Crescimento

32 6 2
                                    

Minha garganta está tão seca que me desperta.

Sinto uma dor intensa ao tentar me sentar na superfície macia. Não faço ideia de onde estou, e essa curiosidade me força a abrir os olhos, mas o peso do cansaço é tão grande que me impede de me mover.

Eu grunho, incapaz de me mexer por causa da dor no braço. Uma risadinha nasalada ressoa ao meu redor, cortando o silêncio.

— Ah, finalmente acordou. —diz a voz, cheia de um prazer estranho. — Estava me perguntando se você se perderia para sempre.

A risada ecoa, e sinto um frio na barriga.

A dor me diz para ser cauteloso, mas a necessidade de entender o que está acontecendo é mais forte. Com esforço, abro os olhos e viro o rosto para a pessoa que estaria perto de mim.

Obviamente, a voz pertencia a um homem. Ele estava encostado na parede, com os braços cruzados e os tornozelos entrelaçados, um jeito meio presunçoso que me irritava. Assim que consigo identificar seu rosto, a maldita voz faz sentido. É como se cada palavra que ele pronuncia se encaixasse perfeitamente no sorrisinho malicioso que ele carrega.

Tenho problemas em guardar nomes. Eles se esvanecem da minha memória, como folhas levadas pelo vento. Mas o jeito dele, a expressão que parece brincar com um segredo, tudo isso me é familiar de uma maneira desconcertante. E, mesmo assim, não consigo lembrar. É frustrante.

— Por que estou aqui? — toquei a testa, a dor latejando na hora em que minha voz escapuliu.

— Angus te trouxe, — respondeu ele, com uma animação que eu não conseguia entender. Era motivo de orgulho? Heroísmo? — Teve sorte dele ter só atravessado o braço. — Ele se aproximou, fixando os olhos na minha ferida, como se fosse uma curiosidade científica.

— Chama isso de sorte? — afastei a mão da cabeça com cuidado, evitando movimentos bruscos que pudessem piorar minha situação deplorável. — Ele pisou em mim, quase morri!

Ele soltou uma risadinha, e eu me forcei a não revirar os olhos — embora a vontade de dar um soco nele estivesse presente.

— Ah, desculpa. Angus tem essa mania feia. — Ele estava claramente brincando com a minha cara. — Mas, bom, se eu estivesse no seu lugar, teria preferido a morte. — tem uma cadeira perto da cama e ele se jogou nela, esticando os pés e cruzando os tornozelos na beira da cama, como se estivesse a vontade.

— Valhala parece ser um lugar bom para vocês quererem morrer. Dão a vida de graça. — retruquei, sem pensar.

Ele levantou uma sobrancelha, como se tivesse despertado algo nele. Parecia surpreendido.

— Não sabia que os cristãos soubessem de Valhala. Temos os mesmos deuses? — indagou, e eu ri. Até eu me surpreendi comigo mesmo.

Foi um comentário idiota.

— Cristãos estão em um nível bem acima de um povo como o seu. Nós nos dedicamos aos estudos, por isso temos conhecimento sobre o mundo. E, não, não temos deuses. Servimos a um só Deus.

Ele descruzou os pés e os colocou no chão, inclinando-se para frente na cadeira, com cotovelos nas pernas.

— Se soubessem de tudo, não morreriam tão facilmente.

Estreitei os olhos em sua direção e bufei nasalmente.

— O que bárbaros sabem sobre ser inteligente? Agem com as mãos ao invés da mente, e por isso não passam de selvagens.

Toda a corte compartilha do meu pensamento, assim como a população de Wessex, de ponta a ponta. Eles podem ser fortes, mas se assemelham a animais quando a ambição os domina. É como uma praga; se um deles se atreve a se levantar, deve ser arrancado pela raiz.

Coração Forjado Onde histórias criam vida. Descubra agora