Consequência

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Uma semana se passou desde que meus homens trouxeram aquele rapaz de além-mar. Suas origens estavam claras para mim, assim como seus costumes que considero desnecessariamente pomposos. Sei bem de onde vem cada uma dessas manias, e não tenho paciência para elas.

Não me preocupo em gastar meu tempo com ele. O prisioneiro recebe tarefas que suas mãos finas jamais tocaram, e o desconforto que ele deve sentir me traz uma satisfação quase automática. Mas, pelo visto, isso não era suficiente para Astrid.

Ela tem sido uma fonte constante de reclamações desde que ele chegou. Diz que, desde o momento em que pôs os olhos nele, soube que traria problemas. Na verdade, o único problema para mim é que ela não para de falar sobre isso. Mesmo sabendo que o garoto já enfrenta dificuldades extremas, ela continua insistindo.

Hoje, sentados à mesa para um banquete com apenas alguns convidados, Astrid novamente trouxe o assunto à tona, desta vez sem se preocupar com as consequências. Meu irmão estava ao meu lado, impassível, enquanto ela, irritada, expressava seu desgosto.

— Esse rapaz não tem lugar aqui. Ele deveria ser expulso antes que cause um problema de verdade — disse ela, com a frieza de quem não espera ser desafiada.

A sala estava em silêncio, exceto pelo som das taças sendo preenchidas e das bocas se ocupando em evitar qualquer comentário. Todos queriam distância da discussão. Eu, no entanto, fiz questão de interromper. Coloquei meu copo sobre a mesa com força o suficiente para chamar a atenção dela.

— Aslaug, sua inquietação não passa de vento vazio. Se esse homem se mostrar uma ameaça, eu o farei cair, como fiz com tantos antes dele. Até lá, não nos atormente com suas preocupações inúteis.

Ela não queria se calar, mas a ameaça no meu olhar a fez baixar a cabeça e tocar a comida que ignorava até então. O desejo de protestar estava evidente, mas, por razões claras, ela escolheu o silêncio.

Suspirei, sentindo um leve alívio por conseguir manter a ordem, pelo menos até o fim do dia.

Ao meu lado, notei a silhueta de Leif, que me encarava com um sorriso malicioso. Assim que percebi sua atenção, ele escondeu o sorriso atrás de um copo de skoll, mas não pude ignorar a provocação.

Leif foi o responsável por trazer o problema disfarçado de solução. A encenação que ele montou na cerimônia de iniciação dos jovens para a vida de homens foi uma estratégia brilhante, enganando nosso povo. Ninguém aceitaria um inimigo em uma cerimônia sagrada se soubessem que ele voltaria. Leif sabia disso, e agora eu precisava entender o que ele ganharia com essa jogada.

Ele é meu irmão, mas sua ambição é ainda mais voraz do que a minha. Enquanto eu comando as terras, ele é a sombra das minhas conquistas. Onde meu machado corta, ele se apressa a celebrar a vitória, como se tivesse um papel na luta. Leif é um lobo solitário, livre para agir como quiser, sem jamais arcar com as consequências.

— Você realmente acha que isso vai acabar bem? — perguntei, a voz firme e controlada.

Ele ergueu uma sobrancelha, desafiador.

— O que importa é que você ainda não percebeu a grandeza do que trouxe para este povo. Um inimigo se disfarçando de aliado é um presente, e você está ignorando isso.

Fitei-o, a tensão crescendo entre nós. Era verdade que Leif tinha o dom de ver oportunidades onde eu via riscos, mas ele também estava disposto a brincar com fogo.

— Não brinque com coisas que não entende, Leif. Um passo em falso e o que você chama de grandeza pode se transformar em ruína.

Ele riu, um som que ecoou entre as mesas.

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