um milhão de vezes

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— Falando nela.. João, Paula.. Conheçam a mãe da Clarinha.

— Puxa! Que linda sua esposa, Stenio. — João elogiou enquanto a delegada caminhava pelo corredor se aproximando daquela mini reunião.

Sorridente, simpática, ela trocou dois beijos na bochecha com cada um dos dois. A filha logo estendeu os braços na direção dela, desesperada por ficar com a mãe.
Heloísa a pegou, beijando a bochecha da menina sem parar.

— Vai dizer que ela não é a cara da Helô? — Stenio estava relaxado, com as mãos nos bolsos da calça. Observava Clara e Heloísa agarradinhas, e sorria de orelha a orelha.

— Tem traços dos dois! — Paula comentou, maravilhada. — Qual seu nome? Desculpa, só sei que você é a mulher do meu advogado e que é advogada! — Paula se desculpou. — Esqueci.. Helena?

— Helô. Heloísa. — Stenio corrigiu.

— Uau. Você é muito mais bonita pessoalmente. — Paula elogiou.

Heloísa estranhou.

— Você já tinha me visto antes?

— Aquele porta-retrato na mesa do Stenio.. Você tá perfeita naquela foto!

Heloísa fez um esforço para se lembrar, e quando conseguiu, só conseguia pensar no fato de que ele mantinha a foto dela ali mesmo que não estivessem mais juntos.

Se lembrou de Leonor.

— Vocês me dão um segundo? — Stenio pediu se afastando, deixando Heloísa e Clara com os clientes.

Trocaram um olhar como Heloísa já tinha entendido. Ele queria que ela fizesse sala para eles.

Helô engajou numa conversa sobre Clara querer ser advogada como o papai e não delegada como a mamãe.
Trouxe Drica para a conversa contando finalmente que o casal tinha duas meninas.

Stenio conversava com Leonor num canto e gesticulava bastante. Falava baixo, e logo Heloísa assistiu quando ela beijou a bochecha dele duas vezes, um beijo de cada lado do rosto, se despedindo.

Ela caminhou até o corredor depois de dar um tchauzinho para a pequena que retribuiu o gesto. Heloísa sentiu seu coração pegar fogo, uma sensação nova e desconhecida.

Assim que Stenio voltou, assumiu o controle da conversa.

— Eu preciso ir, na verdade. — Heloísa puxou o assunto, querendo sair dali o mais rápido possível. Sentia o sorriso falso que tinha em seu rosto se desgastando mais e mais.

— Sorvete. Com. O. Papai. — Clara emburrou olhando para a mãe de braços cruzados.

Heloísa sentiu uma genuina vontade de rir, e não conseguiu se conter.

— Amor, o papai tá trabalhando.. — Helô tentou explicar.

— Você prometeu! — A menina estava indignada, já querendo chorar. Eles reconheciam a voz dengosa que vinha antes do choro.

— Levem a menina pra tomar um sorvete com o pai e a mãe! A gente já vai. Família linda que você tem, hein meu amigo? — João bateu nas costas de Stenio que sorriu assentindo, orgulhoso.

— Elas são as mulheres mais lindas do mundo mesmo, eu tenho sorte.

— Boa sorte tentando fazer a menina ficar com o sotaque paulistano ao invés do carioca. — Ele desejou, rindo.

Logo eles se despediram, e Clara insistiu em sair do escritório de mãos dadas tanto com o pai quanto com a mãe, estando no meio do casal-não-casal.

Eles caminharam pela rua até passarem pela praça, em direção a sorveteria favorita deles. Stenio se ocupo de fazer os pedidos enquanto as meninas iam se sentar, e assim que pagou levou as casquinhas para a mesa.

Assistiram e riram enquanto Clara se melecava toda com o sorvete de chocolate e sujava o nariz ao tentar tomá-lo.

Stenio limpava o rostinho da menina que insistia em comer, e Heloísa insistia que ele simplesmente desistisse e a deixasse tranquila, se sujando. Prometeu que daria um banho na pequena assim que chegassem em casa e que tudo bem ela se lambuzar toda.

Ela teimou que queria que o pai fosse para casa com ela, para brincar com o mais novo bicho de pelúcia que ela tinha ganhado dele.

Heloísa não conseguia dizer não para ela, da mesmíssima forma que não sabia dizer não para ele.
Quando se deu conta, o advogado estava sem o paletó, com as mangas da camisa social branca arregaçadas, dando banho na pequena enquanto brincavam com o patinho de borracha e as canções de criança tocavam na televisão do quarto.

Clara vestiu o pijama e brincou de chá com o pai que teve que se sentar na pequena cadeira rosa choque. Heloísa não conseguia evitar se derreter pela versão pai que Stenio tinha. Era definitivamente a melhor de todas.

A pequena apagou abraçada no ursinho.

Assim que Stenio foi até a sala, encontrou Heloísa no sofá, movendo o pescoço para lá e para cá, provavelmente com dor.

— Tudo bem ai? — Ele sondou, se aproximando.

— Tudo ótimo. Pode voltar pro escritório. — Ela pediu.

— Não volto pra lá mais hoje. — Ele se explicou.

— Então deveria voltar pra sua casa. Se a Leonor não conseguiu falar com você no trabalho ela com certeza está te esperando na porta do seu apartamento.

— Helô. — Ele chamou sua atenção.

— Que? Vai dizer que eu tô errada agora? — Ela forçou uma risada.

Ele riu também.
Não estava errada.
Provavelmente era verdade.

— Mais um motivo pra eu ficar aqui, então. Ótimo. — Ele celebrou, se posicionando atrás dela, atrás do sofá. Massageou os ombros da delegada e sentiu o corpo dela se tensionar mais ainda com seu toque.

— Não é meio óbvio que eu quero ficar aqui? — O advogado murmurou, usando o tom de voz mais grosso que causava arrepios nela. — Não . Aqui.

Se sentiu lisonjeado ao ver o corpo dela reagindo do jeitinho que havia imaginado. Roçou a boca pelo pescoço dela, subindo até a orelha.

Observou o reflexo dela no espelho do ambiente e sorriu ao perceber como Helô estava entregue. Os olhos fechados, curtindo a sensação, quase em transe. Fazia tempo que eles não se tocavam assim. Ele sabia que ela, assim como ele, morria de saudade.

— Que eu escolhi você um milhão de vezes e vou te escolher um milhão de vezes mais... — Comentou, galanteador.

Quando a delegada abriu os olhos, se virou para ele de frente, o encarando. Seu olhar pegava fogo, quase queimava. Vacilou com os olhos e por um segundo encarou a boca do advogado.

O que ele encarou como uma deixa para começar tudo que queria fazer com ela.

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