Capitulo 25 - Final

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Quando Rowena acordou deu um salto na cama, se sentando enquanto respirava ofegante. Suas memórias todas tinham voltado, ela estava ali de novo, agora sabendo de toda a verdade. Jarlath correu até ela, preocupado. Ele se sentou na beirada da cama enquanto tocava delicadamente nos ombros dela.

— Ei, não se esforce muito. – a voz sai baixa e fraca.

Ela conseguia ver nos olhos dele que ele não estava bem, e que sim, Ciberius não estava mais ali entre eles. Rowena o abraçou imediatamente, caindo no choro enquanto soluçava.

— O Ciberius... – ela começou, mas foi interrompida.

— Enterrei o corpo dele.

— Foi minha culpa!

— Não, Rowena. Ele tentou te salvar, foram aqueles homens, a culpa é deles.

— Não, não foram eles – ela se afasta o suficiente para encarar ele — Quando eu toquei na estátua de Agustos eu tive uma visão, Jarlath. Eu vi tudo que eu já vivi. Nada disso é real, pelo menos não da forma que deveria ser. Eu deveria ter vivido a linha original sem mudar o destino mas... Eu não posso, eu não posso perder vocês.

— Do que você está falando?

— Eu sou uma bruxa, Jarlath. Eu mesma apaguei a minha memória, eu consigo mudar o passado, o presente e o futuro... Eu consigo alterar cada maldita planta, animal ou clima nessa terra.

— Rowena...

— Me escuta! Você se lembra quando estávamos no reino de Magor e sentimos o seu antigo quarto tremer? – ele assentiu — Fui eu, mesmo que inconscientemente, mas fui eu! Eu estou presa eternamente nisso, Jarlath. Meu destino é viver sozinha, sem nenhum de vocês, por isso vocês três sempre morrem.

— Rowena você está delirando, isso é normal...

— Não! Eu não estou delirando, eu recuperei toda a minha memória! – ela limpa as lágrimas, sua voz estava trêmula pelo choro. — Olha a janela, Jarlath.

Ela aponta, e quando ele olha na direção da janela as grandes portas que fechavam ela se abrem sem que ninguém tocasse.

— Isso foi o vento, meu amor...

— Vento? – ela solta um escárnio — O sol lá fora está forte Jarlath, mas se eu simplesmente quiser fazer chover, vai.

— Eu também não estou processando bem a morte dele, Rowena. Não dificulte isso- – ele para de falar quando uma tempestade forte começa abruptamente lá fora e as janelas batem se fechando.

Aquilo com certeza não era só o vento, as janelas se fecharam com a tranca e não era coincidência a chuva começar logo após ela falar. Ele olhou profundamente nos olhos dela e naquele momento ele sabia da verdade, ele sabia que ela não estava errada e tudo aquilo não era loucura alguma.

— Eu não sei como parar esse loop, Jarlath. Eu tentei fazer vocês imortais, mas vocês estavam apodrecendo por dentro, eu tentei levar vocês para o futuro mas isso não funcionou! Meu destino é morrer sozinha.

— Eu não vou deixar isso acontecer, e se for para eu morrer, eu farei cada dia ao seu lado ser especial como se fosse o último. – ele apertou as mãos dela.

— Eu consigo ouvir a sua alma gritando por descanso, Jarlath. E ela grita alto. – ela afasta as mãos — Antes de Agustos morrer, ele me disse muitas coisas, na época eu achei que ele só estava tentando me confortar pela morte dele que viria em breve, mas agora eu sei que lá no fundo era a alma dele me implorando por descanso.

— E o que ele disse?

— "Não se pode apagar uma história. As coisas acontecem da forma que devem acontecer", também disse "Apenas descanse, deixe as coisas em seu percurso natural." – ela suspira profundamente, cada lembrança era uma dor em seu peito — E minutos antes de morrer, ele disse "Nós dois sabíamos que esse dia chegaria". Não era sobre a morte dele, nossas almas no fundo sabiam que aquilo aconteceria no final...

— E o que mais você descobriu?

— Descobri que eu literalmente não me dou bem com mortes e por isso entrei em depressão quando perdi meu animal de estimação e também descobri que não importa quantos séculos eu seja avançada, eu realmente odeio ler e já me forcei muito a fazer isso. – ela riu sem humor.

— Lembro de quando você chegou aqui e te achei lendo um livro.

— Eu estava odiando cada segundo – ela acaricia o rosto dele — Quando eu cheguei aqui no século dezesseis e conheci o Ciberius, achei que no futuro a cidade se chamava Ciberius por causa que ele era seu irmão e você é o rei, mas... Eu entendi agora, você homenageou os reinos com o nome dele.

Jarlath fica em silêncio por alguns segundos, e então abaixa a cabeça, as lágrimas voltam para os olhos dele. Mesmo que ele não tivesse entendido o que significava "cidade", a menção ao nome do irmão o fez sentir o coração sendo esmagado.

— Eu estava pensando em fazer exatamente isso.

— Eu sei... E nosso filho, bem... É um garoto e ele vai se chamar Ciberius também, como em toda linha temporal.

— Ciberius iria amar saber disso – ele disse entre as lágrimas, suas mãos trêmulas tocam a barriga dela.

— Eu lamento, mas não existe um final feliz para nós dois, Jarlath – as duas mãos dela tocam o rosto dele, levantando para que ele olhasse para ela — Eu amo você, mais que tudo nesse mundo inteiro e eu juro que te amei em cada maldito universo.

— Me deixa viver ao seu lado, por favor.

— Só até o tempo que eu puder – os dedos dela acariciam as bochechas dele — Você tem que me prometer que quando chegar a hora vai me deixar ir, pelo bem do nosso Ciberius – ela encara a própria barriga.

— Droga! – ele afasta o olhar, mais lágrimas caem dos olhos dele — Ok, eu prometo – a firmeza em sua voz mostrava seu comprometimento com aquilo, mas estava claro que ele não estava feliz com isso.

Pelos próximos quatro anos Rowena, Jarlath e o pequeno Ciberius viveram bem. Rowena infringiu as leis do universo mais de uma vez levando o filho para visitar os pais, ela sabia que no final ela perderia tudo de qualquer forma, então apenas queria ter aquele pequeno momento de alegria e felicidade com os pais. Jarlath não se preocupava quanto a isso, já que Rowena agora sabia controlar seus poderes e se hipoteticamente falando ela quisesse viver um ano no futuro, no passado passaria apenas um minuto. Mas ela nunca fez isso, pois ficar longe de Jarlath era como arrancar o coração dela.

O pequeno Ciberius era tão astuto e extrovertido quanto o irmão de Jarlath. A memória dele nunca foi esquecida, agora os reinos eram somente um e levavam o nome dele. Rowena até pensou que finalmente as coisas estavam indo para um rumo diferente já que ela teve paz por quatro anos, mas no fundo, bem no fundo ela sabia que estava usando magia para segurar um pouco mais seu tempo ao lado do filho. Porém aquilo não durou muito, um dia eventualmente Jarlath começou a cuspir sangue e ela sabia exatamente o que era isso.

Na madrugada do dia 19 de Agosto de 1522 Rowena deixou uma carta na estante, uma carta que dizia exatamente o que ela faria. Uma carta de despedida, pois ela não suportaria ver ele morrer mais uma vez. Naquele dia Jarlath não lutou, ele ficou em casa, abraçado ao filho enquanto seu corpo chorava de tristeza e sua alma chorava por finalmente ter mais um pouco de paz.

Rowena entrou na vila do reino de Ciberius, os olhares preconceituosos e racistas caíram sobre ela e ela não tentou se esconder nem por um segundo. Rowena começou a movimentar as mãos, ateando fogo por cima das casas, apenas para mostrar a todos que ela era uma bruxa. Ela não lutou quando a multidão de homens a pegou à força e a amarrou em um tronco de árvore, ela não lutou quando eles espalharam palhas embaixo dela, e com certeza não lutou quando eles acenderam a fogueira que aos poucos começava a queimar ela.

Ela simplesmente planejou a própria morte. Em outras palavras o seu próprio suicídio. Rowena fechou os olhos, sentindo o fogo começar a queimá-la viva. No fundo a consciência dela estava ciente de que ela não morreria de verdade, ela apenas renasceria. Ela viveria cada uma das suas vidas como se fosse a última por toda eternidade, ela não sabia o que a próxima aguardava, mas de uma coisa Rowena sabia; ela sempre estaria de volta ao século XVI.

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FIM

De volta ao século XVIOnde histórias criam vida. Descubra agora