VIII

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Assim que o ônibus interrompeu sua tremedeira e estacionou no ponto, Oliver acordou Laura que ainda dormia. Não deixou de notar como seu rosto aconchegado em um sono leve e tranquilo era lindo e reconfortante. Cada linha de seu rosto era de uma delicadeza tão nobre e certeira que ele sentiu que poderia desmanchar ao tocar nele com maior força, como um quadro onde as longas e poéticas pinceladas ainda estão secando.

Pousou levemente sua mão sobre os cabelos lisos e hidratados dela, a levando logo depois para seu ombro, onde carinhosamente sacudiu.

- Acorda Bela Adormecida, chegamos.

Laura lentamente abriu seus olhos, tentando se lembrar do que havia acontecido antes de adormecer. Levantou seu rosto e ao ver Oliver lhe encarando, sorriu. Um sorriso doce que quase fez Twist derreter.

Ao se levantar, várias pessoas passaram em sua frente, o fazendo cambalear e ser obrigado a agarrar sua mão em algum dos apoios do veículo para não cair. Laura riu alto o suficiente para que todos olhassem para os dois.

- Que escândalo! - Disse Oliver, rindo.

Após dizer isso, outra queda quase ocorreu, e ele foi novamente obrigado a se segurar, desta vez com mais força. Laura riu ainda mais alto.

Desceram as escadas agradecendo ao motorista, que acenou com um sorriso e logo fechou as portas do ônibus.

- Passei o dia inteiro vendo você fazer café. - Disse Laura se virando para Oliver. - O mínimo que você pode fazer é me acompanhar até em casa.

Oliver sentiu seu corpo travar. Lutou bravamente para que suas pernas não ficassem trêmulas o bastante para que fosse perceptível a ela. Ele sabia que conseguiria, mas não que seria tão rápido assim! As coisas estavam acontecendo mais depressa do que ele estava preparado. Mas ainda assim precisava continuar, não poderia fraquejar nessa altura do campeonato.

- Sim, donzela - falou ele, depois de muito esforço. - Não se preocupe, eu irei lhe acompanhar pelas terras sombrias e desoladas do reino até seu castelo.

Laura riu escandalosamente.

- Eu iria falar que te protegeria dos possíveis monstros do caminho - disse Oliver, rindo. - Mas acho que eles já vão se assustar e fugir só de ouvir essa risada escandalosa.

- Ah vá...

Laura socou seu braço, sem parar de rir.

. . .

- Ok, me diga 5 filmes da sua vida. - disse Oliver, enquanto caminhavam por ruas dominadas pelo crepúsculo. - Aqueles que você escolheria para levar para uma ilha deserta.

- Difícil... Lady Bird, Donnie Darko.. - Falou Laura, levando a ponta do dedo aos lábios, pensando em outros. - Sociedade dos Poetas Mortos, com certeza... Lala Land e o primeiro de Harry Potter.

- Boas escolhas, mas eu colocaria algum do Woody Allen aí.

- Nah.

- E músicas? - Continuou Oliver.

- Músicas ou artistas?

- Tá, artistas, vai.

- Elis, óbvio. Rita Lee, adoro Veloso e o Maia também.

- Tudo MPB?

- É perfeito. Minha casa é aqui já, aliás.

Era uma casa simples, nada muito chamativo, exceto pelo portão marrom que era bastante charmoso. Oliver se perguntou como ela já havia comprado uma casa com tanto pouco dinheiro. Herdeira, supôs.

- Pronto, donzela, estás entregue.

- Só vou estar verdadeiramente protegida dos males do mundo se você me deixar dentro do castelo, não só na entrada. - falou rindo.

Oliver travou mais uma vez. Ficou sorrindo, procurando alguma palavra para responder, mas sua mente estava tão confusa que nada audível saiu dele. Laura riu daquele jeito que Oliver tanto estava amando, puxou seu braço, fazendo com que sua cabeça e o resto de seu corpo fossem juntos, e o beijou.

O que ele sentiu naquele momento não é possível ser escrito de forma precisa, mas o que estava óbvio é que havia sido a melhor coisa que lhe acontecera até aquele momento em toda sua vida. Se sentiu nas nuvens, parecia estar fora da realidade. Uma sensação divina.

- Agora irá?

- Não sei o que estamos fazendo aqui ainda.

Amor à Tarde.Onde histórias criam vida. Descubra agora