33- pavor

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Saulo Salazar

Eu amava Gina.
Eu amava aquela garota.
Eu era louco por ela.
Eu era doente por ela.
Eu era dela.

Quando a vi no jardim conversando com Vincenzo, meu sangue ferveu de raiva junto com Stefan. Eu senti que não era eu. Eu a machuquei, eu ultrapassei o limite ao estrangulá-la. Se minha mãe não tivesse gritado, eu poderia ter matado a mulher que eu amava. Pude ver o medo dela em seus olhos enquanto eu a machucava.

Após chegarmos em casa, eu fui até o escritório e bebi uma dose de whisky sentado na poltrona. Bebi uma, duas, três até tentar esquecer o que fiz com Gina. Meu peito doía de raiva e culpa pelo que fiz.

Toc, toc, toc!

- Quem é? - eu perguntei após ouvir as batidas.

- Sou eu, Saulo. - reconheci a voz de minha mãe e ela entrou, logo em seguida fechou a porta atrás dela.

- Estava com Gina?

- Sim, ela está dormindo agora.

- Como ela está?

- Você xingou ela, estrangulou e a jogou no chão em plena festa de noivado, como acha que ela está?

- Eu não queria machucá-la, mãe. Eu juro, eu não queria, mas eu senti tanta raiva quando a vi com Vincenzo! Porra, eu faço de tudo para que ela ao menos sorria e nem isso ela faz por mim!

- Saulo, você deixou o pescoço dela roxo. Você quase a matou por causa de ciúmes. Ela é louca por vocês e vocês estão afastando ela desse sentimento.

- Não parece.

- Saulo, ela me contou sobre o quanto gostava de vocês desde nova, mas vocês estão sendo tão agressivos que ela só sente pavor de vocês agora! Você a estrangulou, Stefan foi grosseiro, meu Deus!

- Mas mãe, nós a amamos!

- Saulo, não confunda amor com abuso. Vocês estão abusando dela. Vocês sempre a forçam a fazer coisas, vocês estão obrigando ela á se casar com vocês, ela não pode estudar, nem sair, nem fazer nada! Como querem que ela ame vocês se vocês estão abusando dela? Você acha que isso é amor?

- Então o que quer que eu faça?

- Peça perdão ou deixe ela ir.

- Não, nunca!

- Saulo...

- Não, eu nunca vou abrir mão dela! Ela é nossa e vai continuar sendo! Ela nunca vai sair daqui.

- Francamente Saulo, achei que tivesse criado homens, mas pelo visto vocês não sabem o que é ser um homem de verdade.

- Mamãe...

- Saia de perto de mim, me dá nojo ter quatro filhos abusivos como vocês!

Minha mãe saiu do escritório furiosa e eu joguei o copo na parede de tanta raiva. Eu nunca deixaria Gina ir embora, então aceitei a sugestão de pedir perdão. Subi até seu quarto e abri a porta, ela não estava lá. Fui até o quarto de hóspedes e a vi deitada na cama dormindo serenamente.

Me ajoelhei ao seu lado na cama e acariciei sua perna, que logo se arrepiou.

- Sei que está acordada, amor. Não precisa fingir nem falar nada, só quero que me escute.

Ela continuou em silêncio.

- Me perdoe, mio angelo. Eu não deveria ter feito o que fiz, eu não deveria ter te xingado, eu não deveria ter te estrangulado, eu não deveria ter te jogado no chão e nem te humilhado. Eu tenho sido um péssimo companheiro, só tenho pensado em mim mesmo e não em você e no que quer. Me perdoe, me perdoe, eu prometo que nunca mais vou te machucar, prometo que não vou mais tocar em você sem sua permissão. Eu preciso de você, meu amor, eu preciso que fique aqui.

Ela continuou em silêncio.

- Por favor amor, fale alguma coisa. Seu silêncio, sua rejeição, sua angústia dói em mim também. Não me deixe, não me ignore, amor. Fica comigo, eu te amo. Eu te amo, Gina Pellegrine. Eu daria minha vida por você, eu mataria por você, eu queimaria a porra do mundo só pra te salvar. Você é minha rainha, meu império... me perdoe.

- Você sempre pede desculpas e me machuca depois, você nunca cumpre sua palavra, Saulo. - ela disse com a voz fraca. Ao me aproximar, vi seu pescoço roxo com as marcas da minha mão. Eu tentei tocar em seu rosto, mas ela começou a tremer e a chorar intensamente.

- Gina, calma, amor...

- Não toque em mim, por favor. Eu não suporto o seu toque. Você me dá medo.

Ouvir aquelas palavras me fizeram escorrer uma lágrima dos meus olhos. Eu me senti um lixo ao ver o que fiz com minha mulher. Ela nem conseguia olhar pra mim.

- Amor, eu prometo que...

- Você não me ama, nem nunca vai amar. Você só está me quebrando. Por favor, sai daqui.

Eu respirei fundo e abri a porta para sair, mas antes eu disse uma última coisa antes de deixá-la sozinha no quarto:

- Eu te amo, Gina. Nunca esqueça disso.

𝑷𝒂𝒓𝒂 𝑺𝒆𝒎𝒑𝒓𝒆 𝑵𝒐𝒔𝒔𝒂, 𝑺𝒐𝒎𝒆𝒏𝒕𝒆 𝑵𝒐𝒔𝒔𝒂Onde histórias criam vida. Descubra agora