Capítulo 24 - Linha original

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No dia 03 de maio de 1500 em uma cabana velha e caindo aos pedaços nasceu Rowena, filha de uma bruxa e um feiticeiro que mexiam com magias perigosas. A mulher podia mexer significativamente com o tempo, passado, presente ou futuro. Mesmo que mudando apenas algumas horas, ainda alterava o tempo. O homem tinha poder o suficiente para reescrever momentos específicos que queria modificar. Caso algo desse errado ele poderia facilmente manipular o cenário até que tudo acontecesse como ele queria.

Mas quando ela nasceu, o equilíbrio do mundo que já era frágil por conta de seus pais, ficou ainda mais quebradiço. Ela era um erro, uma falha. Rowena tinha o poder de destruir, modificar e criar tudo que ela quisesse. Com o passar dos anos, enquanto ela era somente uma criança de dez anos, seus pais perceberam que ela não podia mais ficar perto deles, era como se ela sugasse a vida que vinha de cada um deles, trazendo a eles a morte antes mesmo de ela atingir a maioridade e por fim, escolhendo a vida eles a entregaram para uma velha bruxa conhecida.

Ela cuidou de Rowena mesmo sabendo que a presença da garota podia matá-la a qualquer momento, elas viveram juntas por sete anos. A velha bruxa ensinou ela a fazer poções, cuidar da casa e matar animais para se alimentar. Mas a pequena nunca aprendeu sobre ter um pouco de educação básica, então Rowena não sabia ler ou escrever.

Em 03 de maio de 1518, no décimo oitavo aniversário da garota, ela acordou ao lado do cadáver da velha bruxa. Sua energia havia sido sugada por completo quando Rowena finalmente havia se tornado uma mulher adulta, naquela madrugada mesmo ela faleceu fraca. Quando a garota achou o corpo, o desespero tomou conta dela completamente. Ela estava sozinha e sem saber o que fazer, mas ninguém nunca disse a ela que a própria existência dela trazia a morte a todos que cruzavam seu caminho.

Enquanto ela corria para fora da cabana em busca de algo ou alguém que pudesse ajudar ela, a garota se deparou com um muro alto e longo com quilômetros de distância. Sem saber quem morava ali e com sua mente banhada em desespero, ela apenas correu até onde estava a entrada do local. Ao gritar e berrar por ajuda, um homem velho usando uma Coroa foi diretamente até ela com a ajuda de seus servos. Ele pensou que ela era algum tipo de escrava que havia apanhado na mão de algum senhorio cruel, e Agustos um homem sempre tão bom e que sempre ajudava os necessitados não pode deixar de ajudar ela também.

Mas quando ela finalmente contou a ele sobre a mulher que a criou na cabana, ele imediatamente entendeu que se tratava de outra coisa. Por ela ser jovem e tão inocente, Agustos se apegou a ela, e quando viu já estava a tratando como uma filha. Ela passou meses com ele, assumindo um posto de princesa no palácio e quando os outros reinos souberam que Agustos tinha uma "filha escondida", o reino mais próximo; Magor, levou até Abor o seu filho mais velho; Jarlath.

Quando os olhares de Rowena e Jarlath se cruzaram foi como se almas gêmeas tivessem se encontrado, e de fato eles eram. Agustos vendo a nítida conexão acontecer entre eles aprovou o casamento na mesma hora, e quando Rowena se casou com Jarlath ela finalmente estava feliz. Com o avanço dos outros meses ela conheceu Ciberius que em mesmo instante se tornou seu melhor amigo, mas Agustos começou a ficar debilitado, ele começou a cuspir sangue, ficar pálido e fraco como nunca. O "efeito Rowena" era ainda mais forte em humanos sem magia alguma.

Agustos foi o primeiro a morrer, ela sofreu como nunca. Ela não entendia porque os pais a tinham abandonado, porque a velha bruxa havia morrido e agora Agustos que ela via como um pai também tinha ido embora. Rowena começou a entender que algo estava errado, alguma coisa não funcionava como deveria funcionar. Com o avanço do tempo Rowena ficou grávida e finalmente houve mais um pouco de alegria em meio à névoa de mágoa e tristeza que sua vida havia se tornado. Ciberius e Jarlath estavam simplesmente obcecados com o bem estar dela e do bebê.

E quando um lindo menino nasceu o reino inteiro entrou em festa, foi anunciado o nascimento do garoto e todos entraram em festa. Ciberius era realmente um tio babão e amoroso, cuidando do garoto em todos os momentos que precisasse. Ele se ofereceu para preparar uma torta para o garoto quando ele completou três anos de vida, Rowena aceitou o presente de bom grande. Mas a notícia veio mais tarde, Ciberius foi saqueado por ladrões, morreu sozinho e ensanguentado na floresta da estátua de Agustos, em uma briga tão bruta que quebrou uma pequena parte da estátua - o dedo - ele morreu ao lado do cesto de frutas que estava farto de amoras para uma torta deliciosa que ele faria para o sobrinho que tanto amava.

Quando Rowena e Jarlath souberam da morte dele, aquele reino sucumbiu a trevas, eles ficaram por meses desolados e infelizes sem ao menos sair para ver a luz do sol. Rowena decidiu trocar o nome de seu primogênito para Ciberius, homenageando seu melhor amigo, já Jarlath decidiu fazer a união dos reinos ficar ainda mais clara, deixando que Magor e Abor tivessem um nome só; Ciberius.

Rowena e Jarlath viveram juntos por mais dois anos, quando ela percebeu que ele estava começando a ficar pálido, fraco e cuspindo sangue. Ela sabia que era culpa dela, no fundo ela sempre soube que tudo era culpa dela. E mesmo que Ciberius tenha morrido de um ataque, ela sabia que o universo iria tirar ele de qualquer forma da vida dela, seja de uma doença misteriosa ou aquele ataque surpresa. Sempre foi ela.

Quase como um instinto natural, quando Jarlath acordou ao lado dela pálido e sem vida o universo inteiro sofreu as consequências e pela primeira vez Rowena usou seus poderes de bruxa. Ela alterou a história pela primeira vez, trazendo Ciberius e Agustos de volta à vida e mantendo Jarlath saudável. Por mais que aquilo fosse um ato lindo de amor, a alma de ambos e até mesmo a frágil alma de Jarlath sabiam que as coisas não estavam bem, Rowena conseguiu manter eles saudáveis e com suas idades preservadas por cerca de cinquenta anos, mas mesmo que eles parecessem bem e "jovens" a alma deles gritava por descanso.

O peso de estar vivo somente por causa de um feitiço estava destruindo todos, até mesmo o filho dela. Vendo aquela angústia e os homens que ela amava parecerem zumbis a cada ano que se passava ela decidiu alterar todo o universo, criando um novo. Mas no fim todos estavam mortos, ela criou de novo, de novo, de novo, de novo... Era o destino dela, era inalterável. Ela sempre mataria todos que estavam ao redor dela, de uma forma ou de outra, de causas naturais ou com eventos que levassem a isso.

Ela resolveu mudar as táticas, mudar os séculos. Recriar universos em 1400, 1600, 1700, 1800, 1900, 2000... Mas em todos os malditos anos tudo dava errado. Com o avanço da tecnologia eles morriam com acidentes de motos, carros, e já houve vezes que a alma deles estava tão desgastada que eles sucumbiram até mesmo ao suicídio. Eles precisavam descansar, mas ela não os deixava ir. Quando Jarlath tentou suicídio por cerca a última vez, na linha temporal número 492, ela finalmente entendeu. Aquilo nunca iria parar.

Rowena decidiu então finalmente deixar a alma deles em paz, criando um universo onde eles viveriam no século dezesseis, como mandava a linha original e ela viveria no século vinte e um, junto da imagem que ela tinha de seus pais quando era apenas uma criança. Ela apagou a própria memória e se certificou de apagar todos os sentimentos dos outros, tanto Jarlath, quanto Ciberius e Agustos. A única coisa que ela nunca pôde mudar foi a alma.

Mas aquilo era impossível, eles não poderiam coexistir no mesmo universo sem que tudo aquilo acontecesse. Tudo que aconteceu tinha que acontecer, mesmo que ela estivesse em outro século. Por isso o universo a mandou de volta para onde ela pertencia; o século dezesseis. Ela precisava viver aquilo, ela precisava entender que mesmo os amando mais que tudo ela precisava os deixar ir. E agora, pela 493° Rowena finalmente entendia a verdade: Ela era sim uma bruxa, a mais poderosa que já existiu, com poder de alterar tudo e todos, ela era um ser imortal que viveria para sempre em loop em busca da própria felicidade.

E isso fez o universo inteiro se quebrar e se perder para sempre, todos que viveram antes de Rowena e todos que viveriam depois jamais saberiam da verdade, jamais saberiam que tudo que viveram foi apenas uma realização para Rowena estar onde estava agora. O mundo iria continuar, sem dúvidas, mas ela ainda viveria naquela terra por longas linhas temporais, conduzido seu inferno pessoal: o loop.

De volta ao século XVIOnde histórias criam vida. Descubra agora