Capítulo 8

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Sabrina Gonçalves

João termina de passar o seu perfume, estávamos belíssimos, os três de preto. Eu estava com um vestido tubinho, uma maquiagem leve, mas um penteado bem bonitinho dando volume ao meu cabelo. Keth estava com um macacão branco, o cabelo bem finalizado e um salto. Sim, ela estava de salto. João estava com uma roupa bem larguinha, sabe? Bem estiloso.

— Vamos? — minha mãe que iria nos levar. Ela estava se sentindo péssima por não contar à tia Fernanda, mas se desse errado, falaríamos que saímos escondidos.

— VAMOS! — dissemos em coro. Descemos as escadas e entramos na garagem. Iríamos de caminhonete; meu pai trabalha na área de hortifruti, então ele precisa de espaço para carregar suas coisas. Tinham quatro lugares na cabine, graças a Deus. Minha mãe foi falando as regras: sem beber, sem fumar, sem beijar, e à meia-noite todos em casa. Se iríamos seguir... essa é outra história.

Quando chegamos, a festa já estava lotada. Vários carros na rua e um som muito alto.

— Se cuidem, hein. Qualquer coisa, liguem.

— Pode deixar, mãe. — ela ficou nos esperando entrar. Bom, estava tudo muito movimentado, pessoas bebendo. Já disse que o som estava alto?

— Vamos pegar algum drink? — a voz animada de Keth começou a me dar calafrios, mas fomos até o "bar", que eram pessoas da nossa escola montando bebidas da origem mais duvidosa que você consiga imaginar.

— Três shots de Askov. — João tomou a frente. — É bom, Sasa, eu juro. — entre nós três, eu era a única que não bebia ou saía nos finais de semana. Meus pais não me proibiam, mas eu não sou esse tipo de garota.

— Aqui. — pegamos do balcão, e eu tomei tudo de uma vez. Saiu queimando, e eu senti vontade de vomitar. Meus amigos me olharam horrorizados, mas decidi ignorar. Olhei em volta e não tinha nada de novo, as mesmas pessoas de todos os dias. Até que meu olhar se cruzou com o de Livia, e ela começou a vir em minha direção. Eu comecei a desviar o olhar.

— E aí. — sua voz estava mais lenta, mas continuava bonita, grave e aguda ao mesmo tempo.

— Achei que não viria. — Fui sincera, não sabia que ela tinha essa cara de pau.

— Achou mesmo que eu ia perder álcool de graça? — pelo cheiro da sua boca, ela já havia bebido algumas, mas nada que incomodasse.

— Eu não achei nada, nem te conheço, gatinha. — que merda é essa? O álcool já havia começado o seu trabalho.

— Gostei desse apelido, gatinha... — ela me deu um beijinho na bochecha e saiu. Meu olhar se cruzou com o de Isadora, que parecia dizer "você está morta". Me virei para João, que me julgava de cima a baixo.

— Vocês estão bem íntimas.

— Que porra foi essa? — a garota ao meu lado me julgava, então eu virei e disse.

— Mais um shot, por favor. — Tomei esse mais rápido do que o outro, e então comecei a me animar. Meu corpo ficou mais leve, puxei João pela mão até a pista de dança e estava tocando um funk.

— O que é isso, Sabrina? — ele parecia confuso, mas não o suficiente para sair dali.

— Vamos dançar, é funk. — era uma música que falava de sexo, drogas, putaria e crime, mas a batida era boa, e então me deixei levar. Ele me deixou dançar quase encostada em seu tronco, mas não chegava a nos encostar diretamente. Ele só estava como "proteção" e ficou ali durante um tempo considerável. Até que eu cansei e voltamos para o bar. Peguei uma garrafa de água e mais dois shots de Askov. Como tinha a água, foi mais tranquilo.

— Vocês arrasaram lá, parabéns. — Keth bateu palmas sem som, apenas fez o gesto. — Vocês não vão acreditar quem me mandou mensagem.

— Pedro? — João foi direto.

— Ele mesmo. Perguntou o que estávamos achando da festa.

— E você?

— Nem fiz questão de responder. Acho que vou atrás de um boyzinho para beijar.

— Isso aí, faz isso. Mostra que você está na ativa, dá uma voltinha pela festa, mas fica de olho no celular, hein. — João a repreendeu.

— Pode deixar, pai. — eu gargalhei, mas ele não. Pedimos água e mais alguns shots, e jurei que não beberia mais.

— Eu vou procurar o banheiro, fica aí, okay? — ele me deu um beijinho na bochecha e saiu. Eu fiquei imóvel, analisando a festa ao meu redor. Adolescentes bêbados e se pegando na frente de todo mundo. Kethelyn estava conversando com um garoto muito bonito, negro, alto e parecia atlético. Ela havia acertado dessa vez.

E do outro lado, Isadora e Livia, conversando bem próximas, mas estavam apenas conversando. Pedro analisava aquilo com um ódio que não consigo nem descrever para vocês. Até desviei o olhar. João estava voltando, e como eu queria dançar mais, então o arrastei até a pista de dança. Voltamos como antes: ele atrás de mim, e eu indo até o chão. Subi e ele disparou:

— Kethelyn beijou!!!!!

Eu olhei para onde ele estava olhando, e meus amigos, que beijo foi esse? Era bonito de se ver e engraçado como ela tentava ficar da altura do menino, que era um gigante perto dela. Apesar de que ela não era tão baixa. As pessoas começaram a olhar para eles e Pedro nem fez questão de disfarçar. Bem feito para ele.

Assim que ela parou de beijar o mano, veio até nós com um sorriso enorme.

— Arrasou, amiga. — exclamei. — Ele é um gato. — Chegou Pedro por trás de Kethe e disse, olhando para o nosso grupinho:

— Você tá louca? Beijar o meu primo? Na minha festa? — ficamos boquiabertas, eu não sabia que ele era primo de Pedro, e nem ela, pela sua expressão de susto.


Continua...


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