Embates - 03

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Capítulo cinco: Mael

— Você realmente acha que... dará certo? — perguntei, sentindo meu pulso pulsar sob o aperto de sua mão, que sem esforço algum, poderia prender meu antebraço. Tentei manter minha voz firme, mas a ansiedade era palpável, a dúvida sobre o sucesso ou fracasso do plano era evidente.

Eu não tinha certeza se o plano dele incluía minha morte, seja no início da jornada ou em uma tentativa de fuga que carregava consigo uma alta probabilidade de fatalidade. Para mim, todos os caminhos pareciam convergir para o mesmo destino sombrio. A "generosidade" dele, escondida atrás de um sorriso calculista, não me enganava. Era claro como o sol em um céu sem nuvens; ele ganharia algo com isso, cedo ou tarde, e eu suspeitava que o prêmio que ele tanto desejava era eu.

Eu concordei com o acordo, reprimindo o impulso de protestar e bombardeá-lo com perguntas, e aceitei a única oferta que me levaria à fronteira deste reino, deste país estranho e desconhecido. O lugar não se parecia em nada com as paisagens que o padre descrevia; era mais gélido, e seus habitantes não se cobriam de peles para se aquecer. Em vez disso, mantinham a fogueira acesa, alimentando-a sem cessar para espantar o frio. Observando os jovens vestidos com tão poucas roupas, percebi que a pele deles era muito mais resistente que a minha.

Se eu não encontrasse meu fim sob o golpe de um machado, envenenado ou nas garras de algum animal selvagem, certamente seria o frio cortante que me levaria.

Apenas quando meus olhos se fixaram no horizonte, eu conseguia discernir a silhueta imponente da montanha, pintada com uma paleta de tons frios. Ela se erguia, majestosa, entre duas irmãs menores, sua grandeza não diminuía pela distância. Não era tão alta quanto parecia, mas sabia que exigiria horas de caminhada árdua para conquistar seu cume e circundá-la. Estava disposto a trocar a preguiça pela doce recompensa da liberdade.

O sarcasmo grudado em seu rosto esfriou, e até o aperto de sua mão suavizou quando seus olhos se fixaram nos meus. Ele não parecia mais tão ameaçador quanto a sombra que se estendia do trono à minha direita. Seus olhos castanhos, pequenas esferas cintilantes, me observavam com uma discrição que só era perceptível por um olhar atento e rápido. Não havia necessidade de olhares diretos; estávamos cientes da vigilância mútua. Eu sentia o peso de sua atenção, e ele, sem dúvida, percebia a minha.

Nos seus olhos, um brilho gelado traía algo que eu ainda não conseguia decifrar - um sentimento oculto ou talvez o reflexo de seus pensamentos enigmáticos. Ele era como um baú trancado, guardando segredos que eu ansiava por entender.

— Mantenha-se discreto, príncipe, sua presença já é um farol em si — disse ele, pousando as mãos sobre meus ombros com umas batidinhas que pretendiam ser encorajadoras, e me ofereceu um sorriso terno, como aqueles que os pais reservam para seus filhos.

Eu respirei fundo, tentando afastar a intimidade e a audácia daquele toque.

— Não vou tentar a sorte — respondi, sem qualquer vontade de prolongar a conversa.

Ele me passou uma lâmina pequena, desprovida de bainha, apenas envolta em um pano para evitar cortes, e um recipiente para água que era menos do que suficiente. Os outros estavam melhor equipados, com tecidos de pele e pequenas bolsas presas à cintura e à perna. Eu não fiz perguntas, mas era evidente que minha presença ali não era desejada. Os olhares falavam por si só. Mais tarde, as ações fariam as devidas revelações.

— Não tenho intenção de estender isso... — sussurrei, observando-o recuar para junto dos mais velhos. Meu olhar se voltou para os garotos reunidos, suas expressões em um mosaico de coragem, hesitação e medo. No fim, ainda eram apenas jovens à beira de um abismo sangrento. Entre eles, destaquei um rapaz esguio, mais ossos do que músculos, um volume marcado sobre os ombros pela capa de pele. Pomposo, ele se sobressaia. Ivar. O nome ressoou em minha mente, marcante pela sua brevidade, um nome que eu tinha ouvido há poucos dias. Seu rosto carregava o peso do medo, mas nos seus olhos, um vestígio de responsabilidade ainda brilhava.

Com um sorriso discreto, que mal revelava as pontas dos dentes, observei quando ele emergiu entre a multidão, destacando-se para mim. Seus olhos, um reflexo dos do pai, seguiram o movimento até que, finalmente, seus olhares se encontraram com o meu.

Ele não era uma má ideia.

...

Olá!
Sei que o capítulo foi curto, mas tentarei estender os próximos!

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