Capítulo 12

49 13 6
                                    

A fina fresta de sol que se esgueirava sobre o quarto alcançou os olhos fechados de Rowena. Lentamente elevou seus finos dedos até os olhos, e tratou de coça-los em uma falha tentativa de espantar a luz. Sua cabeça doía de leve e tinha quase total certeza de que era por conta da bebida de ontem, mas também pensou que poderia ser o estresse de estar longe de Abor. Ao se virar conseguiu visualizar o rosto ao seu lado, que dormia sereno, parecendo estar em bons sonhos. Se recordou do que aconteceu na noite passada, e por segundos se questionou se não foi apenas coisa da sua imaginação por conta do álcool em seu organismo; Mas não, no fundo ela sabia que não era.

Se levantou devagar e como Jarlath ainda dormia, decidiu se vestir sozinha ao invés de deixar as criadas entrarem para lhe vestir assim como todos os dias. Foi até o cômodo ao lado e com uma leve dificuldade conseguiu fechar seu vestido, vestir os sapatos de salto apertados e arrumar seu cabelo em um coque deixando duas mechas na frente para mostrar as curvaturas. Não quis usar pintura em seus olhos, sinceramente Magor não merecia que ela gastasse seu delineador todo com este reino.

Ao sair do cômodo foi silenciosa para o andar debaixo e percebeu que acordara deveras cedo, era um inferno não poder usar o celular para ver as horas. Parecia que os dias não tinham fim e que cada minuto parecia uma eternidade. Deu voltas em busca de alguma alma viva e se deparou com balbucios seguidos de sermões e decidiu seguir a voz. Estava na sala de jantar, tentavam ser discretas mas o nítido estresse no ambiente fazia ambas mulheres falarem mais alto.

Cordelia e uma serviçal falavam sobre Abor, o que chamou mais ainda a atenção e curiosidade da garota. Seus passos se tornaram mais cautelosos e sua audição tratou de ficar mais aguçada.

— Disse para que sumissem com todas as malditas carruagens.

— Sim, vossa alteza. Mas o rei Jarlath pediu pessoalmente a outros criados para que pudessem buscar mais carruagens.

— Que continuassem a mentir dizendo que não há carruagens, já foi um inferno conseguir sumir com elas na noite em que eles vieram. – encarou as orbes alheias com escárnio — E quem pensa que está chamando de alteza? Ainda sou sua majestade e não aquela mulherzinha.

Ouviram o ranger alto de portas se abrindo por completo. Suas expressões osilavam entre desespero e medo por terem sido ouvidas.

— Sua majestade sou eu – disse Rowena crispando os lábios. — Agora que já sei de todo seu plano ridículo faz todo sentido que tenha prendido seu filho aqui, Cordelia. Não consegue aceitar que este reino está arruinado, não é mesmo?

— Sua enxerida, o que estava espiando atrás da porta?

— Pelo que eu sei, no exato momento em que assinei os papéis de matrimônio este palácio passou a ser meu. Então eu faço o que quiser no meu reino, me ouviu?

— Vossa majestade, peço seu perdão – se reverenciou vendo Rowena repetir o ato.

Cordelia agora tinha em sua feição confusão e desgosto, era desprezível ver essa cena sem nexo de uma rainha se curvar para uma mísera criada.

— Claro que tem meu perdão, imagino que não teve escolha. Peça aos outros para que arrumem minhas malas e de meu marido, vamos partir agora mesmo pela manhã.

Assentiu, deixando a sala apenas com ambas mulheres que se encaravam com ódio mortal. Rowena soltou seus lábios em uma risada libertadora que começava a ficar alta a cada segundo, enquanto a mais velha sem entender nada cruzava seu braços a espera do fim.

De volta ao século XVIOnde histórias criam vida. Descubra agora