Pov. Boris
Já faz 4 anos desde que não vejo o Theo, sinceramente? Não houve um dia nos últimos dois anos que eu não tenha pensado nele.
Eu não culpo meu pai ou Audrey, eu só sinto que eu falhei com ele, na primeira oportunidade de ter uma vida legal eu consegui estragar de alguma forma, quando tudo finalmente havia se estabilizado, pelo menos eu achava que sim, mas tudo virou de ponta cabeça novamente, não paro de pensar, minha mente á mil, sobriedade é uma merda.
Eu já me formei então sai do colégio interno, mas nunca me deixaram voltar para a casa, pensei em fazer uma surpresa mas isso geraria mais tormento e brigas, não sei nem se ele ainda mora lá ou se saiu para fazer faculdade em algum outro lugar, ele tinha 14 anos quando me tiraram de casa, então hoje ele tem 18, já deve estar em uma boa faculdade, não sei, eles realmente não me dão nenhuma noticia, e sinceramente, depois de tantas vezes que liguei e meu pai atendeu e gritou comigo me pedindo para não incomodar mais ou todas as vezes que ninguém nem atendeu, chegou uma hora que só não tentei mais.
Eu não fiz faculdade, sinceramente? Eu parei de me importar com tudo, finalmente meu pai cria jeito e tem uma vida decente e então de repente sou eu que não me encaixo mais nela, me apaixono e eu não sou bom o bastante, tenho uma casa legal e uma vida normal e sou chutado para fora por não servir nisso tudo, depois do colégio interno eu não tinha para onde ir, me afundei então, comecei a trabalhar em um emprego medíocre de tempo integral e o salário só para sustentar meus vícios.
Criei vergonha na cara quando acordei no hospital, os olhares de julgamento e reprovação faziam eu sentir vergonha profunda de mim mesmo e do que eu tinha feito comigo mesmo, talvez meu pai estivesse certo, droga! Ele não podia estar, esse não podia ser o meu fim.
Não me livrei dos vícios, mas passei a dar tudo de mim e usar com o máximo de moderação possível, conheci as pessoas erradas na hora certa, fiz uns serviços grandes e ilegais aqui e ali, aos poucos fui ganhando esperteza, trabalhando inteligente, manipulando quem eu precisava, usando a lábia, ganhando na margem, levantei uma fortuna considerável, já não era mais o mesmo adolescente pobre e drogado sem ter para onde ir, um garotinho infeliz, perdido e confuso como um gatinho magrelo de rua morrendo de medo, agora eu tinha influência e dinheiro suficiente para sustentar a mim, minhas loucuras e meus luxos, mas ainda infeliz e sei bem o que falta, mas não posso ir atrás, não posso fazer mais mal a ele do que já fiz, meu pai tem razão, eu não sou bom para ele por mais que eu queira ser, eu dei drogas a ele, quem faz isso com alguém que ama? Mas é verdade o que dizem, miséria ama companhia.
Agora com 21 anos ainda tenho essa necessidade infantil de querer minha casa, e minha família, que nunca foram meus, papai estava certo, mas se ele que era um desgraçado pôde mudar porque ele me disse que eu não poderia? Porque ele não tentou mais um pouco? Ele mudou depois dos 40 e depois de muitos erros bem piores que os meus, talvez eu no estado de confusão apenas lembrasse à ele a fase e as atitudes que ele tanto luta para esquecer, eu não posso culpar ninguém, sou um adulto agora e remoer o passado ou odiar não vai mudar nada, eu não sei se vou ver o Theo de novo, eu quero mas não quero, afinal, o que eu diria a ele? Eu não presto para ele, talvez seja melhor assim, ele longe de mim deve estar ótimo e de mim nem deve se lembrar, deve ter encontrado outro cara ou de repente até uma garota talvez.
Eu me importo com ele e talvez o melhor que eu possa fazer é permanecer como estou, longe, estando longe eu mantenho meus vícios, traumas e meu caos longe dele e isso é o melhor a se fazer, um pouco de vergonha na cara ainda tenho e consideração por ele ainda tenho muita, talvez o melhor é deixar ir e aceitar que as coisas são como são, sobriedade é uma merda, eu não suporto mais pensar nele e nem sei porque estou sóbrio agora, o único modo de não pensar nele é estando dopado para caralho, porque até chapado eu penso nele, sobriedade é uma merda.
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Boreo - "Irmãozinho"
Teen FictionAudrey Decker é uma linda mulher, em todos os sentidos e mãe de um garoto doce chamado Theodore Decker, conhecido apenas por Theo. Luri Pavlikovsky é um pai não tão bom e nem tão boa pessoa mas luta par se tornar, e é o pai de um garoto também não t...