Capítulo 19:
Sabrina Gonçalves
- Vem, eu te ajudo - ela já estava lá em cima, e eu teria que subir uma escada muito duvidosa. Não tinha coragem de subir.
- Me segura, hein, pelo amor de Deus. - Fui subindo as escadas levemente, e quando terminei, suspirei tão fundo, aliviada. Ela acendeu uma luz, e a casa já estava velhinha e um pouco suja. Na minha frente, ela pegou algo da bolsa e tirou uma garrafa de vinho. Me entreti com a garrafa, era bonita, mas aí, quando ela começou a fazer alguns movimentos, percebi que ela estava bolando.
- Fala sério, Lívia.
- Qual é? Tô um dia limpa, e outra, você vai gostar, te prometo. - Ela pegou o isqueiro e acendeu. O cheiro começou a exalar rápido. Ela tragou primeiro e depois foi a minha vez. Fui mais precisa dessa vez e, bom, o gosto continua sendo uma merda. Peguei a garrafa e dei um gole. Estava um pouco quente, mas nada que incomodasse tanto.
- Por que você veio pra cá? - a questionei. Ela estava sugando aquela fumaça e depois soltou para o lado.
- Meu pai conseguiu um trabalho por aqui, e minha mãe morava aqui. Pegamos uma casa daora, e estamos por lá por enquanto até meu pai ter a certeza que vamos ficar.
- Seu pai trabalha com o quê? - Peguei o baseado e traguei, não me perguntem por que fiz isso.
- Ele é consultor de imóveis. - Isso explica o carrão. - Ela tragou de novo, me ofereceu, mas antes disse: - É o seu último trago.
- Que daora. - Traguei e soltei. Ela tirou da minha mão e apagou no chão. Ela tomou um gole do vinho e seus olhos começaram a pesar.
- Seus pais fazem o que da vida?
- Minha mãe é terapeuta e meu pai tem uma mini plantação e distribui alguns legumes. - Ela parecia tão interessada que me deixava até sem graça. - Mas por que aqui é o seu lugar preferido?
- Porque eu posso guardar as minhas florzinhas. - Era óbvio, mas não pude esconder meu sorriso. - Você invadiu isso?
- Invadir? Isso estava abandonado, e eu que não ia esconder isso em casa, ainda não estou maluca. - Ela tinha uma entonação que dizia "isso é tão óbvio". Revirei os olhos involuntariamente.
- Você é tão convencida que chega a me dar dor de cabeça.
- Mas e aí, o seu poema, terminou? - A merda do poema, como eu poderia dizer que nem comecei?
- Estou na metade.
- Recita a primeira parte então.
- Vish, esqueci. - Ela parecia não acreditar em mim, mas eu não ia me render.
- Você nem deve ter começado, garota.
- Lógico que eu comecei, mas não é da sua conta.
- E daqui a um mês, hein, não se esqueça. - Meu corpo já estava tão leve que comecei a sentir algumas coisas estranhas, como sentir muito o vento, tudo em proporções exageradas. Mas estava gostando. - Quer ir pro carro ouvir uma música?
- Quero. - Nos levantamos, descemos a bendita escada e fomos até o carro. Ela colocou no YouTube e colocou suas músicas, seus funks, mas em um tom meio baixo.
- Te achei bem estranha no primeiro dia que te vi. - Ela falou na minha cara, acredita?
- Eu te achei estranha também.
- Você babou em mim.
- Babei em você? Claro que não.
- Você estava indo pra casa, e eu estava bem na esquina. Você me encarou, mas voltou a andar com essa cara de cu. - Então era ela, a garota sinistra.
- Eu não estava babando em você, estava com medo de você. - Fui sincera o suficiente, e ela, apesar de tudo, parecia que tinha entendido.
- Medo de mim? Eu sou uma fofa.
- Fofa? Você é uma cretina. - O clima no carro estava bom. Na realidade, eu dormi. Na verdade, cochilei, e quando acordei, ela estava na rua fumando. Já estava meio que de manhã, o sol estava nascendo. Eu me joguei no banco e fiquei olhando. Quando ela terminou, entrou no carro, me encarou e começou a dirigir. Em poucos minutos, já estávamos em frente de casa.
- Obrigada por me trazer. - Dei um beijinho na sua bochecha, abri a porta do carro e saí. Peguei a chave da porta, a abri, mas ela só saiu depois que eu entrei. Subi pro meu quarto, tomei um banho e desmaiei. Estava exausta.
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O enigma da paixão
Roman d'amourNão é possível que eu realmente esteja gostando dessa garota..