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Oliver ligou sua televisão e começou a procurar algum filme interessante para assistir. Já estava há 3 meses naquele trabalho e tudo corria bem. É certo que no último emprego, ele passou mais de 1 ano trabalhando, mas esses 3 meses foram muito mais satisfatórios e compensadores monetariamente falando do que aqueles 365 dias trabalhando com qualquer coisa que lhe mandassem fazer. O emprego atual era simples, mas lhe ajudava a pagar suas contas e possuía um bom ambiente, com pessoas legais e comida boa. Por enquanto, mas só por enquanto, isso já lhe bastava.
Decidiu assistir algum do Kubrick, O Iluminado foi sua escolha. Um filme longo, assustador, mas não tão pesado como Laranja Mecânica, e nem tão lento como 2001. Oliver pegou mais uma fatia de pizza da caixa de papelão quadriculada, na qual possuía um símbolo da pizzaria que ele havia feito o pedido. Uma das melhores da cidade, sem dúvidas. A maioria que era possível de encontrar naquele lugar tinham as bordas borrachudas demais, ou um catupiri falso que dava dor de barriga após um tempo. Jack Nicholson aparecia em sua tela na entrevista de emprego que o levaria para o Overlook. Oliver já havia visto aquele filme várias vezes, mas nunca cansava. Apesar de gostar mais do livro, adorava as técnicas que Kubrick fizera naquele longa, achava genial. Enquanto assistia, podia se ver dirigindo um filme tão bom quanto, com atores tão empenhados quanto e com técnicas igualmente impressionantes. Um dia estaria ali, mas por enquanto teria que se dedicar na cafeteria o quanto pudesse.
Oliver via o pequeno Danny e se identificava, afinal o personagem não era a única criança que sofrera por causa do pai. Não por causa de fantasmas e machados, mas por outro problema tão horrível quanto, e que tanto seu pai como o Jack Torrance apresentavam: a bebida. Sempre que ele assistia ao filme, pensava nisso. Seu pai era um fantasma, mais assustador que os dos filmes, porque era real, e ainda estava vivo.

. . .

Mais um pedido estava sendo registrado, como muitos e muitos que já haviam sido feitos. Denize estava logo atrás de Oliver, preparando os cafés com muita calma, afinal o lugar ainda não havia enchido de pessoas, então era sempre bom poupar energias. Alguns indivíduos entraram, e entre eles estava uma menina. Oliver não lhe deu atenção, geralmente não costumava nem olhar fixamente nos rostos dos clientes, apenas os olhando de relance e anotando os pedidos, tentando ser o mais gentil que conseguia. Era algo que sempre funcionara, mas quando essa menina se aproximou o suficiente para que ele pudesse ver seu rosto, não conseguiu ignorar mais.
Era uma moça, pelo rosto aparentava ter 19-20 anos, mais ou menos a idade de Oliver. Tinha um rosto branco, com um queixo e mandíbula arredondados. Era magra, como Oliver, e tinha um cabelo preto e curto, que não chegava a encostar nos seus ombros. Os óculos que se sustentava acima de seu nariz era arredondado, com bordas pretas. As lentes destacavam seus olhos, que eram de um castanho escuro tão profundo que Oliver sentiu que fossem duas janelas para o universo. Seus cílios não eram grandes e suas sobrancelhas eram finas. Seus lábios eram de um rosa claro delicadamente belo, com algumas poucas marcas, que provavelmente eram frutos de uma mania bastante comum de puxar a pele superficial deles. Para completar toda aquela pintura pitoresca que se encontrava à sua frente, seu corpo era de uma magnitude que ele não vira em mais ninguém, com curvas acentuadas que mais pareciam pinceladas perfeitas de algum grande poeta genial e triste. Seus seios eram moderadamente volumosos e suas pernas eram como pilares de um grandioso e deífico monumento, que eram acompanhadas de dois All Star amarelos em seus pés. Sua altura era pequena, aparentava ter cerca de 1,60 aproximadamente. Usava um cropped branco, sobreposto por um casaco de cor preta, e uma saia também branca. Oliver não sabia como ela aguentava usar aquilo em um dia tão frio, mas não se importou, pois sua beleza etérea o hipnotizou de uma forma que nenhum pensamento racional ousou passar por sua mente.

- Um Capuchino com caramelo, por favor.

Oliver continuou sem falar nada, como um filme romântico clichê. Estava paralisado, a beleza que via em sua frente era atordoante. Aquele rosto angelical com certeza seria fonte de inspiração para escritores românticos antigos. Certamente faria parte dos contos de mulheres de Edgar Allan Poe. Não, não apenas isso, seria a mais bela. Aqueles olhos vibrantes deixavam Oliver fraco e assustado, mas completamente quente por dentro.

- Ei Dickens, tá dormindo é? Atende a menina! – falou Denize.

A voz dela foi como um despertador o acordando de um sonho. Logo voltou a realidade e viu aquele lindo rosto o encarando de forma confusa à sua frente. Balançou a cabeça e respondeu:

- São 12,90, vai beber aqui?

Ele mesmo se impressionou com a sua naturalidade ao responder. Ainda estava impactado com a aparência da menina, mas conseguiu se concentrar, de alguma forma.

- Vou sim.

- Ok, te chamamos já já. Qual seu nome? A gente coloca no copo, tipo Starbucks.

- Ah que legal!  Laura, obrigado!

Laura, pelo menos o nome já sei. Pensou ele. Além do rosto e corpo, o nome também era bastante bonito e agradável. Ele precisava pelo menos conversar um pouco com ela, só havia essa chance. Laura saiu e foi para sua mesa, no primeiro andar. Oliver a acompanhou com o olhar até que sumisse do seu campo de visão, e quando isso aconteceu, Denize chegou ao seu lado.

- Você fumou o quê, ein Dickens?

- Quem é aquela menina?

- O nome você já sabe. Ela vem aqui as vezes, geralmente com os colegas da faculdade. É uma das mais bonitas que vi por aqui.

"Ela vem as vezes? Como eu nunca a vi? Será possível que não prestei atenção nela? Impossível". E era verdade, uma beleza daquelas era impossível de não reparar. Mas talvez ela só fosse linda daquela forma para ele, e não necessariamente para as demais pessoas. Mas Oliver não chegou a pensar nisso naquele momento. Óbvio que ele poderia não ter prestado atenção, ela poderia ter chegado no meio da multidão em horário de pico, seria difícil de notar uma só pessoa em específico no meio de tantas..., mas agora havia reparado, e nunca mais esqueceria aquele rosto.

- Como assim ela vem às vezes? – Perguntou.

- Ah, de vez em quando. Não acho que alguém iria todos os dias pagar para beber um café. Todo mundo tem em casa, só vêm pelo passeio e para beber algum diferente, mas não é sempre.

- Mas como que eu nunca a vi?

- Eu sei lá, você é meio bobão, não duvido que não tenha reparado.

- Acho que não, eu teria notado.

- O que deu em você ein? Tá apaixonado é?

- Acho que sim.

Denize começou a gargalhar alto, chamando a atenção de várias pessoas, que olharam para eles. Oliver sentiu o rosto corar e perdeu o jeito, se afundando em seus ombros.

- Cala a boca Denize, parece uma criança!

- Foi mal cara, tenta falar com ela, vai! Usa a desculpa de levar o café e bebe algum lá também.

Ela lhe entregou um copo quente, com o Cappuchino caramelizado dentro. Oliver se dirigiu até às máquinas e fez um para si mesmo; o pegou e se dirigiu até a menina.

Amor à Tarde.Onde histórias criam vida. Descubra agora