrenatural? Então, meu livro é pra você! Imagina só: uma garota comum chamada Rory descobre que é a reencarnação de uma heroína lendária, e de repente, ela se vê no meio d...