07- o último passo

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Meus pais chegaram á noite e mandaram que eu voltasse para casa. Me despedi de dona Francesca e entrei em casa com meus pais. Logo depois, minha mãe começou á fazer o jantar, meu pai foi ver o noticiário e eu fui tomar banho. Ainda era meu aniversário e estava sendo horrível, solitário, indiferente para mim e meus pais. Eles não me deram presentes, só tapas e xingamentos. O único presente que ganhei foi o buquê dos homens que eu nutria um sentimento.

Assim que desci do banho, meus pais estavam na mesa me esperando com as mãos juntas para rezarmos. Rezamos o Pai Nosso e agradecemos pela comida, então começamos a comer num silêncio, até que eu decidi falar.

- Mamãe?

- Sim, querida?

- Eu estava pensando numa coisa, na verdade uma vontade minha.

- E qual seria?

- Eu quero fazer faculdade.

O barulho estridente dos talheres se instalou no local após meu pai largá-los no prato.

- Faculdade? Por que? Pra que você quer estudar? Não está satisfeita com o que lhe damos?

- Claro que não, papai. Eu só queria estudar, ter uma profissão e minha vida própria, não quero depender de vocês a vida inteira. Até porquê seria uma ótima forma de eu amadurecer e...

- Amadurecer? Você não precisa disso, Gina. Você é assim do jeito que Deus lhe criou, sua inocência é o que tem de melhor em você e não podemos perdê-la.

- Gina, faculdade é o lugar onde as meninas mais pecam e cometem atos horrendos aos olhos de Vosso Senhor. Nós não te criamos para se misturar com aquelas vagabundas de Belzebu.

- Mas mamãe...

- Eu já entendi tudo, Gina. Eu sei o que é isso, sabe como isso se chama? Desonra. Você quer ir até a faculdade e conhecer os garotos, não é? Quer sair toda noite, beber álcool e entregar sua castidade pro primeiro vagabundo drogado que vir não é? Pois saiba de uma coisa: você nunca vai pra faculdade, você é nossa filha! - ele disse gritando, deferindo socos na madeira da mesa.

- Não, papai, eu juro que eu só quero estudar. Eu quero ter uma vida! Eu cansei de ficar presa aqui o tempo inteiro e tendo que ficar me desculpando! Eu já tenho 18 anos, sou uma mulher!

- Levante-se agora e fique apoiada sob a parede.

Ele se levantou da cadeira e tirou seu cinto de couro com a fivela de metal, doía muito quando eu apanhava de cinto. Eu sempre chorava e era humilhante.

- Não, espera querido! Não precisa fazer isso com ela, ela é nossa menininha.

- Por favor papai, não faz isso de novo. É meu aniversário. Por favor, hoje não. Eu imploro. - eu disse com o rosto vermelho de tanto chorar.

- Tudo bem, filha, eu me descontrolei. Eu só quero te proteger, sabe disso não é Gina?

- Sei, papai.

- Você ainda é nossa garotinha?

- Sim.

- Ninguém lhe desonrou nem ousou violá-la?

- Não, papai. Eu ainda sou a garotinha de vocês, eu prometo.

- Que bom, filha. Estou orgulhoso de você. Vai esquecer esse assunto de faculdade e focar nos ensinamentos que lhe passamos, depois irá se comportar, não é?

- Sim, papai.

- Ótimo, agora vamos jantar e depois dormir. Amanhã iremos á missa.

O resto do jantar foi totalmente em silêncio. Pelo visto, meus pais nunca iriam me deixar experimentar coisas novas, eu estava presa á eles. Depois da briga, minha mãe lavou a louça e subimos para dormir. Me deitei na cama e logo peguei no sono ao colocar a cabeça em meu travesseiro.

Algum tempo depois, eu acordei. Olhei o relógio, ainda eram 03:30. Tentei dormir novamente, mas não consegui. Enquanto fechei os olhos, ouvi um barulho de vidro quebrando e desci as escadas para ver. Eu vi a pior cena que uma filha deveria ver: meus pais estavam sentados no sofá sob a mira de uma arma de uma pessoa que estava vestida toda de preto.

Me escondi na metade da escada e espionei pelo corrimão. Eles estavam chorando, haviam 3 pessoas na sala com eles. Eu tinha que ligar para alguém ou pedir ajuda. Subi lentamente de novo até meu quarto e assim que virei, uma sombra preta tampou minha boca e me agarrou bruscamente pela barriga. Tentei chutar o ladrão, mas ele colocou a arma na minha cabeça e sussurrou:

- Se você tentar qualquer coisa, eu mato seus pais e você sem dó nem piedade, entendeu?

Eu acenei que sim.

- Agora vem cá, principessa.

𝑷𝒂𝒓𝒂 𝑺𝒆𝒎𝒑𝒓𝒆 𝑵𝒐𝒔𝒔𝒂, 𝑺𝒐𝒎𝒆𝒏𝒕𝒆 𝑵𝒐𝒔𝒔𝒂Onde histórias criam vida. Descubra agora