Capítulo 20

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Sabrina Gonçalves

Acordar com medo de ir para a escola nunca foi uma realidade para mim, mas hoje, infelizmente, se tornou. Mesmo assim, me mantive forte. Coloquei minha calça jeans preferida, o uniforme, e finalizei o cabelo como qualquer outro dia. Não quis passar maquiagem, e minha mãe me levou hoje, o que normalmente era feito pelo meu pai. Como já disse, este talvez não seria um dia comum na minha vida. Entrei na escola, fui para o meu armário, peguei tudo que precisava e fui para a sala. Não vi Kathelyn nem João, mas eles disseram que viriam, então talvez só estavam atrasados. Minha sala, como sempre, só tem estranhos, mas a mais estranha sentava atrás de mim. E lá estava ela. Não a cumprimentei nem nada do tipo, ainda estava com vergonha de sábado. Então me sentei o mais quieta possível, mas é claro que ela me notou.

— Dormiu comigo hoje? — Virei para trás e ela estava com aquele sorriso irônico de sempre.

— Você não se cansa?

— De te encher? Jamais!

— Você é uma cretina.

— Você já disse isso, mas o que vai fazer sábado?

— Sair com você que não vai ser.

— Que grossa, ia te chamar pra me ajudar.

— Vou pensar no seu caso. — Me virei para frente, porque a professora de português já havia chegado, e eu gosto dessa matéria e dessa professora. Ou seja, é uma das aulas em que mais presto atenção. Na segunda aula, pedi para ir ao banheiro e, quando ela autorizou, saí da sala e fui para lá. Infelizmente estudo no terceiro andar e tenho que descer para o segundo, o que acho um inferno, pois no terceiro tem um banheiro feminino e masculino. Assim que entrei, dei de cara com Isadora se olhando no espelho enquanto passava seu gloss. Tentei ser a pessoa mais invisível do mundo, mas, infelizmente, ela me notou.

— Oi, Sabrina, não tem educação não? — Sua voz aveludada me dava medo, mas eu não iria transparecer isso.

— Desculpa, mas não consigo fingir que gosto de alguém. — Ela veio se aproximando, e estávamos tão perto que eu já estava agoniada.

— Aprendeu isso com quem? Com a Lívia? Porque, pelo visto, vocês estão bem amigas. — Seu deboche era tão superior ao meu.

— Talvez, mas não é da sua conta. Agora tem como você sair da minha frente, fofinha? — Ela odiou esse apelido, mas saiu da minha frente, e eu entrei em uma das cabines. Alguns segundos depois, a porta do banheiro foi batida, mas eu suspirei tão forte que saí até ar que eu não fazia ideia que existia em meus pulmões. A vontade de ir ao banheiro até passou.

{...}

O intervalo chegou, e eu fui para a fila da cantina. Estava com fome e sabia que João e Kathelyn estariam lá. Assim que os vi no começo da fila, fui até lá e furei a fila.

— Achei que vocês tivessem faltado.

— Até parece que minha mãe ia deixar — a garota estava escolhendo o que iria comer, seu olhar vagando sobre a mesa de salgados.

— Preciso contar uma coisa para vocês, mas não me julguem.

— Quando você começa assim, é porque teremos motivos para te julgar — João acrescentou, me olhando de cima a baixo.

— Acho que vocês vão ficar chocados. — Pegamos os nossos lanches e a Coca, eu peguei uma barra de chocolate. Fomos até a mesa onde sempre sentávamos, que era um pouco no canto do refeitório, mas não tão escondida.

— Diz aí, garota, que merda você fez? — Kathelyn foi direta.

— Beijei a Lívia. — No mesmo momento, eles pareciam chocados. João quase engasgou com sua bebida, e a garota até parou de comer seu salgado.

— Diz que é uma pegadinha, cadê as câmeras? — o garoto realmente estava procurando por alguma câmera.

— Para de ser bobo. Na verdade, eu fui usada para afastar a Isadora. Nem foi com outras intenções.

— Quem te disse isso? A Lívia? Se ela te beijou, é porque tem sentimento sim, ou tinha. Só vocês estavam lá onde se beijaram?

— Estávamos em uma festa.

— Ela poderia beijar qualquer pessoa, mas beijou você. Só se aproveitou da situação. — Kathelyn parecia convicta, e João mais ainda. Eles me fizeram começar a pensar. Não estavam mentindo. Tinha tanta gente naquela festa, e eu tenho certeza de que muitas garotas ficariam com ela. Mas eu tentei não pensar muito nisso, terminei de comer e não demorou muito para o sinal tocar e o intervalo acabar. Tivemos que ir para a sala. Fiz algumas anotações durante as aulas, mas, quando o sinal final tocou, saí da sala e fui para o lado de fora esperar Kathelyn e João, mas Lívia chegou antes.

— Você não quer uma carona? Estou de carro hoje. — Ela balançou suas chaves, e, sinceramente, eu pensei em dizer não, mas eu não morava tão perto da escola e, convenhamos, estava um calor do caralho, então eu disse:

— Não vai te atrapalhar?

— Claro que não, vamos! — Ela me puxou pela mão, e fomos até seu carro, que era um carrão. Entrei nele, coloquei o cinto e ela fez o mesmo. Depois, ela ligou as músicas e fomos em silêncio até a minha casa. Quando enfim chegamos, ela quebrou o silêncio.

— Posso te dar carona de manhã se quiser.

— Não precisa, meus pais me levam todos os dias. Mas obrigada por oferecer. — Dei um beijinho em sua bochecha e, antes de sair, disse:

— Muito obrigada de novo.

— Estou à sua disposição, gatinha. — Beijei sua bochecha, bati a porta, fui até a entrada de casa e, como da outra vez, ela só saiu com o carro depois que eu entrei.

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