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- O que você está fazendo aqui?

Oliver estava surpreso. Esperava tudo menos algo como aquilo. Por que seu pai decidiu vir mesmo depois de todo o seu desabafo? Ele não parecia estar bêbado, o que era raro, mas era o mínimo que poderia fazer para aparecer em um ambiente como aquele. Mas por mais incrédulo que estivesse, não pôde sentir raiva; a dor era o único sentimento que estava presente nele, a ponto de abraçar o pai quando o mesmo se aproximou.

- Opa! – Disse, surpreso pelo gesto repentino. – Eu vim me desculpar.

Oliver levantou a cabeça e o soltou, com um olhar confuso.

- Eu estou limpo agora, não estou bebendo mais. – Disse, se sentando ao lado do filho. – Saí dessa vida. Essa merda já destruiu minha vida mais do que o suficiente.

- Tá há quanto tempo?

- Cerca de duas semanas, mas não consigo chegar perto de bebida sem querer vomitar. – Fez uma pausa. – Por favor, eu sei que não posso mudar o que fiz, jamais, mas pelo menos me dê uma chance para que eu possa ser um pai.

Oliver ainda não sentia nada. Seu foco alternava da tragédia para a novidade do pai, mas a dor era forte o bastante para que todo o resto não parecesse tão importante. Guilherme viu isso e sentiu que estava errado, que aquela não era a oportunidade perfeita para nada que pretendia fazer. Se arrependeu de ter vindo e dado uma dor de cabeça a mais para Oliver em um momento tão delicado. Mas já estava ali, e não havia como recuar agora.

- Filho, responda. – Continuou. – Eu não vou conseguir dormir até receber uma resposta sua.

- Tudo bem pai, só vê se não caga com tudo agora.

- Nunca mais. – Sorriu. – Nunca mais. E... Eu estava pensando... E sua mãe também... Se você não toparia fazer uma viagem comigo, para qualquer lugar... Só para podermos ter um momento legal juntos que nunca pudemos ter.

Oliver não respondeu. Já estava ficando maluco com tantas coisas para pensar, e começou a chorar.  Guilherme, ao ver a cena, tentou (sem saber bem o que estava fazendo) o confortar de alguma forma, e a que ele escolheu foi colocar a mão sobre as costas do filho, que foi repetida pelo mesmo, com um gesto calmo, mas que já dizia o bastante. Ficou algum tempo o observando, com um olhar pesaroso, e se levantou. Não iria mais incomodar o filho, não naquele momento. Era demais, e talvez Oliver nunca mais quisesse conversar com ele depois daquilo. Estragara tudo.
Oliver viu seu pai indo embora, mas não deu atenção. Chorava e chorava, como fez frequentemente nos últimos dias. O rosto de Laura podia ser visto por ele a todo momento, principalmente antes de dormir, quando não parava de pensar nela e abraçar o travesseiro, imaginando que poderia ter uma lembrança mais vivida dessa forma. Não sabia o que teria feito para merecer tudo isso. Todos os seus amores foram fracassados e o magoaram profundamente, e quando pensou que poderia enfim ser feliz, quando pensou que teria um propósito de vida, e além disso, forças para seguir os seus objetivos, foi espancado pelos fortes e cruéis punhos da realidade. 8 bilhões de pessoas, e logo Laura foi tirada dele. Podia ter sido qualquer um, mas por algum motivo tinha sido ela. Era algo egoísta de se pensar? Talvez, mas não se importava, nada mais importava.

Injustiça era de fato a melhor palavra que poderia escolher naquele momento.

                                . . .

Laura o chamou. Oliver atendeu.

Seu glorioso sorriso encontrava seus olhos novamente, e seu coração foi tomado por um sentimento quente, forte e extremamente acolhedor. Quanto tempo pareceu... Quantas saudades ele sentiu! Todo seu sofrimento agora parecia algo muito distante, algo do passado, algo que jamais poderia chegar para lhe assombrar novamente. Tudo o que passou parecia insignificante agora que estava junto do seu amor novamente. A vida se abrira novamente para ele como um feroz, e ao mesmo tempo radiante, carrossel. Oliver segurou sua mão; aquela mão pequena e delicada que ele tanto teve orgulho de segurar durante suas caminhadas. Se aproximou de Laura e a beijou. Sentir aqueles lábios macios e majestosos o deixou atordoado, começou a tremer.

- Laura, por onde esteve? Eu senti tanto sua falta! – Disse, se segurando para não chorar.

Oliver, sem parar de tremer, lentamente se sentou. Laura fez o mesmo e levou sua mão ao rosto do pobre garoto.

- Meu amor, eu estive à sua espera. Aqui não é um mal lugar... Acredito que todos nós nascemos em um lugar ruim como o planeta Terra para que possamos merecer as maravilhas de onde estou.

- Por favor, fica comigo de novo! Eu te amo! – Respondeu, fracassando na tentativa e caindo em prantos.

- Eu desejo isso. Cada minuto ao teu lado significou a importância de eras para mim. Estar contigo é quase o equivalente à perfeição de estar no céu.

- Deixe-me ir com você.

Laura se levantou calmamente. O brilho do lugar onde estavam era divinamente ofuscante, mas não chegava aos pés do quanto ela parecia radiante naquele momento.

- Eu estarei à sua espera, mon amour.

O quarto estava frio, afinal faziam 17° lá fora. Todo aquele brilho intenso foi rapidamente substituído pela escuridão do ambiente em que dormia. A luz foi embora, e com ela levou toda sua vida. Oliver, com muito medo do que sentiria ao fazer isso, aproximou, devagar, sua mão ao seu lado do colchão. Não tirou os olhos do teto, e sentiu lágrimas descerem por todo seu rosto e deslizarem pelas curvas de seu pescoço ao sentir que não havia nada ali. Não era um sonho, era uma visão. Laura o esperava, onde quer que estivesse. Soluços inundaram o ambiente que antes estava silencioso. Oliver ainda sentia seus lábios e sua voz. Precisava se juntar a seu amor. Não viveria mais dessa forma tão insalubre. Seu sentimento não seria em vão.

De súbito, soube o que fazer.

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