Capítulo 40

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Os gêmeos estacionam suas motos em um estacionamento mal iluminado e parcialmente cheio. Ian estacionou logo ao lado. O céu não mostrava a beleza de uma única estrela sequer, deixando a lua brilhar solitária, produzindo uma luz forte e prateada.

Verônica e Ian desceram da motocicleta e removeram os respectivos capacetes. A menina devolveu os óculos ao rosto e passou a mão pelos cabelos castanhos. Ian também passou os dedos levemente pelos próprios cabelos, e se voltando para ela, disse um firme: "Vem".

Verônica ainda em seu estado de silêncio, e agora um pouco cética com o ambiente, seguiu Ian de perto, mas o rapaz andava em passos largos, deixando ela sempre a observar suas costas.

Enquanto eles andavam para fora do estacionamento, um murmúrio altíssimo começou a reverberar pelo local aberto. O cheiro de gasolina impregnava o ar e muitas pessoas estavam reunidas em grupos, principalmente em volta de motos. Verônica cruzou os braços acanhada, olhando atenta para tudo ao redor. Por um segundo sentiu-se incondicionalmente vulnerável e incomodada com tantas pessoas estranhas, mas esse segundo não se prolongou quando os gêmeos se projetaram um a cada lado dela. A caminhada ficou estranhamente mais tranquila depois daquilo, até que após mais algumas passadas, Ian parou de andar sem aviso prévio e Verônica esbarrou a testa em suas costas. O ambiente agora estava mais claro, iluminado por vários postes altos de luz branca.

O rapaz a olhou por cima do ombro e finalmente recebeu alguma emoção do rosto da menina: uma carranca de estresse enquanto ela esfregava a testa.

Ian se moveu para o lado e a trouxe para frente, pressionando levemente sua palma nas costas dela. Verônica, ainda tímida, analisou com cautela cada detalhe.

Havia uma bancada extensa com computadores e muitos fios pretos entrelaçados e espalhados. Havia uma iluminação de luminárias totalmente focadas naquela mesa. Também havia muitas pessoas em volta, mas a bancada ainda possuía um espaço amplo ao seu redor, e sentado na beirada dela, de braços cruzados estava Roy, e de pé, voltado para ele, Lamar.

Assim que os olhos claros do rapaz cruzaram com os de Verônica, ele fez questão de reverberar em alto e bom som:

— Olha só quem chegou!

Lamar virou-se parcialmente para checar.

— Fiquei sabendo que é você quem vai comandar hoje, florzinha! — disse o rapaz moreno em voz alta, fazendo algumas pessoas ao redor olharem diretamente para a jovem.

A expressão de Verônica passou de alerta para decepcionada, e com a testa franzida ela se voltou para Ian.

— Você me odeia, né? — questionou olhando no fundo dos olhos gelados dele.

— Você vai se sair bem. — ele respondeu, mas soou mais como uma condenação.

A menina engoliu um suspiro tenso e retornou seu olhar para os dois rostos conhecidos à frente.

— Vai lá... — Ian acrescentou.

E com um fechar de olhos demorado, Verônica tomou coragem. Ainda que se sentisse desconfortável naquele lugar, ela caminhou até os rapazes que a receberam com sorrisos animados e curiosos.

Ian a observava ganhar distância, e só quando ela chegou até Roy e Lamar, ele olhou para o gêmeo a sua direita, o de camiseta preta.

— Não saiam de perto dela. — ordenou. — Volto antes das corridas acabarem.

Os meninos assentiram com a cabeça. Enquanto isso, Verônica ouvia dolorosamente o taramelar de Lamar e Roy dizendo coisas do tipo "Eu vou te ensinar como tudo funciona" e "É de boa, só relaxa!", mas, por um instante de instinto, ela olhou para trás, por cima do ombro, no justo momento em que Ian dava as costas e se afastava, sumindo dentre as pessoas que transitavam. Um sentimento negativo surgiu em seu corpo. Verônica via Ian como se fosse para si uma certeza e incerteza ao mesmo tempo. Como se em alguns momentos ele estivesse completamente disposto a ela, e em outros como se ele pudesse desistir assim que a conhecesse verdadeiramente. Do passado ao presente.

Night Rise (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora