— Ele morreu porque engoliu uma agulha de costura — disse Tom sem acentuação alguma na voz, como se estivesse comentando sobre um dia comum. Era uma mentira, mas ele adorava falar coisas absurdas somente para assistir a reação das pessoas.
Matteo, de pé com as mãos nos bolsos, ergueu uma sobrancelha.
— Ele engoliu uma agulha? De verdade?
Tom balançou a cabeça devagar, de baixo para cima. Seu cigarro já havia chegado ao fim, agora ele estava de braços cruzados encarando o rapaz.
Matteo desviou o olhar e soprou o ar, intrigado e curioso com a história que acabara de ouvir, no exato momento em que Ethan surgiu na porta.
— GRAÇAS A DEUS! — berrou Isaac saindo da escuridão da sala. O rapaz estava sentado em uma cadeira encostada na parede ao fundo, onde a iluminação não se deleitava.
— Achei que ia ficar de babá a noite toda pro seu novo melhor amigo — ele fez o sinal de aspas com os dedos.
Matteo o olhou rabugento, seu rosto estava quase congelado em expressões confusas e irritadas ao mesmo tempo.
— Você quer saber por que ele engoliu uma agulha de costura? — Tom continuou, como se nada estivesse acontecendo.
Ethan olhou sem entusiasmo para Isaac, agora ao seu lado de braços cruzados. O rapaz recém chegado já estava acostumado com tamanho drama.
Matteo apertou os olhos e chacoalhou a cabeça.
— Já chega disso — disse para si mesmo e seguiu para a porta em passos decididos, tirando um centímetro fino do ombro de Ethan ao passar.
— Beleza, vejo vocês depois! — Ethan sorriu para os amigos e mexeu a cabeça, e com um tapinha no ombro de Isaac, que a propósito, não parecia dispor de nenhum pingo de felicidade, tomou caminhou atrás de Matteo.
Isaac encarou as costas do amigo até a porta se fechar, e quando o silenciou ganhou a sala, ele virou sua atenção para Tom.
— Por que ele engoliu a agulha? — perguntou sério.
Matteo passava pelo foyer em passos largos, e Ethan apressurou os seus para alcançá-lo, mas ao perceber tal presença ao seu lado, Matteo questionou o olhando de relance:
— O que vocês fazem aqui?
Ethan elevou os ombros.
— Aqui é um ponto. Acontecem festas de vez em quando, ou reuniões. E é onde a administração fica.
Eles passaram pela porta e foram abraçados pela brisa levemente gelada, e então, Matteo parou, se voltando para o outro rapaz.
— Eu compreendi que você é mais do que um simples pilar dessa... — começou Matteo, olhando Ethan de cima a baixo.
O rapaz que também parou de frente para ele e arqueou uma sobrancelha como se o desafiasse a completar a frase, mas Matteo a matou na ponta da língua e limpou a garganta, recompondo-se.
— De qualquer forma, corridas clandestinas são comuns para Ayla, eu sei... e para a maior parte dos pilotos profissionais de motociclismo. Todos eles participam disso, aliás, o valor de dinheiro envolvido é milionário — continuou Matteo. — O diferencial é que eles são meros espectadores. Pilotos profissionais não se arriscam em pistas ilegais. Se querem ser o melhor, precisam preservar o corpo e cometer um pequeno erro pode levar não só ao fim da carreira como também ao fim da vida. — declarou com ar de sabe tudo.
Ethan olhou para o lado fungando o nariz enquanto ouvia aquela preleção, desejando que terminasse antes de sua divina paciência acabar. E Matteo, ainda o olhava sério.
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Night Rise (Livro 2)
CasualeNa continuação da história de Night Ride, Ethan se depara com obstáculos inimagináveis quando Ayla é sequestrada. O resgate se torna sua prioridade, e com a colaboração do Comando Sul, de hackers, e até de companhias desagradáveis, o plano se inicia...