35. A GOOD VILLAIN

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Passado.

Cerca de seis meses após a descoberta da Seita e da prisão psiquiátrica do Pastor Norton Tomlinson, Harry continuava indo visitá-lo em busca de entendimento e respostas; por mais que não houvesse.
Louis ainda não conseguira ir ver o pai. Todas as cicatrizes e marcas deixadas pelos traumas vividos na Seita ainda eram muito frescas, e ele estava fazendo acompanhamento psicológico para conseguir encarar tudo o que viveu - e ao que sobreviveu. Não conseguiria encarar Norton tão cedo sem que isso provocasse uma tremenda crise.

Mas Harry...

Harry encarava Norton. E Harry tentava entender Norton. Ele ainda buscava pelas raízes daquela psicose, daquele mal em forma de paranoia.

Por ser diferente, Harry sentia, e queria, compreender o que também era diferente.

[...] Mostrou o distintivo do FBI e seguiu pelos corredores rumo à sala onde encontrava o Pastor a cada mês. Era um cômodo iluminado pelos raios solares, com uma grande janela de vista para o exterior do Instituto, mas não havia nenhum objeto cortante ou possivelmente ameaçador que ficasse às vistas do paciente/criminoso. Ele usava uma camisa social lilás com um só botão aberto, gravata preta e seus cabelos mais grisalhos também estavam mais curtos. O Pastor olhou para o Detetive quando ele se sentou na cadeira de frente para si, do outro lado da mesa. Harry serviu café para ambos e espalhou um jogo de dominó sobre a mesa, começando a dividir as peças entre os dois.

Um costumeiro silêncio tomava conta. Norton nada dizia, Styles também não. Eles se olhavam vez ou outra. Normalmente, levava tempo até que o Pastor falasse alguma coisa.

- Como está meu filho? - Finalmente ele perguntou, a mesma pergunta de sempre. Harry deu uma olhada breve à ele, ponderando ao tomar um pouco do café.

- Está melhorando aos poucos. Ele está se tratando, e fazendo faculdade.

Norton suspirou minimamente, tirou um cigarro detrás da orelha e pediu à Styles que acendesse.

- Desde quando fuma? - Perguntou, franzindo o cenho antes de sacar um isqueiro do bolso e acender ao cigarro.

- Percebi que tem efeito calmante.

- Norton.. - Harry suspirou pesadamente, se aprumando na cadeira antes de sua jogada no dominó. Ele estabeleceu contato visual. - Precisa reconhecer que o que fez à Louis foi doentio. Você o criou naquilo, plantou tantos traumas nele que ele sequer consegue ainda vir até aqui visitá-lo. Aquilo não era normal, Norton, não era real como você pensava.

- Meu filho ressuscitou como foi previsto em seu nascimento, ele voltou à vida depois da morte.

- Louis tomou antídoto contra envenenamento antes de aceitar qualquer bebida naquela noite, Norton. O mesmo antídoto que ele pôs em seu café para salvar a sua vida de VOCÊ mesmo. Você envenenou o seu filho, precisa enxergar a problemática nisso. - Harry solta uma lufada de ar intensa, se inclinando para aproximar mais os rostos. Ele olhou bem no fundo dos olhos do pastor. - Acredite... Eu sei o que é ser diferente. Eu sei... Como é a sensação de ter vindo ao mundo sem humanidade, lutando para tentar se entender, procurando incessantemente por um pequeno vestígio de humanidade na intenção de se encaixar, mas nunca encontrar. Eu encontrei isso no teu filho, Norton, Louis é a humanidade e a emoção que há em mim, ele desperta o único lampejo de luz na minha escuridão e eu sei... Eu sei que no fundo, ele é a sua humanidade também. Você o ama tanto que acreditou que o estava salvando de algo irreal, mas não, tudo aquilo nunca foi real.

O Pastor engole um par de lágrimas, mas há como notar o peso em seus olhos por trás das lentes arredondadas dos óculos. Ele subiu o olhar para encarar Styles.

Behind the Red Lake | l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora