antes das oito

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— Stenio. — Ela falou ao telefone.

— Que que foi, Heloísa? Eu tô tentando trabalhar, será que você pode por favor..

— Ele tá viajando a trabalho e só vai voltar em dois dias, Stenio. Disse que não dá pra sair pra jantar comigo hoje. Eu tô com um problemão aqui, e eu preciso da sua ajuda.

— É só mandar uma mensagem dizendo que a resposta é não, Heloísa. Não é muito difícil. Jantar? Você tá de brincadeira comigo. Você quer que eu peça o divórcio, né? Você tá se esforçando pra eu fazer isso. Essa só pode ser a resposta! Você tá me testando porque gostou de me ver bravo, achou eficaz. Mas eu só vou te avisar isso uma vez, a hora que você atingir meu limite e EU pedir o divórcio você..

— Eu tô falando sério, porra. Não posso resolver isso por mensagem de texto.

— Ah, não pode? Não pode? — Stenio se inconformou ao telefone e levantou, impaciente, andando de um lado pra o outro do escritório.

Olivia tentou entrar e tirar uma duvida com ele mas ao ouvi-lo gritar ao telefone percebeu que aquela não era uma boa hora. Aquele não era um bom dia. E aquela talvez não seria uma boa semana.

— Por que diabos você não pode, Heloísa?

— Porque eu não sou essa pessoa, Stenio. Eu tô recusando um pedido de casamento, não uma solicitação de amizade de rede social.

Ele riu com ironia e respirou fundo.

— Que tipo de inferno é esse que você simplesmente escolheu priorizar esse cara? Você tá de brincadeira comigo?

— Stenio, eu tô falando sério. Vamos conversar sobre isso. Vamos ficar bem até ele voltar, e ai..

— Deixa eu ver. Você quer que eu finja que nada aconteceu pelos próximos dias, até ele voltar. E ai, quando ele voltar, ele vai sair pra ter um encontro com a minha mulher, enquanto eu fico em casa de mãos atadas, esperando você voltar. Sendo que aquele maluco pode te beijar, pode..

— Eu não vou resolver isso por mensagem de texto. Me desculpa, não dá.

Stenio ficou quieto e riu baixo.

— E eu não vou resolver isso por você. Fala comigo de novo quando ele tiver voltado e você tiver tirado essa história a limpo. Só não sei se eu vou continuar te esperando até la. Agora me dá licença, que eu tenho que trabalhar. Me deixa em paz.

— Stenio..

Ele havia desligado na cara dela.

— Olívia, se a Heloísa entrar nesse prédio eu quero que você chame os seguranças, a polícia, os bombeiros. Eu não quero essas mulher aqui dentro, ta me entendendo? Você não deixa ela passar da porta se quiser manter seu emprego.

Ele deixou avisado e se fechou em seu escritório.
Tentava se concentrar no trabalho e deixar aquilo tudo de lado, mas em poucos minutos de trabalho ele se distraía e tudo voltava a tomar conta de seus pensamentos de novo.

Se passaram mais ou menos 47 minutos até que a delegada entrou pela porta de seu escritório como um furacão. Já trancou a porta atrás de si, sabendo que a briga não ia ser bonita de ser assistida.

— Ah não. Quem deixou você entrar? Heloísa, eu tô trabalhando. A gente conversa em casa, por favor. — Ele pediu, apontando a porta, implorando que ela se retirasse

— Eu não vou sair até você me escutar. — Ela deixou a bolsa na cadeira em que os clientes normalmente se sentavam. Deu a volta pela mesa dele, se sentando sentando na base de madeira, perto do laptop dele.

Stenio tirou os óculos de grau e esfregou os olhos, irritado.

— Eu não tenho nada mais a dizer.

— Então escuta. — Ela disse como se fosse óbvio. — Você acha mesmo que eu tinha intenção de aceitar? Passa pela sua cabeça, em algum momento, que eu consiga me casar com alguém que não seja você?

Stenio respirou fundo encarando a mulher a sua frente.

— Não adianta você ficar bravo comigo. Eu e ele estávamos conversando como amigos, tentando resolver essa situação ridícula. Ele foi atrás de mim na delegacia, e eu jamais imaginaria que ele fosse fazer algo desse nível. Até porque.. Eu sou casada com você.

Ela segurava o braço dele, forçando com que ele prestasse atenção nela.

— Não muda o fato de que eu tô com raiva por ele ter te pedido em casamento. — Stenio resmungou, irritado. — Ele não tinha esse direito.

— Não tinha mesmo. Ele devia mais respeito a você, mesmo que como ex amigo. Ele é completamente maluco por sequer pensar em mim dessa forma. Você tem razão. — Ela admitiu.

Stenio a encarou, irritado.
Ela reconhecer tudo isso não mudava muita coisa.

— Mas não adianta você cair na dele e ficar brigado comigo. Vamos ficar bem, vai. — Ela insistiu, fazendo carinho no ombro dele. Uma espécie de massagem. Tentando se aproximar. — Poxa. Se a gente brigar, ele ganha. Ou você acha que ele tá me evitando sem ser de propósito? Ele sabe que eu vou recusar. E tá adiando pra te ensandecer. E você tá deixando.

Stenio revirou os olhos.

— Eu juro que eu queria te ver na minha posição. Você não ia deixar isso barato.

— Você quer? Quer me dar o troco? Vai la, pede a Leonor em casamento. — Ela sugeriu.

— Eu não vou fazer isso. — Ele se ofendeu. — Só me irrita que você tenha sido pedida em casamento por outro homem. Eu não consigo engolir.

— Bom, você já pediu outra mulher que não era eu em casamento. — Ela levantou a reflexão.

Stenio se lembrou de Bianca e engoliu a seco no mesmo segundo.

— São coisas diferentes.

— Tem certeza?

Ela pôde notar como ele relaxou na cadeira. Finalmente tinha vencido o advogado na base do argumento.

— Eu ainda tô com raiva. — Ele deixou claro.

Heloísa quase riu.

— Tudo bem. Uma hora passa. — Ela deu de ombros. — Amigos? — Ela ofereceu o dedinho para ele da mesma forma como ela ensinava Clarinha a fazer quando saía algum tipo de discussão.

Stenio levantou o olhar para ela, irritado. Enlaçou o dedo no dela.

— Agora me dá licença, eu preciso trabalhar.

Ela revirou os olhos, perdendo a paciência.
Enclinou o corpo para baixo, na direção dele que estava sentado na cadeira do escritório. Stenio afastou o rosto.

— Que isso? Até tuas clientes te dão beijo na bochecha e eu não posso só porque tu tá com ciúme? — Ela riu, achando graça da birra dele.

Ele percebeu que estava exagerando e deu o rosto para ela beijar a bochecha.

Heloísa virou o rosto com rapidez e roubou um beijo de sua boca. Levantou rapidinho, se apressando para sair.

— Quero você em casa antes das oito. — Ela avisou, destrancando a porta e saindo. — Hoje eu cuido do jantar.

Ele tentou evitar aquele sorriso bobo, mas não conseguiu. Mesmo estando com muita raiva.

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