Capítulo 37

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Verônica abriu os olhos. O quarto estava coberto por uma baixa iluminação matinal. Seu sangue agora frio puxava a realidade dolorosa que se encontrava seu corpo. Estava tão pesado que sentia a sensação de rochas amarradas ao seus tornozelos. Entretanto, um braço com um peso maior do que o seu a segurava pela cintura. O corpo morno de Ian colado atrás do seu lhe dava a sensação de prisão, e conforme ela se mexia para sair dali, ele impossibilitava ainda mais sua fuga, mantendo-a perto.

A jovem não sabia ao certo se era inconsciente ou se ele estava fazendo de propósito, e por uma última vez, ela tentou levantar-se, e como esperado, não saiu do lugar.

Verônica, forçada a permanecer na cama, fora atacada por milhares de pensamentos acelerados com possibilidades possíveis e impossíveis, levando cada uma delas como se realmente pudesse ser uma verdade absoluta, até o momento em que escutou a voz atrás de si, grave e arrastada.

— Você ainda não disse seu nome... — Ian falou, e o peso do sono se entregava nas notas de sua fala.

Ele a virou para si lentamente, puxando-a ainda mais, para que pudesse encontrar seus olhos, e os seus estavam mais sonolentos que os dela. Verônica tinha um olhar de quem acabara de injetar adrenalina na veia.

— Eu quero saber o seu nome — continuou ele.

A jovem tinha para si neste momento, um Ian plácido, tão morno quanto seu corpo, tão calmo quanto aquela manhã que se resumia no silêncio do quarto, e mesmo assim, a jovem não respondeu. Não conseguiu. Sua mente corria veloz pela incerteza sobre o futuro, e naquele segundo, tão rápido quanto uma gota de chuva cai do céu, ela viu a mudança no olhar do rapaz. Ian apoiou um braço na cama, encarando os olhos dela como se ali eles fossem ter a conversa mais séria da vida deles.

Verônica pestanejou, temerosa. E lá estava ele, tão intenso quanto ondas malignas do mar. Não remetia frieza ou desinteresse, a verdade é que Ian ansiava por algo, algo que aparentemente, só Verônica poderia lhe dar.

— Eu quero te propor uma coisa — disse ele.

Verônica assistiu os olhos passivos do rapaz se tornarem sérios.

— O que você quer propor? — ela perguntou com receio. Talvez ela já tivesse ido longe demais, e só agora havia percebido. Ian ainda não a conhecia.

Ele pôs uma mecha de cabelo atrás da orelha dela com ternura antes de falar.

— Se você ficar comigo, não vai mais precisar fazer esses seus... trabalhos... — começou Ian.

Verônica que segurava o lençol sobre seus seios, uniu as sobrancelhas.

— Meus... trabalhos...? — repetiu lentamente, e um segundo depois puxou o ar e fechou os olhos para se acalmar. — Eu já te falei que eu não sequestro pessoas! — declarou ela em tom de impaciência. Verônica pensava que se Ian não encarava nada bem aquela situação, seria bem pior se ele descobrisse o tipo de trabalho que ela já fez no passado. Coisas pela qual se arrepende e é assombrada diariamente. Com total certeza, Ian nunca a entenderia, tampouco a olharia com carinho quando descobrisse as linhas tortas de seu passado.

O rapaz balançou a cabeça negativamente em um movimento curto.

— Você rouba tecnologias, dados de empresas privadas, e faz tudo isso por conta própria. Se algo der errado pra você, como deu com os Vega, você já era.

A menina encolheu os ombros com indiferença.

— E daí?

— Não seja idiota. Comigo você tem uma rede ampla de proteção. — ele rebateu irritado.

Night Rise (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora