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Parte 1.

As luzes estavam apagadas, a cama desarrumada, aquele pequeno quarto estava abafado demais, mas Oliver não se importava. Se encontrava deitado naquela cama simples de seu apartamento que alugara há pouco tempo, olhando para cima e buscando uma razão forte o suficiente para se levantar ao invés de dormir o dia inteiro. Sua cama era pequena e não muito confortável, mas era o suficiente. O lugar estava meio bagunçado, pois havia ficado até tarde da noite assistindo televisão e comendo besteiras, devido à sua insônia que o assombrava às vezes. Apesar disso, geralmente acordava cedo, mas naquele momento ele só queria dormir. Estava cansado e estressado demais; fora uma semana difícil de muito esforço e nada de reconhecimento. Havia sido demitido alguns dias atrás por '' ser jovem demais para aguentar o peso do trabalho '', mas ele sabia que só não queriam lhe pagar  corretamente. Recebia menos que um salário-mínimo mesmo fazendo tudo da maneira como lhe era passado (ele sabia bem se adaptar e ser bom em qualquer área que arriscasse tentar) mas ainda não era suficiente. O mais inacreditável da situação, na realidade, foi a proposta que recebeu:

- Mas se você quiser, pode continuar aqui na empresa, como teste, para se adaptar caso queira continuar na área. – disse seu antigo patrão.

- Ué, como assim?... de graça? – questionou Oliver.

- Err... sim, como estagiário. Sabe, geralmente os jovens precisam de mais tempo para conseguir se adaptar ao mercado de trabalho do nosso país... Não é nada fácil  subir financeiramente nesse mundo, ainda mais atualmente, do jeito que a economia está. - Oliver notou que ele desviava do seu olhar a todo momento, como se não o conseguisse encarar frente a frente. Também notava o comportamento inquieto do seu corpo. – Sabe cara, estou lhe dando a oportunidade de ter um ótimo aprendizado aqui, por mais que você não seja remunerado. Mas bom, você ainda é novo e provavelmente ainda mora com seus pais, não tem que se preocupar tanto com salário por enquanto.

Oliver não acreditava no que ouvia. Como aquele cara poderia falar que ele trabalharia de graça de uma forma tão clara e sem filtro? Era verdade que ele morava com seus pais naquela época, mas a procura de um emprego justo era para sair daquela (hospício) casa. Ele pensou seriamente em discutir ou simplesmente o xingar do que viesse à sua mente, mas decidiu apenas falar '' não, obrigado '' e sair daquele lugar.
Ao menos era uma experiência adicionada ao seu currículo, e graças a isto não foi tão difícil arranjar outra oportunidade: Uma pequena, mas bonita, cafeteria local. Para Oliver era perfeito, afinal café era uma das coisas que mais gostava, então o que poderia dar errado? Além do mais, já havia ido nesta cafeteria anteriormente e foi uma experiência bastante agradável. Mas é óbvio que passar o resto de sua vida trabalhando naquele lugar e naquela cidade pequena não era o que ele almejava; isto tudo era só o início, apenas para não morrer de fome, pois o que ele queria mesmo era ser um diretor de cinema, e consequentemente sair daquele buraco onde morava. Ele sabia que para ser um grande profissional na área precisava de muito esforço e muita dedicação, mas naquele momento, naquele instante, ele só queria dormir mais um pouco.
Oliver estava fechando os olhos novamente, quase se deixando ser abraçado mais uma vez pelo sono, que o chamava e atraía numa sensação sublime de paz e conforto, até que o despertador tocou mais uma vez e o grito de galo quase o deixou surdo. O susto foi tão forte que sua reação foi pular rapidamente da cama, com os olhos arregalados, ofegante e ainda muito confuso do que poderia estar acontecendo. Desligou rapidamente o celular e deitou na cama, de costas, para respirar e processar o que acabou de acontecer (como todos os dias).

- Preciso mudar esse toque de merda. – disse ele enquanto esfregava os olhos.

Não havia se dado conta de que era o seu primeiro dia no novo emprego, e caso se atrasasse muito, seria demitido tão rapidamente que não chegaria a sequer sentir o aroma do grão de café invadir suas narinas. Ao lembrar disso, correu imediatamente pro chuveiro.
Não podia ser demitido novamente em tão pouco tempo, o que sua mãe iria pensar dele? Já havia se provado incapaz para muitas pessoas, mas para ela, sempre havia um esforço maior para que esse pensamento não passasse na mente dela. Sua mãe era uma pessoa que já tinha preocupações e sofrimentos demais, decepciona-la dessa forma era impensável; ele precisava durar no emprego desta vez. Oliver colocou sua blusa marrom escuro, sua Jogger preta e saiu o mais depressa que podia, pois no meio do caminho também lembrou que o ônibus não tardaria a chegar no ponto. Como todo mundo, já havia perdido inúmeros ônibus, diversas aulas (no tempo de escola) e chegado atrasado no trabalho tantas vezes que não era mais possível contar. Mas não podia deixar isso acontecer desta vez; desta vez teria que conseguir fazer tudo certo e sem problemas, se não quisesse que aquela lembrança da última vez que vacilou voltasse à sua mente, ou até à realidade, quem sabe. Independentemente de como poderia voltar, ele não queria sentir o que sentiu naquele dia, não mesmo.
Twist correu o máximo que pôde, sem nem olhar direito para que o que vinha à sua frente (facilmente poderia ter dado de frente com um poste ou tropeçado em um gato que estaria andando e fazendo coisas que gatos fazem, mas não se importava). Suava, pois estava correndo sem parar por alguns quarteirões. Suava muito e ofegava mais ainda, mas não parou de correr. O ponto de ônibus se localizava na rua seguinte, e era um município pequeno, mas aquela rua parecia nunca acabar para ele naquele momento. Corria, corria e não chegava a lugar algum. Era o que ele sentia, porque não tardou muito a chegar no ponto. Um ônibus médio amarelo e com ondas verdes esperava sua chegada, e muitas pessoas estavam lutando por suas vidas para subirem primeiro na pequena escada de ferro e poderem garantir seus assentos, como sempre. Oliver foi desacelerando os passos na medida em que se aproximava do guichê, vendo cada vez mais aquelas pessoas (quase animais) diminuindo de número e consequentemente, era o que imaginava, os assentos livres também. Enfim chegou ao guichê, um lugar pequeno e feio, com assentos de espera do lado de fora (sem proteção solar em cima) porque não cabiam dentro do espaço e reboco mal colocado. Oliver notou que havia também carteiras de identidades de algumas pessoas coladas na parede e franziu o cenho, achando estranho e tentando entender o que poderia significar algo como aquilo.

Amor à Tarde.Onde histórias criam vida. Descubra agora