Destreza

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Notas: Oi, pessoal! Primeiramente, peço perdão pelo sumiço. A rotina estava um pouco enrolada, mas, aqui estou eu, trazendo novas atualizações.

Comentem, pois estarei sempre lendo e acho importante o ponto de vista de vocês e se estão compreendo a obra.

Beijos

...


Isso não é quem eu sou.

Pela décima vez, olho para minhas mãos, como se nelas houvesse algum segredo enterrado sob uma camada invisível. Meus dedos parecem sujos, manchados com algo que não consigo limpar, e as palmas carregam o peso de uma verdade inescapável. Em menos de um minuto, revi a cena em minha mente — o que para mim foi uma tragédia, para ele não passou de uma "seleção".

Definitivamente, não posso aceitar isso. Fecho os olhos com força, tentando apagar uma imagem que não deveria estar ali. Quando os abro novamente, minhas mãos parecem normais — limpas, dentro de uma aparente normalidade. No entanto, elas tremem, fora do meu controle. É uma sensação que se apodera de mim, como se algo dentro de mim estivesse à beira de se romper.

Um pequeno pedaço de tecido pousa em meu colo. Levanto o olhar e vejo mãos preocupadas envolvendo as minhas, aquecendo-as suavemente.

— O frio é perigoso — diz o garoto, a voz doce, misturando a inocência infantil com uma gentileza quase desconcertante.

Internamente, sinto um impulso de sorrir, mas o contenho. Seu gesto é tocante, mas ele está completamente enganado. Eu realmente estou com frio, mas essa não é a razão pela qual minhas mãos estão tremendo. O frio que sinto é interno, profundo, e não há tecido capaz de aquecê-lo.

— Obrigado — respondo, mantendo a voz estável, evitando qualquer profundidade na conversa. Não há razão para compartilhar o que, para mim, é uma fraqueza. Preciso parecer bem. Preciso estar no controle. Estou em um caminho sem volta, e minha única opção é seguir em frente até encontrar minha liberdade — ou perdê-la para sempre.

Ele assente em silêncio e se afasta, assumindo a dianteira como se fosse sua responsabilidade guiar o caminho. É nesse momento que percebo seu pescoço exposto, a pele delicada, vulnerável ao frio. Instintivamente, baixo o olhar para o tecido em minhas mãos. Ele me deu... sua manta.

O impacto dessa inversão de papéis é inesperado. Sou eu o mais velho aqui, e agora estou sendo cuidado por ele? Isso não deveria acontecer. Eu deveria cuidar do garoto, mesmo que ele fosse apenas uma ferramenta temporária. Não posso me dar ao luxo de demonstrar vulnerabilidade, não agora.

Acelero o passo, o tecido ainda solto em minhas mãos. Em um movimento rápido e decidido, enrolo-o novamente em seu pescoço. Ele se vira parcialmente, seus olhos capturando os meus por um breve momento, e vejo algo neles — uma pequena faísca de surpresa. Esse olhar, mais do que qualquer outra coisa, me pega desprevenido.

— Foi realmente útil. Obrigado. — Tento soar firme, mas há uma tensão sutil em minha voz. Minhas mãos ainda tremem, um reflexo incontrolável do que sinto por dentro. Disfarço, colocando-as rapidamente para trás, fora de sua vista. — Concentre-se no caminho, — ordeno, agora com mais controle.

Não posso me permitir distrações. Não agora.

Ele assente de novo e continua. Suas roupas, leves e desgastadas, flutuam com uma agilidade surpreendente. Eu, por outro lado, sou lento, pesado como uma pedra afundando na areia. A montanha é uma subida constante, um teste interminável de resistência. Minhas pernas ardem, mais do que estou acostumado. Ofegante, tento controlar minha respiração, meus olhos sempre vigilantes, ainda que menos atentos que os do garoto, que detecta até o menor som.

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