Capítulo 10

56 5 0
                                    

Sabrina Gonçalves

Entrar no portão dessa escola nunca foi tão vergonhoso. As pessoas nos olhando, eu estava odiando, mas, em contrapartida, João estava adorando toda essa atenção.

— Como você consegue gostar disso? — o questionei quando entramos nos corredores dos armários.

— Não apanhei sozinho, só por isso já é uma grande vitória. E outra coisa, que bom que estão comentando sobre nós. Inclusive, olha ali o Pedro pancadas. — Eles começaram a se encarar e um clima de tensão começou a rolar entre os dois. João não desviou o olhar e Pedro menos ainda.

— Para de dar corda pra ele, João. — Kethelyn o repreendeu.

— Mas ele que começou. — Parecia uma criança manhosa.

— Não importa, você é melhor que ele, não precisa dar trela. Tá me ouvindo?

— Sim, senhora. — Era até engraçado ver os dois. O sinal tocou e fomos para as salas. Me sentei e Lívia chegou logo depois. Veio e me deu um beijinho na bochecha, eu retribuí e ela se sentou no seu lugar. A aula até o intervalo foi tranquila, não teve nada demais. Ela se levantou, parou na frente da minha mesa, me encarou e sorriu.

— Quer ir tomar um sorvete hoje? — Tomar sorvete? O quê? Como assim?

— Não sei, mas por que você quer tomar um sorvete comigo?

— Porque acho que você seja minha amiga, ou estou errada? — Não sabia o que responder. Na minha cabeça, éramos colegas ou até mesmo conhecidas, mas amigas?

— Vou ver com a minha mãe e te aviso. — Sorri, mas graças a Deus o sinal tocou. Saí de lá o mais rápido que pude e fui até o refeitório. Eles estavam na fila da cantina, provavelmente iriam comprar salgado.

— Lívia me chamou para tomar sorvete. — Fui direto ao assunto. João parecia surpreso e Kethe também. — Falem alguma coisa.

— Vocês estão bem amigas, hein, mas o que te aflige? — João me olhava de cima a baixo.

— Foi do nada, sabe? Sei lá.

— É só um sorvete, o que de mal poderia acontecer? — Kethe estava certa, o que teria de mal? Então mandei mensagem para ela.

"Que horas vamos?" 10:02

"14:00?" 10:03

"Pode ser." 10:05

Mas afinal, o que poderia dar errado?

{......}

Coloquei um shorts, uma blusa simples, um tênis, amarrei o cabelo, coloquei meus brincos, passei um perfume, peguei minha carteira e saí de casa. Ela disse que já estava lá, então fui o mais rápido que pude. Não era longe, era pertinho. Ela estava do lado de fora prendendo a sua bicicleta no bicicletário. Me aproximei e ela ergueu seu olhar.

— Graças a Deus, né, achei que nunca iria chegar.

— Fala sério, nem demorei muito. — Ou será que demorei? Bom, já era duas e dez, mas pô, dez minutinhos.

— Vamos entrar, vem. — Ela me puxou pela mão e entramos. Pedi flocos e ela de chocolate. Nos sentamos e ela começou a comer com tanto gosto, sabe? Parecia que era ouro.

— Tá gostoso?

— Uma delícia, experimenta. — Ela pegou um pouco do seu sorvete e me ofereceu. Eu fiquei meio receosa, mas ela disse: — Eu não envenenei, não, pode comer. — Então comi, e estava realmente uma delícia.

— É muito bom, vou querer comer esse depois.

— Já começou o seu poema? — Eu juro que tentei, mas nada de criatividade chegou e eu desisti.

— Pra ser bem sincera, ainda não, mas eu vou conseguir, você vai ver.

— O meu está ótimo.

— Para de mentir, garota. Fala o primeiro verso. — Ela pegou o seu celular, limpou a garganta, me olhou com aqueles olhos de gavião.

— Está preparada para se emocionar? — Ela tinha um ar divertido.

— Estou! — Parei até de tomar o sorvete e comecei a prestar atenção nela.

— Lembrando que eu tenho só a primeira estrofe pronta, okay? — Concordei com a cabeça, não poderia falar nada, não havia feito absolutamente nada.— Lá vai: Corpos em sintonia, desejo que inflama, No calor da noite, almas se encontram, Toques suaves, segredos que a pele proclama, No êxtase do momento, dois corações se confrontam. — Ela parou de falar e me olhou. Eu estava chocada. Apesar de tudo, eu havia achado que estava bom, melhor do que eu esperava. Comecei a bater palmas para ela, as pessoas ao lado nos olhavam torto.

— Você arrasou, tá muito bom.

— Acho que o meu vai ganhar, e você vai ficar babando. — Ela fez uma careta e mostrou a sua linguinha que já estava suja de chocolate. — 

— você é uma tonta, sabe disso né! —ela sorriu, ficamos um tempo sem assunto ate que a tagarela começou de novo e dei graças a Deus por ela ter assunto.

—Seu amigo é muito corajoso.

— João?

— Sim, ele bateu no aniversariante. Você tem noção disso? — Ela parecia indignada, mas ela estava certa. João foi muito corajoso.

— Ele foi um escroto com a Kethelyn, não tinha o que fazer, ele não ia deixar ficar por isso mesmo.

— Eu soube mesmo que ele é um escroto.

— Por quem? Pela sua namorada? — Isso foi estranho.

— O quê? Ela não é minha namorada. — Ela ficou sem graça, se levantou e fomos pegar mais sorvete. Eu peguei o de chocolate e ela de maracujá. — Somos amigas que se beijam. — Já estávamos sentadas. — Você nunca teve uma amiga ou amigo assim? — Pra falar a verdade, nunca. Minhas experiências beijando foram quando eu era menor, mas eu que não iria falar que era quase uma BV.

— Claro, mas depois de um tempo fica estranho.

— Ainda não chegamos nessa parte, e eu espero que esse olho gordo não chegue até nós.

— OLHO GORDO? — Minha voz até afinou com essa afirmação, ela sorriu com um ar de provocação. — Meu amor, Isadora é toda sua. — Ela riu de novo.

— Acho que você está brava porque eu estou beijando ela. — Ela passou um pouco de sorvete na ponta do meu nariz, e eu peguei do meu e passei na sua bochecha. — E, isso só comprovou isso. — Gargalhamos juntas. Até que ela é legal, só é convencida demais...

 O enigma da paixão Onde histórias criam vida. Descubra agora