Dia de primavera - CAP30

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>>>> Jimin <<<< 

O dia da consulta em Busan

Eu estava dormindo quando Jungkook parou o carro bruscamente no acostamento. Ao olhar em volta, percebi que estávamos na mesma avenida e ponte onde perdi meus pais num acidente de carro.

— Jungkook, você está bem? — perguntei.

Mas sua resposta me deixou com um nó na garganta. Enquanto ele chorava no meu ombro ali no acostamento, eu tentava dar conforto e acalmá-lo, ele não percebeu, mas eu também estava chorando. Naquele momento, descobri que o homem bêbado que havia matado meus pais era o pai de Jungkook.

Tentei não transparecer, tentei não agir indiferente, mas ele percebeu que eu estava um pouco distante. Aquela noite, apenas dormimos, ou pelo menos ele dormiu. Eu fiquei acordado, revivendo algumas memórias.

Lembrei-me de quando comecei a frequentar o apartamento de Tae, e Jungkook me levou até o seu quarto... 

"Viro de costas, contemplando seu quarto. Há uma decoração rústica, uma foto dele lutando boxe, outra, parecia um retrato de família rasgada, havia um homem sem cabeça, Jungkook e uma mulher que parecia sua mãe, uma mulher que não me era estranha." - Corações em conflito, cap14

Como pude não lembrar? Era a senhora Jeon, a mesma mulher que fazia tratamento comigo. Nós chegamos juntos ao hospital. Ela era uma mulher muito amorosa e foi sincera comigo, contando o que os médicos não queriam me dizer. Ela me contou que foi seu marido, descrevendo o acidente de uma forma que não parecia tão doloroso. Ela chorava, se sentindo culpada, mas eu, já com 15 anos, tinha consciência de que nada daquilo estava sob seu controle.

Passamos muito tempo juntos na ala de tratamento. Ela cuidava de mim, contava histórias de sua vida, cantava comigo e fazia seu filho pequenino trazer escondido para o hospital barriga de porco durante toda a primavera. 

Como pude esquecer disso? Como não me lembrei de Jungkook? Ele se lembrava de mim ou também havia esquecido?

Passei a noite inteira tentando lembrar de mais coisas, mas não conseguia devido ao meu tumor que afetara boa parte do cérebro.
Quando acordamos, eu já me sentia menos receoso. Claro que, ao olhar para Jungkook, me lembraria dos meus pais, mas Jungkook era apenas mais uma vítima nisso tudo. Ele disse que me amava, e apesar de eu ainda não ter dito, eu também o amava.

Jungkook parecia não se lembrar de mim, parecia não saber que foi seu pai que causou a morte dos meus pais. Preferi deixar assim. Estava disposto a criar novas memórias felizes ao lado dele e ignorar esse acidente que deixou não só feridas físicas, mas também psicológicas.

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As palavras de Bora no palco me atingiram como facas. Ela cantava, mas eu já não ouvia nada. Eu estava sem forças até para segurar meu celular. Sentia meu coração sair pela boca, dando adeus. Minha visão estava embaçada, e um zumbido forte dominava meus ouvidos. Escutava meus amigos falando comigo.

— Jimin-ah, você está bem? — perguntava J-Hope, enquanto passava suas mãos nas minhas costas.

— Ei, Jiminie, vamos lá para fora — dizia Yoongi.

Mas eu não conseguia falar nada, nem levantar do balcão. Sentia falta de ar ao ficar muito próximo à multidão, e para sair, precisava passar no meio de várias pessoas que estavam me encarando e cochichando.

Foi quando minha visão começou a escurecer, ameaçando desmaiar. Mas eu não podia... Meus olhos encontraram os de Jungkook, ele estava com um semblante confuso, seus olhos cheios de lágrimas.

O Amor Oculto - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora