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Lori

Desde que a Kara apareceu no meu quarto a primeira vez, eu sabia que ela era a minha nova babá e a da Lizzie. Naquele dia, ela disse que não era e confirmou que era a tia legal da Ruby e da Esme, mas eu sabia que era. Quem cuida dos filhos das pessoas quando a mãe trabalha é uma babá, não é?

Na primeira semana, pensei em empurrar a Kara na piscina, já tinha todo o plano e faltava fazer a Lizzie me ajudar. Só que aí, Kara me perguntava todo o dia se eu queria ir pra escola de trança e vi que ela não era igual as outras babás. Não sei explicar direito, mas fiquei feliz de Kara mostrar que me ouviu quando eu disse que gostava de tranças. Depois, ela me ensinou a fazer e me deixou usar o cabelo dela pra aprender.

Então, pensei em deixar pra empurrar Kara na piscina na segunda semana. Mas aí, Kara me ajudava na lição de casa da escola e antes, se eu tinha alguma dúvida, tinha que esperar a mamãe chegar. E também, eu ainda não tinha aprendido a fazer tranças direito e esperei mais um pouquinho. Lá pra terceira semana, vi que Lizzie já gostava muito da Kara. Eu também gostava dela, mas ficava com medo dela chatear a mamãe. 

Vi que a Kara não era como as outras babás quando a Lizzie ficou doente. Kara não cuidou só da Lizzie, ela também cuidou de mim. Quando a mamãe ficou brava com ela, defendi a Kara porque era a primeira vez que eu gostava de uma babá e ela é tão legal que não queria que ela fosse embora e nem queria mais empurrar ela na piscina.

Naquele dia no hospital, fiquei muito chateada quando a Kara foi embora. A mamãe entendeu tudo errado e brigou muito feio com ela. Se o medo da mamãe era eu aprontar com outra babá, quem aprontou foi ela, fazendo aquilo no hospital. Eu sei que a mamãe não gostava da Kara naquele tempo, até eu gostava e ela não, e eu não sei o porquê.

No dia que a Kara voltou, fiquei feliz porque tinha mais uma vez alguém pra me ver nas aulas de piano e depois bater palmas pra mim, mas fiquei com muito medo da mamãe mandar ela ir embora de novo. Eu pensei em falar com a mamãe que eu sabia que a Kara era a nossa babá e que não queria que ela fosse embora, mas esqueci de falar isso quando percebi outra coisa.

Mamãe sempre foi muito séria, em toda minha vida só vi mamãe sorrindo pra mim e pra Lizzie. Quer dizer, ela ri pra tia Sam e pra tia Kelly, mas não é o mesmo sorriso que ela dá pra mim e pra Lizzie. um dia quando Kara estava indo embora, vi mamãe sorrir pra ela. Foi um sorriso bem bonito, como o sorriso pra mim e pra Lizzie.

Uns dias depois, Kara estava mexendo no celular, sentada na ilha da cozinha, ela perecia muito distraída e não reparou a mamãe olhando pra ela. Eu reparei porque fui falar com a mamãe e ela nem me ouviu. Fiquei todos os dias reparando e todos os dias a mamãe ficava olhando para a Kara do mesmo jeito. Então, um dia também peguei a Kara olhando para a mamãe.

Eu não entendo muito disso de uma pessoa ficar olhando pra outra igual elas ficam se olhando quase o tempo todo, mas tentei lembrar onde vi duas pessoas se olhando daquele jeito. Como uma lâmpada acendendo na minha cabeça igual nos desenhos, lembrei que a tia Kelly e a tia Alex ficam igualzinho a mamãe e a Kara.

Depois que meu pai foi embora, mamãe ficou muito triste e muito diferente, mas desde que Kara apareceu tudo mudou. Mamãe sorri mais, mamãe passa mais tempo com a gente e até comeu hambúrguer por causa da Kara. Fiquei ajuntando todas as peças desse quebra-cabeça e acho que a mamãe gosta da Kara e a Kara da mamãe. 

Acho que as duas se gostam como a tia Kelly e a tia Alex!

Pensando em tudo isso, bolei um plano e fiquei no pé da mamãe pra levar a gente pra ver a Kara e foi um dia muito divertido e de novo elas ficaram se olhando daquele jeito e sorrindo do nada uma pra outra. 

— Você entendeu, Lizzie? — pergunto para ela, antes da Kara e da mamãe se aproximarem mais da gente no zoológico.

— Mas por que a gente tem que ir pra longe?

— Pra mamãe e a Kara ficarem sozinhas.

— Porque?

— Porque elas se gostam.

— Gostam como?

— Acho que como a tia Kelly e a tia Alex — respondo, olhando para trás pra ter certeza de que Kara e mamãe não estão ouvindo, mas elas parecem estar distraídas conversando.

— Tipo namoradas?

— É, tipo namoradas.

— Mamãe e Karinha são namoradas?

— Não sei, Lizzie, e pra saber a gente tem que deixar elas sozinhas, entendeu?

Lizzie fica confusa com o que eu disse, mas não é difícil de entender. O meu plano é deixar mamãe e Kara sozinhas porque elas tão sempre com a gente. Se elas ficarem sozinhas, pode ser que elas virem namoradas.

— Entendi.

Seguindo o meu plano, depois do almoço, peço pra mamãe pra ir comprar sorvete e Lizzie e eu sumimos pelo zoológico. Venho nesse zoológico desde pequeninha, sei onde fica tudo e também sei pra onde ir se eu me perder.

Por causa do meu plano, convenci a mamãe trazer a gente, convenci ela levar a gente na casa da Kara e falei que a gente ia vim no zoológico. Claro que precisei da ajuda da Lizzie em tudo isso, ela precisava usar a cara que ela sempre faz pra conseguir qualquer coisa. Até agora, o plano tá dando muito certo.

A gente não fica andando muito pelo zoológico pra não se perder de verdade. Depois de um tempo, Lizzie e eu vamos para perto de onde crianças perdidas são levadas. Espero que o tempo que a gente deu seja o suficiente para a mamãe e a Kara perceberem que se gostam muito. Se até eu percebi, não deve ser difícil elas perceberem, não é?

O tempo passa e Lizzie e eu estamos sentadas em um banquinho, vendo as pessoas passarem de um lado para o outro, observando os bichinhos.

— A gente já pode voltar? — Lizzie pergunta.

— Ainda não.

— Porque não?

Não sei porque Lizzie tem que fazer tantas perguntas, ela deveria confiar em mim, sou a irmã mais velha dela, poxa.

— Por que uma delas vai procurar a gente.

— E se não procurar e a gente ficar aqui pra sempre?

— A gente não vai ficar aqui pra sempre, Lizzie.

— Mas e se ficar?

Reviro os olhos. Lizzie é muito criança ainda pra entender direito o que quero fazer.

— Você não quer a mamãe e a Kara juntas? — pergunto para Lizzie.

Lizzie fica pensando por uns segundos.

— Se acontecer, a Karinha vai ficar mais com a gente.

— Vai! Ela vai tá o dia inteiro com a gente e todo o dia. Você não quer isso?

— Quero.

— Eu também quero. Então vamos esperar.

E é isso que Lizzie e eu fazemos; esperamos.

:)

What You Mean To MeOnde histórias criam vida. Descubra agora