Clarinha não queria voltar a dormir com medo de Stenio ir embora.
O casal a confortou muito, tentando prometer que iriam passar esse fim de semana juntos, os três. Ela se recusava a dormir, e se recusava a soltar o pai. Heloísa sugeriu que os três dormissem juntinhos na cama para que ela não se assustasse nem acordasse desesperada de novo. Stenio assentiu, aceitando. Era doloroso ver o quanto estavam bagunçando a cabeça da pequena.
Ele devia saber disso. Ela era muito grudada nele. Óbvio que sentia falta do pai 24 horas.
Stenio foi o primeiro a tomar um banho, no quarto do casal mesmo. Clarinha ficou acordada com a mamãe vendo filme da disney na cama dela. Assim que Stenio saiu do banho vestindo a calça do pijama que havia deixado em casa, substituiu Helô na cama. Se deitou ali, com a filha em seu peitoral, e fez cafuné em seus cabelos a acalmando.
Ela não chorou quando Heloísa foi tomar banho. A delegada se trancou ali dentro, deixou as luzes apagadas e acendeu algumas velas. Tomou um banho relaxante pela primeira vez sabendo que Clarinha estava completa estando ali com o pai.
Não que Creusa não a deixasse tranquila, longe disso. Mas era diferente ter o pai por perto pra cuidar da criança. Ela não sabia explicar.
Tomou um banho relaxante e secou os cabelos com o secador depois de vestir o pijama de renda e colocar o robe por cima.Se demorou, porque pela primeira vez em muito tempo podia fazer isso, sem culpa.
Quando saiu do banho, viu os dois deitados juntos enquanto viam Tinker Bell. Os dois dormiam com a mesma fisionomia, com a boca entreaberta.
Helô sorriu vendo como os dois eram iguais, até no jeitinho. Não só fisicamente.Admirou Stenio com a filha por um segundo e suspirou, frustrada. Que ódio sentia de imaginar Leonor por perto dele. Mas ela jamais falaria disso em voz alta.
Foi até a cozinha pegar uma garrafa d'água para deixar no quarto, caso alguém precisasse.
Fez barulho fechando a geladeira, sem querer, e rezou para que não tivesse acordado ninguém.Resolveu fazer um chá de camomila. Ver Clarinha tão abalada a deixava automaticamente tão abalada quanto.
A mulher permaneceu de braços cruzados enquanto o bule estava no fogo. Perdida em seus pensamentos.
— Camomila? — A voz do advogado a acordou de seus devaneios.
— Volta pra lá, pelo amor de Deus. Meu coração vai terminar de se partir se ela chorar mais uma vez por causa de você.
Stenio sorriu fraco com o canto esquerdo do lábio, se aproximando dela. A puxou pelo braço, e Heloísa não entendeu o que ele estava fazendo. Franziu o cenho, recusando o toque.
Quando se deu conta, o advogado a estava abraçando. Inclinado para baixo, para alcançar a delegada que era um pouco mais baixa que ele, ele a abraçava com força. E merda, ele tinha o abraço mais gostoso, o cheiro mais delicioso.
Heloísa se deixou confortar.
— Não é culpa sua. — Ele murmurou, acalmando Helô. A conhecia bem e sabia o que ela pensava, a culpa materna que carregava. — Ela está ótima. Você tá fazendo seu melhor.
Helô suspirou se afastando e secando as lágrimas.
— Eu sei. Sei disso. Só.. Fico me perguntando como eu rodei rodei rodei e acabei aqui de novo. É quase irônico, como se eu não aprendesse as lições que o universo tem pra me dar ou algo do tipo. — Ela deu de ombros, chateada.
Ele secou a lágrima dela com o polegar.
— Você fica tão linda nesse robe. — Ele comentou, despretensiosamente. Ela sabia, ele adorava quando a delegada vestia vermelho, principalmente renda ou seda.
O olhou nos olhos, já se sentindo fraca.
Stenio roçou o nariz ao dela, roubando um beijo calmo e intenso de seus lábios.
Heloísa automaticamente correspondeu, morrendo de saudade. Quase como se não tivesse controle de si mesma.Ela o empurrou pelo peitoral gentilmente, sem querer sair dali.
— Eu tô chateada com você. Não encosta em mim. — Ela fez questão de dizer. A voz estava um pouco falhada, e ele estava perto demais para que ela conseguisse pensar só com a razão. Talvez quando fosse mais jovem conseguisse ser mais resoluta, mas ela sempre soube que não conseguia dizer não para ele.
— Tudo bem, meu amor. — Ele garantiu, acariciando a bochecha dela com o polegar. Encostou a testa na dela, olhando em seus olhos. Sorriu quando a delegada engoliu a seco, os olhos presos ao dele. — Vai passar. Vai melhorar. E você sabe que no final a gente sempre acaba aqui, juntos. Como deve ser.
Ela fechou os olhos sentindo o sussurro dele em seu ouvido. Detestaria admitir, mas a esse ponto seu coração já estava acelerado, e ela o queria. Muito. Sentiu o corpo arrepiar, enquanto ele arrastava a barba por fazer por seu pescoço, depositando um beijo ali.
— Volta pra perto da Maria Clara, volta. — Ela pediu.
Stenio assentiu, se afastando. Os olhos fixos nos lábios dela. Era quase como se tivesse resistência em soltar do corpo de Helô, de sair de perto dela. Não conseguia parar de olhar a delegada enquanto tomava o rumo do quarto. Se deitou ao seu lado de sempre na cama, com Clarinha no meio. Se enfiou debaixo do cobertor, e depositou um beijo na testa da filha, se ajeitando para dormir.
Depois de algum tempo, Heloísa apareceu fazendo o mesmo, depois de deixar a garrafa de água em cima do balcão. Stenio a olhava atravessar o quarto como se fosse uma modelo. Linda, maravilhosa, perfumada. Aquele pijama era seu favorito, e tinha certeza que ela se lembrava disso. Ele nunca deixava de elogiar quando a via com ele.
Heloísa se deitou do outro lado, e eles finalmente ficaram no quarto escuro. Ele ouviu os barulhinhos enquanto Heloísa fazia carinho nos cabelos escuros da menina, beijava seu rostinho dizendo boa noite e que a amava, assim como ele tinha feito um tempo atrás.
Ela se ajeitou debaixo do cobertor, e sentiu uma mão masculina alcançar a sua delicadamente, quase que sem querer.
Stenio recostou a mão no topo da dela, enquanto eles relaxavam antes de dormirem juntinhos em família.
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