Sabrina Gonçalves
A primeira aula foi de geografia, e sinceramente não faço a menor ideia do que foi a aula. Assim que ela acabou, as pessoas começaram a fazer suas duplas e adivinha? A minha faltou. Quando a professora Janaína entrou, já exclamou:
— Sentem com suas duplas. — bufei e quase tive um treco. Até pensei em mandar mensagem para ela, mas depois desisti. Peguei meu caderno na bolsa e o estojo, coloquei meus fones e comecei a tentar escrever alguma coisa, mas assustei com alguém me "cutucando" com o dedo. Quando olhei para cima, lá estava ela, Lívia.
— Que susto, garota.
— Deveria ser menos distraída. E aí, o que você está fazendo? — ela pegou uma cadeira, colocou de frente para a minha mesa e começou a me encarar. Deve ter entrado na segunda aula, por que será ein?
— O poema. A gente precisa pensar em um assunto legal.
— Tem alguma ideia? — ela estava prestando tanta atenção que fiquei até com vergonha. Ela não desviava o olhar nunca.
— Não faço a menor ideia. Tem que ter a ver com amor.
— Sexo. — ela falou tão direta e tão séria que eu soltei uma risada.
— Você não pode estar falando sério.
— Estou. Sexo faz parte do amor e, convenhamos, é a melhor coisa do mundo.
— Acho que não é tudo isso. — falei como se tivesse alguma experiência.
— Então você é louca ou é virgem. — tentei fugir do olhar dela, mas ela foi mais rápida, fez uma cara de dúvida e deve ter pensado "mentira que ela nunca transou", mas graças a Deus não me perguntou nada.
— Vamos pensar em outra coisa. Romeu e Julieta, que tal? É um clássico.
— Certeza que algum idiota já deve ter pensado nisso. Temos que ser diferentes.
— Eu não vou falar sobre sexo.
— Vamos fazer o seguinte: cada uma faz de um tema. O que ficar melhor, a gente escolhe, mas temos que ser verdadeiras, ouviu? — ela dizia com um ar de graça.
— Sim, senhora. Eu prometo. — tentei parecer uma soldada, e ela sorriu. Inclusive, seu sorriso é lindo, branquinho e super apaixonante, até parece que suga a sua alma. Ficamos sérias, e eu comecei a mexer no celular. Ela continuava me encarando, até que me perguntou:
— Você vai na festa do Pedro? — minha mãe ligou para a tia Fernanda, e ela disse que Keth poderia dormir em casa. João iria também, então até o momento eu iria sim.
— Sim, e você?
— Acho que ele não quer me ver. — ela falou como se fosse óbvio.
— Você tá pegando a ex dele, queria o quê. — PUTA QUE PARIU, SABRINA! Nem eu acreditei que havia soltado isso, e ela também demorou para entender essa barbaridade. Ficamos um tempo em silêncio, e a vergonha voltou. Isso foi terrível.
— As fofocas correm nessa escola. — ela parecia ter levado na esportiva, UFA.
— Me desculpe, mas é que a Isadora tem uma faminha e minha amiga não gosta muito dela.
— Por que sua amiga não gosta da Isadora? — ela parecia estar curiosa. Meu Deus do céu, estou apenas falando coisas que não deveria e ela parece querer saber de verdade. E agora, o que eu poderia fazer? Eu não tenho coragem de falar da "namorada" dela e ainda falar mal.
— Você promete que não vai falar que fui eu que te contei? — ela parecia não entender. — Tô falando sério, se não eu morro, tá me entendendo? — ela riu, COMO ASSIM ELA RIU?
— Prometo de dedinho. — ela esticou seu mindinho, e eu estiquei o meu e selamos o pacto.
— A minha amiga, Kethelyn, ficava com o Pedro. Eles estavam quase namorando, para você ter uma ideia, e aí, do nada, ele a trocou pela Isadora. Claro que odiamos mais ele do que ela, mas a Isadora nos conhece desde o parquinho. Acho que esperávamos um pouco de consideração da parte dela, mas não aconteceu. — ela ficou em silêncio, tentando assimilar tudo. Seu rosto ficou até engraçado.
— Sua amiga é a mina que arrancou um tufo de cabelo da Isadora? — pela sua reação, não aguentei e gargalhei, fazendo as pessoas olharem para nós, mas fiquei sem graça e parei de sorrir.
— Sim, é ela mesma. — ela parecia surpreendida e, bom, não sabia que ela teria essa reação. Ficamos em silêncio o resto da aula, não tínhamos assunto. Quando as aulas trocaram, era a hora de artes e, bom, nessa aula cada um podia escolher a arte que queria fazer. Eu escolhi as telas, e ela a cerâmica.
— Vamos ver quem faz a arte mais diferente? — ela falou mais alto que pôde, estávamos um pouco longe uma da outra.
— Vamos... — dei o meu máximo, eu juro. Me empenhei ao máximo, ficava olhando para ela, mas não conseguia entender o que ela estava tentando fazer. Então comecei a focar no meu. Quando acabei e olhei para trás, ela tinha feito uma vagina, e isso mesmo, uma VAGINA.
— VOCÊ É MALUCA — exclamei, e fui caminhando até a sua mesa para ver se era real. Quando cheguei perto, pude reparar os detalhes. Ela tinha feito tão igual à realidade que eu estava "encantada".
— Vou chamá-la de Sagina, é uma homenagem para você. — gargalhei, que menina ridícula. — Não fode, garota. — voltei para a minha mesa e percebi que, comparado ao dela, o meu era extremamente sem graça. Então troquei de tela, iria recomeçar de novo. Mas o que seria mais original que uma vagina?
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O enigma da paixão
RomanceNão é possível que eu realmente esteja gostando dessa garota..