O Espelho

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Me vejo no espelho, porém não me reconheço.

Confesso que até de mim as vezes eu tenho medo.

Indiferença, eu quero me arrepender.

Me perdi em mim, será que quem eu era ainda existe?

Eu tentei, porém mais cruel me tornava.

Perda de tempo tentar voltar a ser quem eu era.

A cada chacina as lágrimas conduzem a dor do erro, quanto mais eu quis sair? Quanto mais eu tentei?

Não dá, nada mais me importa.

Essa raiva ainda, eu quero controlar essa fera.

Meu amor, você não veria mais a face do homem que amou. Tem alguém no meu lugar, um assassino, genocida sanguinário.

Olho-me refletido no espelho, esse é o meu rosto?

Essas garras, esses pontiagudos dentes, os olhos fundos de iris vermelha, o que eu sou?

Sangue e mais sangue, como um vampiro essa delícia escarlate me fascina.

Por que amo a morte e o destruir?

Minha carne pede por carne, seja de inocente ou de culpado. Eu estou faminto.

Por que não me controlo?

Por que isso me domina?

Eu não quero esse rosto, eu não quero esses malditos dentes.

As minhas garras afundam em minha pele, a dor é um conforto penitente.

Massa a massa de carne arranco tentando modificar a face desse maldito demônio.

As gotas vermelhas cada vez mais caíam na pia, mais e mais arranco.

Me percebo novamente.

Sem olhos, sobraram apenas orbes vermelhos mergulhados em escuridão.

Sem bochechas, sobraram apenas dentes e mais dentes finos e afiados.

Sem os ossos, sobrou a escuridão e olhos carmesim.

Sem mais nada, havia o multicolorido cosmos, indiferente, cruel e solitário.

A massa espumosa que minha cabeça se tornara me lembra.

Pelas muitas famílias que torturei,

Pelas muitas grávidas que devorei,

Pela infinidade de cadáveres que pisei,

Eu não mereço ter ninguém.

Eu sou um monstro...

Coletânea de contos e poesiasOnde histórias criam vida. Descubra agora