CAPÍTULO 69

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Após terminarmos, ajudei a arrumar a cozinha e segui para meu quarto. O peso em meus ombros parecia um pouco mais leve após aquela conversa. Sentia que precisava me desculpar; meus pais eram pessoas incríveis que sempre fizeram o seu melhor. Em meus aposentos, desabei na cama, observando o céu estrelado pintado no teto. Fiquei ali, quieta e imóvel, olhando as estrelas sem realmente enxergá-las. Um miado fez com que eu virasse a cabeça para o lado: Khonsu estava ali.

- Acho que não temos muito tempo para pensar... - O encarei quase como se conseguisse ouvir sua voz, mesmo na forma felina em minha mente. - Mas ainda não consigo acreditar que dentro de mim existe uma chama... Como isso pode ser? Tudo isso aconteceu há tanto tempo, e tão longe, e veio parar exatamente aqui.

Os olhos dourados do gato me encararam antes de dar dois miados, como se tentasse expressar algo além das palavras.

- Não sei se consigo entender exatamente o que você está tentando expressar, mas se você quer dizer que a proposta de esconder a chama era mantê-la bem longe, parece que deu certo. - Traduzi o gato, sorrindo. - Fico pensando como você está se sentindo com tudo isso... Se fosse eu, estaria um verdadeiro desastre, não que não esteja me sentindo assim, mas você com certeza estaria bem pior, com toda certeza.

Colocar-me no lugar de Khonsu era uma tarefa impossível. A verdade era que não havia escolha para nós. Mesmo irritados e frustrados com tudo o que descobrimos, não tínhamos de fato escolha, mas sim opções, é nenhuma delas parecia boa para mim, entretanto não poderia permitir que todos com quem me importava tivessem suas vidas engolidas, mesmo que as chances de sobreviver fossem baixas. Precisava me apegar a essa pequena esperança.

Decidi que era hora de visitar minha avó. Passar um tempo com ela, sem contar o que estava prestes a acontecer, era o mínimo que podia fazer. Nem havia me dado conta da hora; já passava das quatro da tarde. Levantei-me e fui tomar um banho, que não demorou, afinal não tinha muito tempo à minha disposição. Me arrumei e mandei uma mensagem para minha avó perguntando se estava em casa.

Alguns minutos depois, ela me mandou um áudio, informando que se encontrava em casa. Avisei que estava indo, ela respondeu com uma carinha feliz. Peguei minhas coisas e saí. Passei pela sala e encontrei meu pai vendo televisão, enquanto minha mãe estava em seu escritório.

- Pai, vou na vovó. Devo voltar mais tarde. Pode avisar a mãe? - Perguntei, passando por ele.

- Claro, querida! - Sorriu, virando-se para mim.

Eu sabia que não tinha muito tempo e queria passar com todos que amava, mas também entendia que não poderia ser do jeito que gostaria. Tinha que aproveitar o tempo que me restava da melhor maneira possível. Assim, segui sozinha até a casa da minha avó, deixando Khonsu em casa.

Não demorou muito para que chegasse. Estava tão absorta em pensamentos que nem sequer percebi o trajeto, seguindo no piloto automático. Na frente da casa da minha avó, respirei fundo. Sempre me alegrava ver toda aquela vida em sua residência; era um ambiente confortável e aconchegante. Dei duas batidas e a porta logo se abriu.

Ali, parada diante de mim, estava ela, com seus olhos atentos e sabedoria que parecia exalar por todos os seus poros.

- Entre, querida. - Ofereceu, abrindo caminho para mim.

- Obrigada, vovó... Como a senhora tem passado?

- Eu estou bem, e você? - Perguntou enquanto seguíamos para a sala.

- Vou levando... - Disse, sem querer dar detalhes.

- Vocês, jovens, têm essa mania de não responder diretamente a uma pergunta, apenas dando informações vagas. Mas, deixando isso de lado, acabei de passar um café e fiz aquele bolo que você adora. - Minha avó sorriu para mim. - Está quentinho.

O DESTINO DE KHONSU (!!CONCLUÍDA!!)Onde histórias criam vida. Descubra agora