Antes de partir, algo me impulsionou. Sem pensar, corri e o abracei por trás. Seu corpo já não retinha o calor da vida, mas ainda assim era meu irmão. Uma voz interior me dizia que aquela poderia ser minha última oportunidade para fazer tal coisa.
— Sam, obrigada por tudo! Por ser o melhor irmão que alguém poderia desejar. — Uma lágrima solitária escapou do meu olho.
Rapidamente me recompus e sai sem olhar para trás. Sabia que, se o fizesse, sucumbiria ao choro. E aquele não era o momento. Avancei para a parte interna daquele barco que mais se assemelhava a um navio. Encontrei-me em um longo corredor adornado por um tapete marrom com bordados que se estendia por todo o caminho. Nas laterais, apenas portas podiam ser vistas, todas pintadas de um vermelho que lembrava sangue seco, com os números dos quartos em dourado reluzente.
Não escolhi com critério nenhuma das portas; apenas segurei uma das maçanetas e girei, mas ela não cedeu. Tentei outras portas até que uma se abriu. Entrei e tranquei a porta atrás de mim. Tínhamos chegado há tão pouco tempo e tantos eventos já haviam se desenrolado... Minha noção de tempo estava completamente distorcida; não havia dia ou noite, e embora soubesse que o tempo aqui corria de maneira diferente, sentia como se dias já tivessem passado.
Explorei o quarto: uma cama de casal com lençóis alvos como a neve, uma mesinha de cabeceira com um abajur, e um quadro pintado à mão representando o deus Rá em sua forma humanoide. O busto exibia músculos definidos sobre um corpo humano, os olhos penetrantes de falcão e, em suas costas, o sol irradiava brilho e poder. Encará-lo por muito tempo me dava a sensação de estar sendo vigiada.
Deixei minhas coisas sobre uma cadeira aveludada de cor verde musgo e me sentei na cama, deixando meu corpo desabar enquanto contemplava o teto. Sentia falta das estrelas pintadas no teto do meu quarto; ali, o teto era de madeira simples e uma luz artificial brilhava opaca. Permaneci ali imersa em pensamentos até ser sobressaltada por batidas na porta.
Levantei-me alerta.
— Sabina... Sou eu. — Ouvi a voz abafada do outro lado.
Aproximei-me cautelosamente da porta, destranquei a mesma abrindo apenas uma fresta dela.
— O que está fazendo aqui Khonsu? — Indaguei ao observá-lo.
— Vim te ver. Não tivemos muito tempo para conversar desde que chegamos ao submundo. — Concluiu com um tom suave.
— É verdade, mas temos que concordar que muita coisa aconteceu em muito pouco tempo. Pode entrar. — Abri a porta para que entrasse.
Olhei para o corredor antes de fechar a porta, como se esperasse ver algo ou um infrator cometendo um delito. Assim que fechei a porta, caminhei até a cama e me sentei; Khonsu fez o mesmo, ainda trajando suas vestimentas egípcias. Aquele visual no submundo lhe conferia um ar místico e poderoso, quase como se fosse alguma espécie de divindade; até o tom de sua pele parecia reluzir.
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O DESTINO DE KHONSU (!!CONCLUÍDA!!)
AdventureQuais acontecimentos na vida de uma pessoa, pode mudá-la drasticamente? Para Sabina este ponto de virada, ocorreu com a morte prematura de seu irmão mais velho, a perda a fez questionar sua própria existência, com uma visão sombria e melancólica. Af...