— Helô Alencar! — Clarinha apontou o dedo pra mãe. Ela tinha dificuldade de lembrar que a figura materna não se chamava mamãe e sim Heloísa.
— Que isso? — Heloísa estranhou.
Estava perfeita. Cheirosa, bem vestida como sempre. O cabelo ondulado, a maquiagem natural. Ela já era linda de qualquer forma, mas assim.. Stenio não conseguia se controlar. Até o cheiro dela lhe causava coisas.
Heloísa notou que ele agora estava vestindo a calça jeans do dia anterior. O abdômen bem delineado não parava de chamar sua atenção.— Eu contei pra ela que a gente não tem como se casar porque, bem, nós já somos casados. Ainda somos casados.
Clara levantou o dedinho indicador para a mãe pronta para repetir a palavra difícil que seu pai havia lhe ensinado.
— Tenicamentche, mamãe....
Heloísa não aguentou e acabou rindo na cara dela.
— Tecnicamente?? — Ela repetiu, não conseguindo nem ficar brava pela fofoca que o marido tinha feito.
— A mamãe é o papai tão casados. — Ela repetiu o que prestou atenção muito cuidadosamente enquanto Stenio explicava. Deu de ombros.
— Passa esse café pra cá. — Heloísa revirou os olhos pegando a caneca. — Teu pai tá muito falante hoje, não tá não? Achei que cansado ele fosse ficar mais quieto. — Ela falou para a menina por ter certeza que ela não entenderia.
— E por que eu estaria cansado, Helô? — Ele perguntou, estranhando. Cruzou os braços, questionador. — Eu dormi super bem essa noite. — Ele ergueu as sobrancelhas, explicando.
— Porque você trabalhou muito essa madrugada, Stenio. Você não parou. — Ela explicou, o encarando. — Eu imaginei que tivesse cansado.
— Não tô. — Ele negou, balançando a cabeça negativamente. — Na verdade, eu tô até pronto pra trabalhar mais.
— Não! — Clarinha falou alto e brava encarando o pai.
Stenio arregalou os olhos, rindo.
— Não? — Ele estranhou.
Por um segundo esqueceu que a pequena não estava ciente do contexto.
— Escritório não, papai. Todo dia quitorio isquitorio quitorio. — Ela foi se enrolando ao falar rápido e brava.
Quando ela ficava brava, franzia a sobrancelha e levantava o tom de voz como a mãe. Nem se mencionava a velocidade da fala.
— Ela tá cansada de me perguntar de você e eu falar sempre que você tá no escritório. — Heloisa explicou.
— Ahhhh... — Stenio se lembrou. Heloísa tinha realmente contado pra ele que a menina estava um pouco confusa com a questão deles morarem em lugares diferentes. Que ela estava se sentindo cada vez mais abandonada por Stenio, afinal, o divórcio não era definitivo nem muito bem explicado. — Quer saber? Tive uma ideia.
Heloísa automaticamente parou de beber o café e o encarou. Nada de bom podia sair dali.
— Acho que tá na hora de eu ficar mais em casa. Trabalhar.. On-line. — Ele explicou, encarando Heloísa. — Assim, quando a Clarinha chegar, eu vou estar aqui pra contar história e por pra dormir toda noite.. E acordar ela também, ajudar no café da manhã. Voltar a ficar aqui 24 horas é uma coisa legal, né? — Stenio olhou para a pequena buscando aprovação e logo comemorou junto com ela.
Não precisava olhar para Heloísa para ver a desaprovação.
— Filha, eu preciso conversar com seu pai uns minutinhos. Vou chamar a Creusa e você fica com ela, pode ser?
