Ressonância
Aquela bela princesa, que já havia aprisionado vários corações, mas que nenhum havia sido capaz de fazer o mesmo com o dela, pelo menos até aquele momento...
— Espera! — Não consegui me conter com aquela revelação inesperada. — Está me dizendo que Bastet era uma princesa e filha de um rei cruel, e pelo que está me fazendo acreditar, que este rei terrível era o deus Rá? — Fiquei perplexa com tudo aquilo.
— Não exatamente... — Khonsu pareceu não se importar com aquela minha interrupção. — Como dito antes, a história acaba sendo moldada de formas diferentes com o passar do tempo, muitas delas que você conhece, se procurar em várias fontes sempre verá versões diferentes de uma mesma história, em algumas delas Bastet é filha de Rá, já em outras seu pai é Amon... Em meus séculos de vida vi grande parte da história se deteriorar e se desfazer pouco a pouco, assim como as próprias pirâmides do Egito. Mas na realidade Bastet era filha de um rei cruel que se achava um deus e que teve seu próprio coração consumido pela ganância, dor, raiva e ódio... Tudo misturado, mas isso não aconteceu do dia para a noite, foram sentimentos reprimidos que cresceram após a perda de sua esposa, a única pessoa que conseguia apaziguar um pouco estes sentimentos, era sua filha, que se sentia cada dia mais angustiada ao ver o pai sofrer daquela maneira, e com isso fazer outros sentirem uma dor ainda pior...
— Não somente sofrer, mas infligir medo nos outros por conta disso. — Completei me sentindo de certa forma indignada com as ações do rei, mesmo sabendo que não tinha como mudar nada, que aquilo já tinha acontecido há muito tempo.
— Concordo, mas o que foi feito, não pode ser desfeito, da mesma forma que isso aconteceu, estava escrito que os destino de Anúbis e Bastet se cruzariam, quando os olhos castanhos avermelhados dele cruzassem com os amendoados dourados dela, quase como se fossem duas partes de uma mesma peça, onde um fio sempre encontra sua outra ponta.
— Estou tentando acompanhar tudo, mas o que isso tem a ver com a história de você ser um gato, ou um homem gato... Como devo chamar isso! E como isso ajuda a entender como sou a única que pode te auxiliar em alguma coisa?
— Ainda vou chegar lá, tudo se conecta de alguma forma, e para entender o que aconteceu comigo, precisa conhecer o passado que me levou a ser amaldiçoado e transformado em um gato. — Antes que continuasse sua linha de pensamento, Khonsu fez uma careta estranha, como se de repente tivesse comido alguma coisa amarga.
— O que foi? — Perguntei sem entender nada daquela reação, me aproximei tentando ajudar.
— Pare! — Estendeu a mão aberta rapidamente para parar meu avanço, enquanto fechava os olhos, seu corpo estava tendo pequenos espaços, parecia estar sentindo bastante dor. — Meu tempo está se esgotando, como alertei esta forma não é permanente, consigo mantê-la por algumas horas, estou começando a sentir os efeitos da mudança, é algo que não consigo controlar.
― E o que isso quer dizer? ― Perguntei o vendo ranger os dentes, sua respiração era pesada, conseguia ouvir estalos vindo de todo seu corpo, como se alguma coisa estivesse se partindo, Khonsu tentava conter os gemidos que pareciam querer se libertar de seu interior, será que passava por isso sempre que mudava de forma?
― Quer dizer que acabei usando todo o tempo que tinha aqui, quando o limite é alcançado volto para a forma de um gato, e não consigo controlar a transformação, por isso tenho que ter para fazer isso longe dos olhos das pessoas, teremos que continuar esta nossa conversa em outro momento. ― Assim que terminou de falar, ofegou como se o ar estivesse faltando em seus pulmões.
Sem esperar qualquer resposta da minha parte, se endireitou e correu em direção ao terraço saltando como se tivesse pulando de um avião em pleno ar, mas sem paraquedas com os braços abertos... Tive medo que alguém o visse fazer aquela loucura... Mas estávamos na parte de trás do colégio. Uma área pouco acessada pelos alunos durante os intervalos, desta vez não me preocupei com ele se machucando, apenas me aproximei para vê-lo pendurado, porém para minha surpresa não estava mais ali, havia desaparecido sem deixar rastro, como se nunca estivesse estado ali, olhei em todas as direções, mas não encontrei nem vestígios dele.
Não tinha como fingir que tudo aquilo era um sonho, ou uma pegadinha, mesmo após tudo aquilo, não entendia exatamente meu papel em toda aquela confusão, mas será que se contasse tudo que vi e ouvi naquele terraço, alguém acreditaria em mim, ou me acharia uma lunática? Com certeza pensariam que era maluca. Perdi a noção de quanto tempo fiquei ali, olhando para o nada, na esperança de vê-lo surgir por entre as árvores, ou paredes correndo, mas não aconteceu, a porta do terraço bateu me fazendo assustar, dei um gritinho me virando para ver.
― Está querendo me matar de susto! ― Exclamei vendo Kim adentrar ao terraço apressadamente.
― Finalmente te encontrei. Você não apareceu no refeitório, então perguntei para algumas meninas se tinham te visto, e contaram que viram você pegar a escada que vai até o terraço, mandei mensagem no seu celular, mas pelo visto não se dignou a olhar... O que estava fazendo aqui sozinha? ― Os olhos de Kim eram analíticos, como se tentasse captar alguma coisa fora do comum.
Tudo que consegui fazer foi dar um sorriso sem jeito, me desculpando por não ver a mensagem, ou a avisado, queria muito partilhar tudo que tinha acontecido, mas alguma coisa dentro de mim, me alertava para não dizer nada, se o fizesse sairia do colégio direto para uma clínica, não tinha a menor condição de revelar:
"― Desculpe não responder, subi aqui porque vi o garoto novo de intercambio, e o segui para perguntar a ele porque o vejo em meus sonhos, e descobrir que, na verdade, ele é meu gato que virou um garoto, que sofre de uma maldição estranha que o faz ficar na forma de gato na maioria do tempo!"
Sinceramente tinha medo de falar isso até mesmo em voz alta, não seria nem um pouco inteligente da minha parte, ainda mais eu que relutei tanto em acreditar em tudo aquilo, ainda não estou segura se posso confiar em Khonsu, mas o que mais poderia fazer? Deuses, magia, maldições, para mim só existiam em livros e filmes, e agora tudo isso batia a minha porta.
― Estava sentindo um pouco de dor de cabeça, e queria um lugar tranquilo para ficar, desculpe não avisar... O silêncio sempre me ajuda quando isso acontece. ― Caminhei na direção de Kim, com a única desculpa que achei plausível usar naquele momento.
― Está sentindo alguma coisa? ― Seu tom de vozera preocupado, encurtou a distância entre nós duas, colocando o lado externoda mão em minha testa.
Este capitulo tem: 1.157 palavras
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O DESTINO DE KHONSU (!!CONCLUÍDA!!)
PertualanganQuais acontecimentos na vida de uma pessoa, pode mudá-la drasticamente? Para Sabina este ponto de virada, ocorreu com a morte prematura de seu irmão mais velho, a perda a fez questionar sua própria existência, com uma visão sombria e melancólica. Af...