Luto contra a vontade de resmungar enquanto a seidköna examina meu ferimento, seus dedos pressionando meu braço com firmeza, trazendo uma dor pulsante. Tento manter uma expressão digna, sustentando a postura de um futuro rei — embora Leif, recostado no canto do quarto com seu sorriso debochado, não pare de me observar, claramente esperando qualquer fraqueza que possa usar para sua própria diversão.
A seidköna se inclina sobre o ferimento, envolta em peles grossas e com um olhar atento. Seu rosto exibe a marca do tempo e da sabedoria, e ela observa com precisão a entrada e saída da lâmina que rasgou minha carne. O sangue escorre espesso e quente, tingindo o tecido que ela segura.
— Foi uma lâmina afiada e fria — murmura, enquanto estuda os danos. — O espírito da espada foi profundo, mas poupou o osso. O sangue corre forte, o que é sinal de que tua vida não fugirá de ti tão cedo.
Ela saca um punhado de ervas de uma pequena bolsa e pega um pedaço de linho, preparando-se para estancar o sangue. Com um gesto habilidoso, pressiona as ervas contra o ferimento, e a dor aguda faz meu braço estremecer, mas mantenho-me firme. Ela murmura uma canção antiga para Sigyn, alguma deusa que Leif comentou mais cedo a qual não me atentei a prestar atenção.
Sinceramente, aceitei o “tratamento” por não ter outra opção além de não aguentar mais a inutilidade do meu membro, porque também não creio que essa feitiçaria cure meu ferimento profundo.
O brilho fraco da lamparina ilumina seu rosto enquanto examina a extensão do corte, buscando por qualquer dano que possa comprometer o movimento do braço ou trazer febre e morte.
— A lâmina trouxe fogo com ela — diz ela, a voz baixa e grave. — Aquecendo teu corpo por dentro. Vou preparar uma poção de freixo para purificar o sangue e orar aos espíritos para que tua vida não seja envenenada.
Com mãos precisas, começa a limpeza da ferida com um tecido embebido em uma infusão de urtiga, entoando palavras de proteção.
Sinto o toque das ervas frescas sobre a pele ardida, uma dor amarga que se mistura à sua voz, e observo enquanto ela trabalha. Quando termina, envolve o ferimento com linho e ervas, prendendo firmemente o curativo, seus olhos encontrando os meus com uma última advertência, cheia de seriedade.
— Descansa e poupa tua força, pois o espírito da lâmina ainda pode voltar a te reclamar. Que os deuses estejam contigo, e que a proteção de Sigyn te guarde.
Faço um breve aceno, sem esboçar qualquer emoção, embora uma pequena inquietação me percorra. Dou uma última olhada em Leif, que agora observa com menos desprezo, e volto minha atenção ao meu próprio coração, pedindo silenciosamente que o poder do meu deus afaste de mim qualquer sinal de fraqueza.
— Como se sente? — ele pergunta, com passos preguiçosos, aproximando-se de mim. A leveza com que se move parece desprovida de qualquer pressa, como se o tempo não tivesse importância. Ele já descruzou os braços, uma atitude que parece querer deixar de lado qualquer barreira que existisse entre nós depois que a seidköna se foi.
— Acredita mesmo que algumas ervas esquisitas vão me deixar melhor? — ergui uma sobrancelha, realmente duvidando da credibilidade desse povo que confia em uma feiticeira que parece mais uma charlatã do que uma verdadeira curandeira. A ironia da situação não me escapa: ali estava ele, confiante e despreocupado, enquanto eu me sentia cada vez mais cético.
Ele encosta a lateral do ombro na parede, a postura relaxada contrastando com a minha seriedade irritante.
Seu olhar é penetrante, com um brilho meio presunçoso, como se estivesse se divertindo em me ver resistindo a tudo isso. O sorrisinho em seus lábios revela um prazer sutil em me provocar, um desafio que só ele parece captar. Fazendo uma rápida avaliação, percebo que não comi nada hoje; ele se serviu à vontade, roubando meu prato sem a menor hesitação, como se fosse um gesto natural. Seu apetite voraz parece ofuscar qualquer preocupação que ele tenha sobre o que estou passando, como se o que realmente importasse ali fosse saciar a própria fome.
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Coração Forjado
RomansaREMAKE da primeira versão de Coração Forjado!!! O príncipe Mael vivia uma vida de privilégios e deveres, até ser arrancado brutalmente de sua corte e lançado ao coração gelado das terras vikings. Cativo de guerreiros selvagens, ele luta contra o fri...