III

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Era um dia quente, e misturado com o vapor do café em constante preparo para os clientes que iam e vinham, Oliver quase derreteu ali. A todo momento agarrava o avental branco que usava e o levava para seu rosto, limpando o suor que pingava dele. Como o lugar onde estava era uma cafeteria bastante conhecida na cidade, apareciam clientes de todo tipo, mas em sua maioria eram pessoas no intervalo do trabalho ou estudantes de uma escola particular que não ficava muito longe dali. Geralmente os estudantes faziam demasiado barulho, atrapalhando os cansados do trabalho que ficavam em seus notebooks no canto das mesas das paredes. Os adolescentes sempre estavam em grupos de 4 ou 5 (quando não era um casal meloso) e ocupavam quase todas as mesas do primeiro andar, o que Denize detestava.
- Estes merdinhas acham que são quem para roubar meu lugar hein? – dizia ela.
Oliver não estava se incomodando tanto, talvez porque era apenas seu primeiro dia, mas em geral não ligava muito para os adolescentes bobões e nem com os adultos cansados chatões, talvez só um pouco com os bêbados que chegavam falando bobagens e que eram sempre expulsos por Denize. Ela, graças ao seu pavio curto, sempre os xingava e intimidava, e os outros riam enquanto assistiam, mas Oliver decidiu tentar conversar ao invés de ter que escutar os gritos de Denize. Ele conseguiu essa oportunidade quando chegou um no meio daquela tarde de seu primeiro dia.

- Vai lá então, tenta conversar com ele, vou ficar aqui só olhando. – disse ela.

Oliver foi. Denize chamou Daniel e Neide para assistir àquela situação junto a ela no balcão. Ele se aproximou da porta de vidro e a abriu, e não demorou muito para o vento levar a ele o cheiro de bebida e urina que aquele bêbado tinha impregnado. Era extremamente forte, a ponto de fazer com que Oliver repensasse na sua decisão mesmo que por um momento, mas logo tampou o nariz e continuou. O indivíduo tinha uma barba grande e feia, era cinza e parecia que não tinha contato com a água há muitos anos. Oliver podia jurar que vira um pedaço de pão mofado colado nela e outras coisas que não soube o que era, e nem queria saber.

- Opa cara, é o seguinte, acho melhor você se retirar, porque aqui é um local...
Ele foi interrompido por grunhidos e frases que eram impossíveis de se entender.

- Olha, estou falando sério, não tem motivos para você ficar aqui. Ninguém vai te dar nada.

Mais grunhidos e um grande sorriso saíram do bêbado. Oliver pôde ver que lhe faltavam quase todos os dentes da boca, e os que sobravam estavam todos pretos ou chegando perto disso. Se já não bastasse aquele fedor horroroso que queimava o nariz de Oliver, da boca do homem saía um bafo nauseante quase insuportável. Ele não desistiu.

- Meu amigo, se você continuar aqui por mais um segundo, eu vou ter que ser mais rígido com você. As pessoas que trabalham aqui passam o dia todo limpando o lugar, então não vou permitir que um imundo como vo...

Uma grande sombra cobriu Oliver no momento em que o bêbado chegou perto dele e o abraçou. Ele não teve a oportunidade de fugir a tempo e acabou mergulhando nos braços daquele homem. Ele sentiu a barba suja na sua testa e sua roupa imunda no seu rosto. Foram segundos, mas pareceram horas. Ele empurrou o velho e tentou escapar, mas o homem o agarrava forte e continuava falando coisas sem sentido que mais pareciam barulhos de animais ou de um bebê estranho. Suas tentativas de escapar daquele abraço mortal e nojento tiveram sucesso e ele correu para dentro da cafeteria, onde Denize e os outros estavam rindo a ponto de chorar.

- Agora entende por que eu sou agressiva? Esses imundos jogam a vida fora e vêm encher o saco dos outros. – falou ela, limpando as lágrimas dos olhos. – Tem que meter uma vassoura neles mesmo!

- Minha roupa tá toda fedida agora!

- Pega outra lá trás, sempre tem umas reservas. – comentou Neide, apontando para um pequeno corredor atrás deles. – Só abrir a porta branca naquele corredor. Tá um pouco emperrada, mas é só empurrar. Lave o rosto no banheiro antes.

Amor à Tarde.Onde histórias criam vida. Descubra agora