VI

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Oliver se aproximou de Laura. Quanto mais perto chegava, mais suas pernas tremiam. Mas ainda assim sentia uma coragem que nunca imaginaria que poderia sentir em uma situação do gênero. Nunca conseguiu se dar bem com as mulheres, mas desta vez ele estava determinado a conversar com ela, nem que fosse apenas um pouco. Quando chegou ao seu lado e viu o rosto dela se virar para ele, Oliver quase paralisou mais uma vez, mas resistiu e tentou dizer algo que fizesse sentido.

- Oi Laura, eu ia lhe chamar, mas começou meu intervalo e decidi vir tomar meu café aqui também. Você se importaria? Gosto muito desse lugar.

- Ah sem problemas, pode se sentar.
Oliver timidamente se sentou à sua frente e lhe entregou o copo. Laura o virou e viu seu nome em um desenho de crachá, com uma letra cursiva escrita a caneta, por Denize.

- Meu nome!! Que legal!

- Eu disse, estilo Starbucks.

Laura levou a ponta do copo à sua boca. A tampa branca logo ficou com a sua ponta amarronzada pelo café. Uma expressão de satisfação saiu do rosto dela após o primeiro gole.

- Bom como sempre. Eu sempre venho aqui e peço esse, é meu favorito. Só não sabia desse negócio de nome, é recente?

- É sim, já estamos batendo de frente com a concorrente.

Laura riu.

- Eu nunca te vi aqui. Faz tempo que você veio pela última vez? – Perguntou Oliver.

- Ah, até que sim. Ultimamente tenho estado ocupada, por conta dos milhões de trabalhos da faculdade sabe... É foda, não estava tempo para mais nada, nem para dormir! Por isso essa olheira enorme.

- Para alguém que não dorme você tem um rosto muito bonito.

Oliver gelou. Como ele conseguiu ser corajoso e ousado a esse ponto? Isso estragaria tudo, ele não deveria ter sido tão direto. Era cedo demais, ele nem sequer sabia se ela era solteira ou não, e agora jamais teria a oportunidade de saber, pois ela sairia naquele momento para nunca mais voltar. Ele havia destruído todo o seu novo sonho, jogara toda aquela coragem que conseguiu no lixo. Quando deixaria de ser burro assim?

- Obrigada – Disse ela em meio a risinhos – Mas garanto que sem maquiagem sou pior.

Oliver bebeu um pouco do café. Ainda não era o fim. Existia uma remota chance de tudo correr bem; tudo dependia dele. Estavam em uma mesa que se encontrava de frente para a varanda, e dali era possível enxergar Denize acenando para ele, com dois dedos para cima em sinal de “boa sorte “. Oliver respirou fundo e continuou.

- Você é daqui? Ou mora em outra cidade? – perguntou ele.

- Moro em outra, próxima daqui, Vila Rica, o nome.

- Ah! Eu também sou de lá!

- Que legal! Eu sou doida para dar o fora daquele canto. Jesus, não tem um mercado realmente bom! Sempre que faço minhas compras venho para cá.

- Nem diga, estou lá ainda porque os aluguéis de apartamentos são melhores do que os daqui.

- Com certeza, afinal lá não há muita procura. Você mora em qual apartamento?

- Aquele perto do Armazém do Consumidor – Daniel passou entregando o prato de algumas pessoas e o distraiu por um segundo - Um grande, branco, com os portões marrons.

- Sei qual é! É o mais bonito que vi por lá. O aluguel é muito caro?

- Nada que eu não consiga me virar, mas poderia ser melhor... de graça, de preferência.

- Isso é verdade – Respondeu ela rindo.
Oliver sorriu de canto. Estava conseguindo! Até agora havia agido no automático e estava dando certo. Ele não poderia perder tudo agora, sua coragem aumentava cada vez mais, e se continuasse assim, talvez conseguisse até o número de telefone dela. Mas o que falar agora? Ele não sabia. Não poderia deixar o assunto morrer e abrir as portas para uma situação constrangedora. Suas pernas tremiam secretamente abaixo da mesa, mas seus braços entregavam o nervosismo que o atacava ferozmente ao se movimentarem o tempo inteiro com qualquer coisa que estivesse à sua frente. Mas ele precisava continuar.

-  Você é legal, qual seu nome? – Perguntou ela, repentinamente.

- Oliver. Oliver Twist

- Igual ao livro! Você já leu né? Impossível não ter lido.

- Ainda não....

- Que crime! Mas fica aí minha recomendação. Eu tenho em casa, posso lhe emprestar. Vou vir aqui mais vezes, então posso lhe cobrar.

"Agora eu realmente preciso ler isso".

- Você costuma ler muito?

- Sim, sempre que possível. Mas sou mais ligado no cinema.

- Ah, que legal! Eu gosto de ambos também, mas prefiro a literatura. Tô até cursando Letras.

- Caramba... Então me diga seu livro favorito da vida.

- Dom Casmurro, sem dúvidas.

- Ótima escolha.

Laura pegou seu celular na bolsa que segurava, olhou um pouco para ele e o colocou de volta.

- Bom, tá tarde já. Ainda bem que hoje não tive aula, mas tenho mais um milhão de compromissos para resolver em casa. Vou indo viu?

- Tudo bem, obrigado por vir aqui mais uma vez. E seja bem-vinda sempre.

Laura sorriu. Um sorriso longo e verdadeiro, diferente de todos que ele havia visto durante a conversa.

- Você é legal mesmo, me passa seu número?

O café que ele tomava quase foi cuspido. Ele não podia acreditar, seria tão fácil assim? Seu coração palpitava loucamente, parecia que iria explodir.

- Passo sim.

Ele lhe disse o seu número de telefone e ela anotou, se despediu e foi-se embora. Oliver ainda não conseguia respirar direito. Quando ela passou pela porta, ele sentiu que iria morrer; todo o nervosismo se apossou dele de uma vez.
Denize e Daniel correram até sua mesa, com sorrisos que iam de uma orelha à outra.

- E aí Dickens? Fala como foi! – gritou ela.

- Calma Denize, para de gritar, parece um bicho! – Reclamou Daniel.

Oliver só conseguiu rir sem jeito.





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