Foi apenas um jogo? - CAP19

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>>>> Jungkook <<<<<

A luz da manhã mal tocava o céu quando acordei, invadido por uma sensação pesada de realidade. A noite que tivemos na cozinha, enredados em um beijo proibido, reverberava em minha mente como uma doce melodia torturante. Mas aquela melodia precisava terminar. Jimin não era meu, e meu coração doía com essa verdade incontornável.

Cuidadosamente, deslizei para fora dos lençóis em meu próprio quarto, um espaço que de repente pareceu claustrofóbico e solitário. Olhei para a porta de Taehyung e Jimin, um sopro de dor percorrendo meu peito ao pensar nele ali, tão perto e tão inalcançável.


Minha decisão estava tomada: eu precisava ser alguém que Jimin pudesse, de alguma forma, aprender a desprezar. Só assim poderíamos conviver sob o mesmo teto sem arriscar nosso relacionamento com Hyung. Eu amava Jimin, mas precisava fazer ele me odiar, para que ele conseguisse ser feliz com Taehyung.

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>>>> Jimin <<<< 

Quando despertei, a primeira coisa que notei foi o vazio do apartamento. Jungkook já havia saído, deixando apenas um leve rastro de seu perfume no ar. Com Taehyung ainda ao meu lado, senti um nó se formar no meu estômago. A recordação do beijo proibido na cozinha me assaltava, enchendo-me de dúvidas e culpa.

Taehyung seguiu para a cafeteria onde trabalhava, e eu me encaminhei para o abrigo de animais. O dia foi longo e arrastado, com minha mente oscilando entre confidenciar tudo a Taehyung ou procurar outro lugar para morar e fugir dessa situação complicada.

Ao final do expediente, Taehyung veio me buscar, seu sorriso habitual tentando dissipar as nuvens em meu coração. Conversamos pouco no caminho de volta para casa; eu estava mergulhado em meus próprios pensamentos turbulentos.

De volta ao apartamento, ainda sem sinais de Jungkook, Taehyung se aventurou na cozinha para preparar algo para comermos. Ele fez um jantar leve e nos acomodamos na sala para assistir a um filme, tentando recriar uma sensação de normalidade.

O som da porta se abrindo interrompeu nossa tentativa de relaxamento. Jungkook entrou, acompanhado por uma mulher que reconheci imediatamente: Kim Bora, minha colega de trabalho no abrigo. Meu coração parou por um momento, confuso e inseguro sobre como reagir.

— Jungkook, como você conhece a Bora? — Taehyung perguntou, surpreso, mas com um tom amigável, enquanto pausava o filme.

Jungkook, com uma calma que não esperava, respondeu: — Nós nos conhecemos quando eu trabalhava como barman.

Eu mal podia olhar para Jungkook. A aparição de Kim Bora com Jungkook não foi apenas um choque por sua presença inesperada, mas também porque revivi uma memória que eu tinha tentado esquecer. Era a mesma Bora que, semanas atrás, eu tinha visto Jungkook beijando numa noite tumultuada que culminou em nossa primeira grande briga. A lembrança daquele dia voltou com uma claridade dolorosa, e percebi que a ferida nunca realmente havia cicatrizado.

— Bem-vinda, Bora! Normalmente levo café para o pessoal no abrigo, é um prazer te ver aqui também. — Taehyung disse, sempre o anfitrião perfeito, mas eu mal conseguia prestar atenção.

— Obrigada, Kim Taehyung. É bom ver vocês. Jungkook me contou muito sobre o apartamento.

— Vamos, Bora. Vou te mostrar meu quarto — disse Jungkook, sem esperar uma resposta de Taehyung ou de mim. Sua voz era fria, sua postura rígida, e não havia vestígio do carinho ou confusão da noite passada.

Enquanto eles se dirigiam ao quarto de Jungkook, senti uma mistura de raiva e desamparo. A indiferença dele era uma mensagem clara: o que aconteceu entre nós na cozinha não significava nada para ele, foi só um jogo.

Taehyung, alheio às turbulências que me consumiam, tentou retomar o filme, mas minha mente estava longe demais para sequer fingir interesse. Minha cabeça girava com perguntas sem respostas, talvez eu nunca tivesse realmente conhecido Jungkook.

— Jimin, você está bem? Você parece distante — perguntou Taehyung, pausando o filme novamente e voltando sua atenção total para mim. Seu rosto estava marcado pela preocupação, e isso só serviu para me fazer sentir ainda mais culpado.

— Eu só... me sinto cansado, Tae. Desculpe, eu...só estou exausto — balbuciei, incapaz de enfrentar seu olhar inquisitivo. Levantei-me rapidamente e me dirigi ao quarto que compartilhávamos, fechando a porta com suavidade atrás de mim.

Os dias que se seguiram foram compostos de um silêncio pesado e desconfortável. Kim Bora se tornou uma presença quase permanente no apartamento, suas risadas e conversas com Jungkook ecoando pelas paredes como um lembrete do abismo que agora existia entre mim e Jungkook. Era como se Jungkook tivesse me usado apenas para satisfazer um capricho momentâneo e, uma vez satisfeito, descartado sem um segundo pensamento.

Eu e Jungkook mal nos falávamos. Nossos encontros se limitavam a trocas de olhares frios e desvios rápidos. Às vezes, enquanto eu preparava o café ou organizava minhas coisas, os flashes daquela noite na cozinha vinham à tona — a intensidade de seu beijo, a promessa não verbalizada em seus olhos. Parecia uma mentira cruel agora, uma fantasia que eu tinha sido tolo o suficiente para acreditar. Cada lembrança era um golpe na minha estabilidade, me deixando alternadamente furioso e despedaçado.

A revelação de que Taehyung teria que viajar para a Alemanha por semanas para tratar de seu pai só intensificou minha angústia. Ele compartilhou a notícia numa noite tranquila, sua voz carregada de preocupação e cansaço. Eu sabia da condição de seu pai, mas a realidade de sua partida iminente me atingiu com força inesperada.

— Jimin, eu realmente preciso que você entenda. Não queria te deixar sozinho, mas meu pai precisa de mim lá — Taehyung explicou, seus olhos buscando os meus por algum sinal de compreensão.

— Eu entendo, Tae, claro que sim. Vai e cuida do teu pai. Eu me viro por aqui — respondi, tentando mascarar o tremor na minha voz. A ideia de ficar no apartamento, apenas eu e as sombras de minha complicada relação com Jungkook, enquanto ele desfilava seu novo romance com Bora, era mais do que desconfortável; era insuportável.

Nos dias que antecederam a partida de Taehyung, tentei me convencer de que poderia lidar com isso. Sentia-me preso em um ciclo de arrependimento e ressentimento, cada dia mais resoluto em minha decisão de encontrar um novo lugar para morar, longe das sombras de Jungkook e do fantasma de nosso breve toque.

A manhã em que Taehyung partiu foi sombria. Assisti ao táxi desaparecer na curva, seu semblante preocupado gravado em minha mente. Voltei para o apartamento, o silêncio me engolindo. Na cozinha, o aroma do café que Taehyung havia feito mais cedo ainda pairava no ar.

E lá estava eu novamente... 

O Amor Oculto - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora