Capítulo 15

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Sabrina Gonçalves

Entrei na sorveteria e a decoração era tão fofa, tão colorida que eu nem acreditava estar entrando em uma sorveteria em Santos. Esperei por ela alguns minutos e olhei pelo espelho da sorveteria. Lá estava ela com calça larga. Fui erguendo meu olhar e percebi que ela estava apenas de TOP. Como assim, aprnas de TOP? Tentei me controlar, por que meu corpo está estranho? Tentei disfarçar, indo para a bancada de sorvetes. A porta se abriu fazendo barulho, e as atendentes olharam. Uma delas pediu para que ela pusesse a blusa, e ela colocou. Graças a Deus.

- Vai começar sem mim? - Ela me deu um beijinho na bochecha, e eu retribuí.

- Jamais! - Peguei um potinho e uma colher e comecei a me servir, colocando apenas açaí e suas coberturas. Não exagerei no chocolate, coloquei coisas mais naturais. Nos sentamos à mesa e nos encaramos por alguns segundos. Então, ela decidiu quebrar o silêncio.

- Seja sincera comigo. Você não se importa com as pessoas da escola se intrometendo na vida dos outros? - Ela estava irritada, sem transparecer felicidade alguma.

- Já estão se intrometendo na sua vida? E você está há apenas um mês na escola? - Tive que sorrir para ela.

- Como não poderiam? Isadora parece a Beyoncé daquele lugar. As pessoas adoram saber da vida dela e, querendo ou não, eu estou na vida dela atualmente, o que está me incomodando muito. - Eu entendia ela. Nos últimos dias, elas eram o assunto de comentários maldosos, muito maldosos.

- Eu ouço o que falam de vocês, e sinceramente não é justo, principalmente com você, que eu conheço melhor do que ela. Você não merece passar por isso, Lívinha.

- Lívinha? - Ela já estava indignada com esse apelido que jurei inventar na hora. - Vou te chamar de Sagina, e você não vai gostar.

- Mas esse apelido é tenebroso! Eu odeio você.

- Não tanto quanto eu te odeio. - Ela me deu um beijinho na bochecha com um deboche no fundo. Ficamos em silêncio, e pude analisar seus trejeitos. Quando comia, passava a mão na testa e fechava os olhos, indicando que estava gostoso e que provavelmente iria repetir. E assim fez, levantando-se para pegar mais sorvete. Eu, por outro lado, não tinha acabado com o meu e não ousei repetir. Comecei um assunto porque o clima estava ficando estranho.

- Mas e aí, onde você joga vôlei?

- No ginásio do centro. Deveria ir lá um dia. Iria gostar. Tem várias garotas que são do seu tipo. - Seu olhar sugestivo me fez soltar uma risada sem graça, que saiu mais parecendo um gemido constrangedor.

- Eu não gosto de ficar com garotas. Foi só aquela vez, e não penso em repetir a dose. - Seu sorriso tinha aquele tom de "só você acredita nisso".

- Se é o que acha, tudo bem por mim, mas senti um clima legal entre vocês duas. - Ela queria me provocar, então entrei na brincadeira.

- Rolou mesmo, mas não vejo outra garota que eu ache bonita o suficiente para beijar como senti com ela. - Nos levantamos em sincronia e fomos até o caixa pagar. Ela pagou com cartão e eu com dinheiro.

- Eu acho que você só beija garotas quando não está sóbria. Acho que quando você está sem álcool não sente nada por essas garotas.

Será que é isso mesmo? Por que eu ficava nervosa quando ela estava ao meu lado? Ou quando estava sem TOP vindo me ver? Ou quando pedalava na sua bicicleta? Será que ela era o meu combustível?

- 1, 2, 3, terra chamando Sabrina pra terra. - Ela estalou os dedos e eu "voltei".

- Onde você estava, minha filha?

- Pensando em algumas coisas. Mas do que você estava falando mesmo?

- Tem uma balada aqui chamada Arco-íris, é super legal e é para as pessoas do vale se divertirem. Você vai comigo neste sábado. - Ela parecia tão convencida, coitada.

- A... T... A. - Fiz questão de falar pausadamente para que ela entendesse minha resposta. Mas ela não parecia convencida.

- Bom, minha linda, acho que já vou. - Beijei sua bochecha, e ela retribuiu como sempre fazíamos. Fui em frente, e alguns momentos depois ela passou por mim como um foguete. Sem camisa, sua pele retinha brilhava ao sol, e seus dreads voavam com o vento. Era lindo e curioso também.

Mas de uma coisa eu tinha certeza: eu não gostava apenas de garotas quando estava bêbada ou alterada. Seja lá o que eu for, não era hetero, ou gostava um pouquinho de mulheres, nem que fosse 1% de mim.

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